Cherreads

Chapter 14 - Capítulo 14 – Salvem as Crianças

Zhuge Jian retornou ao condado de Shuiniu e começou a organizar os documentos sobre sua mesa. Sua vida ali nunca fora fácil, e ele já havia decidido renunciar ao cargo de inspetor distrital. Ainda assim, como um homem meticuloso, queria deixar tudo em perfeita ordem para que seu sucessor pudesse assumir as tarefas do condado sem problemas.

"Senhor, sobre os acontecimentos próximos à Vila Huangpo e a vida do mestre de talismãs Chen Yindu — eu já investiguei tudo e preparei os relatórios."

Um dos oficiais entrou apressado na sala, entregando um maço de documentos.

"Senhor, a Vila Huangpo pertence ao condado de Xinxian, não está sob nossa jurisdição. Se nos envolvermos em assuntos de outro condado, isso pode trazer complicações."

"Entendido. Pode sair."

Zhuge Jian acenou com a mão, mas logo se lembrou de algo.

"Ah, mais uma coisa: ninguém deve comentar nada sobre este caso. Mesmo que o vice-magistrado pergunte, você não viu nem ouvi nada, entendeu?"

O homem se curvou e saiu.

Zhuge Jian abriu os relatórios e começou a ler. À medida que avançava, suas sobrancelhas se franziram cada vez mais, como se dois fios de corda estivessem sendo torcidos e amarrados em um nó impossível de desatar.

"Essa pequena Vila Huangpo… como pode ter acontecido tanta coisa por lá? E desaparecerem tantos especialistas?"

Ele prendeu a respiração, surpreso.

Qualquer um desses casos, se tivesse ocorrido no condado de Shuiniu, já seria considerado um grande incidente!

Somente os casos de desaparecimento já somavam mais de dez — e todos os desaparecidos eram figuras notáveis!

"Li Xian de Quanzhou, He Qinghe de Danjiang, a segunda senhorita da família Zhao, Lin Feishuang da família Lin, e o mestre do estágio Yuan Ying, Xiao Zhu…"

Zhuge Jian sentiu o couro cabeludo formigar. Todos eles haviam desaparecido nos últimos dois anos.

"Há rumores de que existe um túmulo real em Qianyang Shan. A maioria dessas pessoas deve ter sido atraída pela lenda e foi explorar o local em busca de tesouros — e acabou sumindo. Explorar túmulos sempre foi perigoso, ainda mais se for um túmulo real. Isso não é estranho.

Mas o que me intriga é: por que tantos desapareceram justamente nos últimos dois anos?"

Os olhos de Zhuge Jian brilharam.

"Se tantas pessoas sumiram nesse período… então é provável que exista um demônio assassino naquela região, alguém que mata sem piscar!

Será que esse alguém é o mestre de talismãs Chen Yindu?

Ele teria mesmo força suficiente para eliminar tantos especialistas assim?

Ou será que seu verdadeiro objetivo é monopolizar as riquezas do túmulo real?"

Ele continuou lendo.

Segundo os registros, Chen Yindu era apenas um mestre de talismãs comum, que vivia de vender seus amuletos e parecia ser um homem pacato e obediente à lei, sem qualquer histórico de comportamento anormal.

Tinha um filho chamado Chen Tang, que trabalhava na capital da província e raramente voltava para casa.

E também um neto — que morrera há muito tempo, mas que, dois anos atrás, teria ressuscitado. Desde então, era descrito como travesso, insolente e malquisto por todos…

Zhuge Jian arregalou os olhos e releu várias vezes, confirmando que não havia entendido errado.

Estava escrito claramente:

O neto de Chen Yindu, filho de Chen Tang, havia morrido há muito tempo, mas de repente voltou à vida!

"Nas aldeias, há muitos casos de possessão demoníaca. É provável que algum espírito maligno tenha tomado posse do cadáver!"

Zhuge Jian respirou fundo e murmurou:

"Entidades malignas são classificadas em cinco níveis: Xie (mal), Sui (espírito inquieto), Mo (demônio), Zai (calamidade) e E (desastre).

Aquela que possuiu o corpo do neto de Chen Yindu deve ser de nível Xie ou Sui, ainda longe de alcançar o estágio de Mo.

Se for assim, os desaparecimentos dos últimos dois anos provavelmente estão ligados ao neto de Chen Yindu."

Ele continuou lendo:

"O nome do neto é Chen Shi."

Zhuge Jian piscou — Chen Shi… Chen… Cheng Shi (honesto)?!

Ele saltou de repente, quase deixando os papéis caírem.

"Esse Chen Shi é o mesmo garoto que matou Li Xiaoding e os outros oito — o mesmo jovem que salvou os ossos das três crianças afogadas e os devolveu às famílias!"

"Agora faz sentido por que nunca ouvi falar de alguém com o sobrenome 'Cheng'. O sobrenome verdadeiro é 'Chen' — ele é neto de Chen Yindu!"

Um arrepio percorreu sua espinha.

Mas algo ainda o intrigava.

Se Chen Shi realmente tivesse sido possuído por um espírito maligno, os moradores da Vila Huangpo já teriam sido devorados há muito tempo!

Na verdade, toda a região em volta teria sido massacrada.

Mas o garoto parecia bondoso, até compassivo — definitivamente não agia como alguém tomado por um demônio.

Zhuge Jian voltou a se sentar e retomou a leitura.

"De acordo com os moradores, há cerca de meio mês, Chen Yindu morreu…"

"Chen Yindu… morreu também?!"

Ele parou, respirou fundo e continuou lendo.

"No segundo dia após o enterro, o cadáver de Chen Yindu se levantou do caixão. Começou a comer velas, aspirar a fumaça do incenso e dormir dentro do caixão. Desde então, animais domésticos na vila começaram a morrer, drenados de todo o sangue.

Os moradores acreditam que ele se tornou um corpo amaldiçoado, um morto-vivo — um jiangshi."

Zhuge Jian sentiu os cabelos se eriçarem.

"Então o verdadeiro espírito maligno é Chen Yindu!"

Mas logo refletiu:

"Se ele virou um jiangshi, em quinze dias já teria devorado todos os animais — e também as pessoas. Por que o primeiro a morrer não foi o próprio neto, que estava ao seu lado?"

Nada fazia sentido.

"Será que Chen Shi também é um jiangshi? Ou ambos foram possuídos por espíritos, e por isso não se atacam? Mas não — Chen Shi parece completamente vivo… então talvez seja um Sui. Mas suas ações não condizem com isso…"

Essa dupla de avô e neto era extremamente estranha.

Ambos pareciam esconder muitos segredos.

"Os desaparecimentos desses dois anos certamente têm relação com eles. E como as vítimas são de famílias influentes, isso não vai terminar bem."

O nome da capital da província de Xinxian era Di Xiang — também chamada de Cidade Imperial.

E mexer com alguém de Di Xiang… era o mesmo que desafiar o próprio Céu.

Zhuge Jian colocou sua carta de renúncia sobre a mesa, pronto para ir embora, mas depois voltou atrás.

"Quem age em nome do Céu… não é culpado."

Ele acendeu um fósforo e queimou os documentos que mencionavam o avô e o neto Chen.

Enquanto as cinzas se desfaziam, murmurou:

"Independentemente de estarem ou não envolvidos nos desaparecimentos, Chen Shi é alguém que age pela justiça divina."

Virou-se e saiu da sala.

"Se este lugar não me quer, há de haver outro que queira! Este condado, este cargo — podem ficar com eles!"

O vice-magistrado de Shuiniu, Li Kefa, leu a carta de demissão com expressão sombria.

Rasgou-a em pedaços e disse friamente:

"Zhuge Jian não passa de um cão da família Li. E agora acha que é alguém importante? Se ele não quer o cargo, há muitos que querem!"

Imediatamente mandou abrir um novo processo seletivo.

Candidatos apareceram em massa — até estudiosos de mais de dez condados vizinhos vieram tentar a sorte, sonhando com um posto estável no governo.

Entre eles, Li Kefa escolheu um homem chamado Qu Ji como o novo inspetor.

Logo que assumiu, Qu Ji reuniu os oficiais do condado e iniciou uma nova investigação.

Pouco tempo depois, descobriu que, no mesmo dia do assassinato de Li Xiaoding, o mestre de talismãs Chen Yindu estava vendendo amuletos na Vila Yandang.

Um oficial comentou:

"Senhor Qu, o antigo inspetor Zhuge disse que o assassino era um mestre de talismãs de estatura baixa, cerca de cinco pés, mas Chen Yindu é um homem alto e robusto. É improvável que seja ele."

Qu Ji deu uma risada fria:

"Quem é o inspetor agora — Zhuge Jian ou eu? Naquele dia, só havia um mestre de talismãs em Yandang, e esse era Chen Yindu. Se não foi ele, quem mais poderia ser?"

Ele relatou suas conclusões a Li Kefa, que reuniu mais de cinquenta homens — oficiais e guerreiros da família Li — e partiu rumo à Vila Huangpo.

Mas o caminho até lá era longo, mais de cem li, e passava por montanhas sinuosas. Quando se aproximaram da vila, o céu já começava a escurecer.

"Senhor, o campo não é como a cidade. À noite, há criaturas malignas à espreita. Talvez devêssemos esperar até o amanhecer." — advertiu um velho oficial.

Qu Ji riu com desdém:

"Ignorância! Entre nós há trinta e quatro estudiosos que alcançaram o estágio Shen Tai e dezessete que atingiram Hua Shen. Além disso, temos o próprio Senhor Li conosco. Mesmo que um espírito apareça, será purificado por nossa luz divina antes de chegar perto!"

Li Kefa, tomado pelo desejo de vingança, ordenou:

"Continuem marchando!"

O grupo avançou sob o luar. Uma névoa branca começou a subir entre as árvores.

De repente, ouviu-se o choro de um bebê vindo da floresta.

Li Kefa franziu o cenho.

Qu Ji ordenou:

"Li Ying, vá ver o que é."

O oficial chamado Li Ying respondeu e ativou seu altar espiritual. Uma luz sagrada brilhou atrás de sua cabeça, iluminando o caminho.

Cauteloso, ele entrou na floresta, seguindo o som do choro.

Pouco tempo depois, sua voz ecoou:

"Senhor! Há muitos bebês abandonados aqui!"

Li Kefa e os outros se entreolharam, surpresos.

"Parece haver uns dez ou mais!" — gritou Li Ying.

"Dez… bebês?" Todos ficaram chocados.

Bebês abandonados não eram incomuns no interior — mães solteiras, famílias que preferiam meninos ou gente pobre demais para criar um filho.

Mas abandonar dez de uma vez? Isso era monstruoso!

Qu Ji logo ordenou:

"O Céu valoriza a vida. Já que o destino nos trouxe aqui, vamos salvar essas crianças! Dez de vocês, vão ajudar Li Ying e tragam todos os bebês!"

"Senhor, e se houver algo estranho nisso?"

"Obedeça e vá!"

Os homens seguiram em direção à floresta.

Qu Ji virou-se para Li Kefa e disse bajulador:

"Salvar dez bebês de uma só vez — que gesto de misericórdia, meu senhor! Quando isso se espalhar, todos louvarão sua bondade."

Li Kefa, pela primeira vez desde a morte de seu filho Li Xiaoding, esboçou um leve sorriso.

Salvar uma criança não causaria alarde algum na cidade, mas resgatar dez no meio da noite rural — isso sim se tornaria uma lenda. Seu nome ecoaria por toda a província!

"Quando a família Li souber da minha benevolência, certamente me promoverão. Sou jovem ainda — posso me casar de novo, ter mais filhos…"

Enquanto pensava nisso, ouviu novamente a voz de Li Ying:

"Senhor! Precisamos de mais homens, há ainda mais bebês aqui!"

Logo, outras vozes ecoaram da floresta:

"Senhor, tem muito mais crianças!"

O choro dos bebês aumentou — antes eram uns dez, agora pareciam trinta ou quarenta chorando ao mesmo tempo.

Li Kefa sentiu um arrepio.

Algo estava errado.

Mas o luar era tão bonito… tão prateado e hipnótico… Em meio às sombras das árvores, era fácil se perder.

Qu Ji também começou a franzir o cenho.

"Senhor… há algo estranho aqui…"

Li Kefa sacudiu a cabeça, afastando o torpor, e ordenou em voz baixa:

"Preparem o feitiço da Espada Solar-Lunar Purificadora! Sigam meu comando!"

Esse feitiço condensava energia espiritual em espadas invisíveis de luz pura — uma técnica que todo estudioso deveria dominar.

Os oficiais concentraram-se. O ar diante deles começou a vibrar levemente, embora nenhuma espada pudesse ser vista.

Qu Ji gritou:

"Li Ying! Tragam as crianças primeiro, depois iremos ajudar!"

"Sim, senhor!" — respondeu Li Ying. Logo, passos soaram e o choro ficou mais próximo. Sob o luar, viram sombras se movendo entre as árvores.

Momentos depois, dez figuras emergiram da floresta — eram Li Ying e os outros oficiais, cada um carregando um bebê nos braços.

Eles deram apenas dois passos para fora da mata e pararam.

"Senhor, há ainda mais crianças lá dentro! Precisamos de ajuda!" — disseram.

O choro aumentava vindo das profundezas da floresta.

Li Kefa e Qu Ji se entreolharam, hesitantes.

Qu Ji gritou:

"Primeiro tragam os que já estão com vocês!"

Mas Li Ying e os demais não se moveram — apenas continuaram pedindo que o grupo entrasse para salvar mais bebês.

Qu Ji franziu o cenho e estava prestes a falar novamente, quando Li Kefa ordenou:

"Qu Ji, vá ver de perto. Há algo errado com eles."

Sem alternativa, Qu Ji avançou cautelosamente.

Os oficiais diante dele, cada um com um bebê nos braços, acenavam de forma rígida, dizendo:

"Senhor Qu! Venha salvar as crianças, rápido!"

Quanto mais se aproximava, mais o coração de Qu Ji batia descompassado. Algo neles parecia… errado.

De repente, ele parou e gritou:

"Li Ying! Traga essas crianças até—"

Mas antes que pudesse terminar a frase, um estrondo ecoou da floresta.

Do meio das árvores, uma criatura de quatro patas se ergueu lentamente — tinha dezenas de pescoços finos e longos como serpentes, e em cada extremidade havia uma cabeça de bebê chorando!

Muitos dos "bebês" nos braços dos oficiais também começaram a se alongar, revelando que seus corpos faziam parte da mesma criatura!

A monstruosidade soltou um rugido profundo e grotesco:

"Salvem as crianças!"

Centenas de cabeças de bebê choravam em coro, contorcendo-se no ar, estendendo as mãos miúdas em direção a Qu Ji e seu grupo.

Enquanto isso, os corpos dos oficiais — agora sem os "bebês" nos braços — começaram a murchar e desinflar como peles vazias.

Foi então que perceberam, horrorizados, que Li Ying e os outros não passavam de cascas humanas — suas carnes e ossos haviam sido devorados pela criatura, que inflara suas peles para fazê-las parecer vivas!

Há pouco, eles riam e falavam como pessoas normais… mas tudo não passava de uma encenação macabra da própria besta.

More Chapters