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Chapter 17 - Capítulo 17 — Não Faça Xixi na Cama

Chen Shi voltou para casa ainda atordoado.

O avô o chamou para comer; ele deu apenas duas garfadas antes de largar os talheres e cambalear de volta para o quarto, onde caiu de costas na cama, os olhos fixos nas vigas do teto.

"Seu moleque, vai comer ou não? Se não quiser, vou dar pra cachorro!"

O avô jogou a comida diante da panela preta.

A Panela Preta cheirou, abanou o rabo e se virou para ir embora.

"Criatura criada em casa… será que não sabe se a comida tá boa ou não…"

Ao ouvir isso, a Panela Preta voltou com o rabo abanando e um sorriso sem vergonha, cheirou de novo e até abriu a boca pra comer, mas logo desistiu, incapaz de engolir, e saiu com o rabo entre as pernas.

"Hoje a comida realmente ficou exagerada. Praticamente só tem ervas medicinais, nada comestível."

O avô franziu ligeiramente o cenho, refletindo:

"Preciso me conter da próxima vez. No mínimo, tem que ser algo que até o cachorro consiga comer. Se o cachorro prefere morrer de fome, o Xiao Shi com certeza também não vai comer."

Quando chegou a hora do jantar, Chen Shi se levantou, desanimado.

A montanha deserta e o velho templo eram o único lugar que ele havia encontrado onde podia cultivar de forma adequada. Agora, aquele lugar havia sido despedaçado por um meteorito.

Se dependesse apenas da luz das estrelas para cultivar, quem sabe quanto tempo levaria para deixar de ser um inútil?

Ele queria refazer o exame de xiucai e depois tentar o de juren, para mudar de vida e, no mínimo, conseguir dinheiro suficiente para sustentar o avô.

O avô estava envelhecendo, e ele não queria que o velho ainda precisasse correr de um lado pro outro cuidando de um neto inútil.

Mas agora, por causa de uma pedra caída do céu, todos os seus sonhos haviam se tornado fumaça.

Ele se sentia perdido.

Mesmo assim, a vida tinha que continuar.

Logo ele saiu desse estado, pois o avô preparou um jantar farto.

Dessa vez, a comida não tinha gosto estranho de ervas — só estava excessivamente salgada, mas fora isso, não havia defeito algum.

Era a primeira refeição em dois anos que tinha um gosto quase normal.

Após algumas mordidas, os olhos de Chen Shi se avermelharam; ele quase chorou.

"Está muito salgado?"

O avô, de costas para ele diante do altar, tinha um olho extra no ombro observando o neto. Ao ver sua reação, perguntou:

"Talvez tenha passado um pouco do sal. Já não sinto gosto de nada."

Ele havia perdido completamente o paladar — até velas ele comia como se fossem banquetes.

Chen Shi balançou a cabeça:

"Não está salgado. Está ótimo."

O avô sorriu:

"Quem suporta o amargo, alcança o topo. À noite, a dose de remédio será dobrada."

Chen Shi abaixou a cabeça e continuou comendo. Depois de um tempo, ergueu os olhos e disse:

"Vovô, o templo em que dormimos naquela noite foi destruído. Uma pedra caída do céu partiu a montanha."

"Essas coisas são tão comuns em Xiniu Xinzou quanto pelos em vaca. Pra que se preocupar?" — respondeu o velho, mastigando uma vela, indiferente.

"Já aconteceu muitas vezes algo assim?"

"Sim. Muitas."

Após o jantar, sem que o avô precisasse mandar, Chen Shi recolheu as tigelas e limpou tudo com diligência.

Depois do banho de ervas, começou a cultivar a Energia Justa dos Três Brilhos, enquanto, no quarto ao lado, ouvia a voz do avô usando um talismã de comunicação à distância para falar com seu pai.

O velho repetia a mesma ladainha: dizia a Chen Tang que já estava velho e sem muitos dias de vida, e queria que o filho levasse Chen Shi para a cidade.

Mas, do outro lado, vinham apenas desculpas.

O avô então perguntou se o filho voltaria para o Ano Novo.

Mais desculpas.

Quando o talismã queimou completamente, o quarto ficou mergulhado na escuridão, restando apenas um longo suspiro.

"Ah Tang… eu realmente não vou durar muito. Estou preocupado com o Xiao Shi…"

No pátio, Chen Shi ouviu, abatido, e voltou ao cultivo — mas seu progresso era muito mais lento do que quando praticava no velho templo.

Tarde da noite, ele deitou, olhando fixamente para o teto escuro. Só depois de muito tempo conseguiu adormecer.

A Panela Preta ouviu sons vindos do quarto e virou as orelhas, curiosa.

"Vovô, não precisa se preocupar comigo. Eu posso cuidar de mim mesmo…"

A Panela Preta ficou intrigada. O velho já havia saído — com quem o garoto estava falando?

O cachorro empurrou devagar a porta com o focinho e espiou.

"Vovô, eu não sou um inútil. Não vou mais ter crises. Eu vou ficar bom. Vou passar no exame de xiucai, e depois no de juren…"

Na cama, Chen Shi dormia inquieto, murmurando:

"Vou te dar uma vida boa… Eu não gosto do papai, nunca o vi. Vovô, por favor, não me mande embora… Não me mande, eu prometo ser um bom neto…"

A Panela Preta observou por um tempo. Quando o garoto se virou e parou de falar, o cachorro se aproximou, puxou o cobertor e o cobriu novamente, depois saiu em silêncio, fechando a porta com o aro entre os dentes.

Na manhã seguinte, o avô já tinha preparado a carroça para sair.

Chen Shi, nervoso, perguntou:

"Vovô, pra onde o senhor vai?"

"À cidade do condado comprar remédios. O estoque acabou."

"Então o jantar de ontem estava gostoso porque… não tinha mais remédio em casa?"

"Hum. Voltarei à tarde. Não vá perambular por aí."

O velho subiu na carroça, segurando uma bússola, e acrescentou:

"Se ficar com fome, aguente. À noite, trago algo bom da cidade pra você."

Chen Shi assentiu, animado.

A carroça de madeira rangeu até sumir da vila.

Depois de ir fazer oferendas à madrinha espiritual, ele cultivou um pouco mais — e logo sentiu fome. Então roubou alguns ovos de pato da casa dos Yu Zhu, umas batatas-doces e uma melancia. Satisfeito, voltou pra casa.

Na árvore perto da vila de Huangpo, sua madrinha espiritual o observava com olhos negros e redondos, segurando um fruto vermelho e o acenando para ele.

"Quer me envenenar enquanto o vovô não tá, é isso?"

Chen Shi deu um sorriso frio, entrou em casa e pegou papel, pincel e tinta — pretendia desenhar alguns talismãs para vender em segredo.

"Panela Preta, somos bons irmãos, não somos?" — perguntou ele, sorrindo, com uma das mãos escondida atrás das costas.

O cachorro recuou cauteloso, já adivinhando o que viria.

Chen Shi se lançou sobre ele, revelando a faca escondida:

"Um bom irmão deve estar disposto a se sacrificar pelo outro… por que não me ajuda um pouco? O seu sangue é mais poderoso que o meu… Vou desenhar talismãs e vender, dividimos o dinheiro, que tal?"

Enquanto brigavam, fazendo um barulho infernal, alguém bateu violentamente à porta. Logo ela se abriu, e um homem coberto de poeira entrou.

Vestia roupas grosseiras de linho, sandálias de palha gastas, e ficou pasmo ao ver um garoto e um cachorro se debatendo.

"É aqui que mora o Mestre Chen dos Talismãs?"

O homem hesitou e disse:

"Nossa vila está com um problema! Há um espírito maligno! Já sumiram várias crianças! Pedimos ajuda ao Mestre Chen para expulsar o mal!"

Chen Shi largou o cachorro, levantou-se e respondeu:

"Meu avô foi à cidade comprar remédios. Só volta à tarde."

O homem demonstrou desespero:

"E agora? Se esperarmos até à tarde, talvez todos estejam mortos!"

"Hmm… essa ajuda vem com recompensa?"

Os olhos de Chen Shi brilharam:

"Tem prata?"

O homem tirou algumas pequenas lascas de prata, umas cinco taéis no total, e respondeu hesitante:

"Foi tudo que conseguimos juntar na vila…"

Chen Shi arrancou a prata da mão dele e sorriu:

"Meu avô é Mestre Chen dos Talismãs — e eu também sou! Negócio fechado! Espere um pouco, vou me preparar e vamos."

O homem ficou boquiaberto enquanto Chen Shi corria animado para dentro, seguido pela Panela Preta.

De lá, vieram latidos e a voz do garoto, como se conversassem:

"Au! Au, au!"

"Eu sei que não tenho energia espiritual nem sei feitiços, mas sei desenhar talismãs."

"Au, au! Au, au, au!"

"Não se preocupe, vai dar tudo certo. Salvar uma vida vale mais que construir sete templos. E além disso, várias crianças já desapareceram."

"Au…"

"Tá dizendo que é estranho haver um espírito agindo durante o dia, não é? Eu também acho. Mas essa prata eu preciso ganhar. Da próxima vez que encontrar um templo abandonado, terei dinheiro para reformá-lo sem pedir nada ao vovô."

"Au?"

"Estou pensando… Se aquele templo não fosse tão destruído, talvez a luz do sol não tivesse atraído o olhar dos céus, e ele não teria sido destruído. Eu poderia continuar cultivando…"

Pouco depois, Chen Shi saiu com uma enorme caixa de livros nas costas — maior que ele — cheia de coisas, pesando uns vinte quilos, mas ele carregava como se fosse leve.

"Panela Preta, vou deixar uma carta para o vovô, contando pra onde fui."

Ele escreveu uma carta e entregou ao cachorro:

"Quando ele voltar, entregue isso pra ele. Se eu estiver em perigo, ele deve vir me resgatar na vila de Huangyang."

A Panela Preta correu até o altar central, colocou a carta sob o memorial do avô e voltou trazendo uma pequena faca, indicando que Chen Shi a levasse — se algo desse errado, talvez o sangue do cachorro pudesse afastar o mal.

Chen Shi entendeu a preocupação e deixou que ele o acompanhasse.

O homem seguiu à frente, guiando o caminho, e os três partiram rumo à vila de Huangyang.

A vila ficava ao norte da Montanha Qianyang — não era longe em linha reta, mas o caminho montanhoso era difícil, cercado por florestas cheias de feras.

Durante o trajeto, Chen Shi foi se inteirando da situação.

Havia uma velha casa abandonada na vila, antes habitada pela família Tian — oito pessoas no total. Certa noite, todos morreram subitamente: homens, mulheres, crianças e até os animais — galinhas, patos, gatos e cachorros — todos mortos.

O governo não investigou. Coisas assim eram comuns demais no interior, e logo virou um mistério esquecido.

Com o tempo, surgiram boatos de que a casa era assombrada, e ninguém mais se aproximou.

"Um dia, um garoto travesso pulou o muro e foi possuído. Começou a rir e chorar, murmurando: 'Quem fizer xixi na cama, eu como; quem fizer xixi na cama, eu como…'"

O homem contou:

"Colamos talismãs de pêssego, mas não adiantou. A mãe do menino fez oferendas à madrinha espiritual, também sem resultado. Naquela mesma noite, aconteceu outra tragédia."

Chen Shi perguntou, atento:

"O que aconteceu?"

"Uma criança que fez xixi na cama foi levada."

O rosto do homem se contorceu:

"O pai viu uma sombra enorme na parede, uma boca gigante se abrindo, uma língua longa se esticando… e num instante, seu filho sumiu."

O coração de Chen Shi disparou.

Um espírito que come crianças que fazem xixi na cama?

Que coisa mais macabra!

"Ontem, desapareceram mais dois. As famílias estão com tanto medo que nem deixam as crianças beber água, com medo que urinem à noite. Alguns até as acordam no meio da noite pra irem ao banheiro — mas mesmo assim, mais uma sumiu hoje. O filho do Velho Liu, o pequeno Fugui, estava urinando quando uma língua desceu do céu e o levou."

"Durante o dia?"

Chen Shi franziu o cenho. Um espírito ativo à luz do dia?

"E depois?"

"Depois… acho que foi devorado."

"E a madrinha espiritual da vila? Não interveio? Ela permite que um mal desses entre no vilarejo?"

O homem balançou a cabeça:

"Nem toda madrinha espiritual protege as pessoas. Algumas, se acham que recebem poucas oferendas, causam desgraças. Dizem que a família Tian foi morta justamente pela nossa madrinha. Que, naquela noite, ela deixou o espírito entrar e matar todos os oito — tudo porque a nora da família a ofendeu com palavras. Depois, ela apareceu nos sonhos dos aldeões, ameaçando: se não fizessem oferendas suficientes, teriam o mesmo destino."

Chen Shi franziu o cenho.

"Madrinhas espirituais não deviam ser benevolentes? Como podem fazer o mal?"

Quando chegaram à vila de Huangyang, o cenário era desolador — casas velhas de palha, moradores esfarrapados, rostos pálidos e magros, como refugiados.

Algumas crianças ainda brincavam. As mais medrosas se escondiam atrás dos pais; as mais ousadas gritavam pedindo água — provavelmente há dias sem beber.

"Um espírito que só come crianças que urinam na cama… Isso significa que ele é atraído pela urina infantil. Ou seja, o problema não é o xixi, mas o tipo de xixi — urina de criança pura. Eu ainda sou puro… espera, será que depois que cortaram meu corpo espiritual, ainda sou? Naquela época eu só tinha nove anos, então acho que sim…"

Enquanto pensava, alguém esbarrou nele — um garoto magro, de idade parecida, correu apressado.

O menino parou, se curvou envergonhado: tinha o nariz escorrendo, e o limpava com um "snif" barulhento.

"Não tem problema."

Chen Shi sorriu, generoso.

"Você não tem medo de mim?"

Se fosse uma criança da vila de Huangpo, já estaria de joelhos pedindo perdão.

O garoto magro o olhou curioso:

"Por que eu teria medo?"

Chen Shi lembrou das crianças que choravam e o chamavam de 'Chefe Chen' e riu gentilmente:

"Na minha vila, todas as crianças têm medo de mim. Ninguém quer brincar comigo."

O garoto coçou a cabeça:

"Então você não tem nenhum amigo?"

"Tenho sim — minha madrinha espiritual, a Panela Preta e o Xiucai. Todos são meus amigos."

Chen Shi sorriu.

O garoto também sorriu:

"Então… quer ter mais um amigo?"

Os olhos de Chen Shi brilharam.

Esse seria o primeiro amigo humano que ele fazia desde que acordara — e o melhor: ainda estava vivo!

Enquanto isso, os anciãos da vila cercavam o homem que viera buscá-lo.

Uma velha trêmula perguntou:

"Sanwang, você foi chamar o Mestre Chen. Cadê ele?"

"Mestre Chen não estava em casa, só o neto. É novo, mas também é um mestre de talismãs."

O homem respondeu em voz baixa:

"E com o pouco dinheiro que juntamos, não conseguiríamos outro. Cinco taéis de prata… quem mais aceitaria?"

Todos olharam para Chen Shi — que conversava animadamente com o nada, rindo como se houvesse alguém ali.

Sanwang, com coragem, perguntou:

"Mestre Chen, com quem o senhor está falando?"

"Com meu novo amigo!"

Chen Shi respondeu alegremente:

"Ah, e meu nome é Chen Shi — mas pode me chamar de Xiao Shi. E o seu?"

"Eu me chamo Liu Fugui." — respondeu o menino magro.

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