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Chapter 20 - Capítulo 20 – Quando dois caminhos se cruzam, o valente vence!

"Da capital da província? Procurando a jovem da família Zhao que desapareceu?"

Chen Shi lembrou-se da moça de roxo que ele enganara para levá-la à olaria — e que acabou transformada em porcelana.

A família Zhao, da província de Xinxiang, finalmente havia vindo procurá-la.

Não era de se admirar — afinal, a jovem de roxo costumava viajar acompanhada por mais de dez guardas de elite, o que mostrava seu alto status dentro da família Zhao. Tendo desaparecido por mais de dez dias, era natural que enviassem pessoas em busca dela.

"Pensando bem," murmurou Chen Shi, "já enganei mais de duzentas pessoas para a olaria… metade delas morreu. Por que será que ninguém nunca veio procurá-las?"

Ele afastou esses pensamentos e perguntou:

"Esse mestre de talismãs idoso passou a noite hospedado na casa abandonada da família Tian?"

San Wang balançou a cabeça:

"Ele dormiu no templo da madrinha."

O olhar de Chen Shi pousou sobre o templo no centro da aldeia. Com expressão sombria, murmurou:

"Hospedado no templo, então..."

As oferendas dentro do templo já haviam diminuído bastante. A grande estátua do deus obeso havia devorado quase todas, revelando seu corpo roliço, como uma montanha de carne.

Chen Shi desviou o olhar, pegou alguns pedaços de prata que San Wang lhe entregara e os contou na palma da mão. Depois separou um pedaço de mais de uma tael e devolveu ao rapaz.

San Wang olhou confuso.

"Pegue essa prata e enterre aqueles oito caixões," disse Chen Shi. "E também prepare caixões para as três crianças, para que possam ser enterradas decentemente."

Ele olhou para a entrada da vila e acrescentou:

"Depois traga dois banquinhos e coloque ali. Eu vou esperar alguém."

San Wang não entendeu o motivo, mas obedeceu.

Chen Shi foi até a entrada do vilarejo, sentou-se em um dos banquinhos e disse ao caldeirão preto ao seu lado:

"Fugui é meu amigo — meu único amigo vivo. Ele está gravemente ferido. Eu não posso simplesmente ignorar isso. O mestre de talismãs que o feriu teve seu ritual arruinado por mim quando derramei o óleo da lamparina. Ele deve estar furioso e certamente virá buscar vingança."

O caldeirão preto balançou o rabo, concordando.

"Esse mestre é poderoso," disse Chen Shi. "Talvez até mais do que o vovô. O velho já não tem a força de antes, talvez não seja páreo para ele."

O caldeirão hesitou, sem balançar o rabo.

Se Chen Shi tivesse visto o avô voando pelo céu na noite anterior, certamente não diria isso.

Chen Shi continuou:

"Em teoria, eu não devia ficar aqui esperando. O certo seria fugir — o mais longe possível, o mais rápido possível. Não é?"

O caldeirão assentiu seriamente.

Aquele mestre era perigoso demais — capaz de manipular talismãs à distância, transformando-os em criaturas simbólicas e quase vencendo Chen Shi.

Se não fosse pelos selos das Cinco Montanhas que ele havia preparado antes, já teria sido devorado pelos talismãs!

Enfrentá-lo de frente seria suicídio.

"Ele virá furioso," disse Chen Shi. "Com certeza já se preparou. Seus talismãs são estranhos e poderosos — não sou páreo para ele. Fugir seria a escolha mais sensata."

O caldeirão concordou, abanando o rabo.

"Mas… fazer isso seria errado!"

De repente, Chen Shi ergueu a voz:

"Caldeirão, isso é errado, não é? Matar quatro crianças só para refinar um maldito óleo de lamparina — isso é errado, não é? O mundo não precisa mais de justiça? Eu acho que precisa! Alguém tem que se levantar e gritar que isso é errado! Por isso… eu não posso fugir."

Ele olhou para as próprias mãos e murmurou:

"Eu não posso ir embora. Se eu for, o mestre voltará. Ele ainda vai capturar Fugui. Eu não posso ir. Tenho que ficar e esperá-lo. Eu sei que não posso vencê-lo, mas... alguém tem que fazer algo. Alguém tem que pagar o preço por isso!"

Seu coração fervia de indignação.

Ele queria lutar contra aquele mestre — espancá-lo até a morte!

"Se você não me matar, eu é que vou te matar!"

O caldeirão hesitou, mas não tentou dissuadi-lo.

Conhecia bem a teimosia de Chen Shi — parecia um burro: quando decidia algo, ninguém o fazia mudar de ideia.

Ainda assim, o caldeirão estava tranquilo. Chen Shi havia deixado uma carta para o avô. Quando o velho a lesse, certamente viria correndo à vila Huangyang.

Então, o avô lidaria com o velho mestre.

Enquanto isso, a dezenas de li dali, nos acampamentos ao sopé ocidental do Monte Qianyang, um ancião de cabelos brancos saiu furioso de uma tenda, amarrando rapidamente os talismãs de cavalo espiritual em seus pés.

"Moleque miserável! Arruinou meu trabalho!"

Ele rosnava de raiva:

"Passei anos preparando a Lâmpada da Longevidade e só faltava o último ingrediente — um garoto puro! Você destruiu meu óleo e quebrou meu caldeirão! Se eu não te transformar em óleo, esses setenta anos de vida terão sido em vão!"

Ele ativou os talismãs nos pés, e uma rajada o ergueu três ou quatro polegadas acima do chão.

"Velho Tiepibi, para onde vai?"

Uma voz o deteve. O velho parou e se virou rapidamente, forçando um sorriso.

"Ah, mordomo Zhao, o senhor não sabe… Vim investigar o desaparecimento da segunda senhorita e, aproveitando, preparava algo para presentear o mestre Zhao, buscando sua promoção. Mas um moleque do interior estragou tudo. Estou indo acertar as contas com ele."

O homem que falara era Zhao Ming, o administrador da Mansão Xuan Ying, da família Zhao de Xinxiang — um homem de meia-idade elegante, com um anel de jade e um pingente pendendo da cintura.

Zhao Ming abanou o leque e sorriu friamente:

"Um presente para o mestre? Não seria por acaso outra Lâmpada da Longevidade? Ainda tentando prejudicar inocentes, velho? O mestre aprecia seu talento em talismãs, não sua bajulação! Essas lâmpadas tiram vidas. Se você as criar, o nome da família Zhao será manchado. Quantas pessoas já matou?"

Tiepibi respondeu sem esconder:

"Apenas quatro."

"Quatro vidas humanas!" — Zhao Ming exclamou furioso. — "E o mundo culpará a família Zhao, não você! Chega! Pare com isso. Estamos aqui para encontrar a segunda senhorita, não para criar aberrações. Cadê o tal Selo de Busca de Alma que prometeu fabricar?"

Tiepibi rapidamente o entregou:

"Já está pronto, mordomo. Por favor, veja."

Zhao Ming examinou o talismã e comentou:

"O mestre confia em você. Ele acreditava que a segunda senhorita havia morrido no Monte Qianyang, mas você afirmou o contrário. Se conseguir encontrá-la, seu futuro estará garantido."

O velho ficou radiante — embora, na verdade, só tivesse dito isso porque a alma da moça não aparecia durante os rituais; por isso, deduziu que ela ainda estava viva.

"Já que o talismã está pronto," disse Zhao Ming, "vamos procurá-la agora. Deixe sua vingança para depois."

"Sim, senhor," respondeu o velho. "Mas já rastreei a direção onde a senhorita está. Vamos apenas nós dois ou chamamos mais gente?"

Zhao Ming sorriu:

"Quanto menos gente, menos recompensas a dividir."

Tiepibi entendeu a insinuação. Amarraram os talismãs nas pernas e partiram, deslizando pelo vento ao longo da encosta.

De volta à vila Huangyang, Chen Shi ainda esperava na entrada. O sol forte o deixava tonto.

A esposa de San Wang, com pena, preparou-lhe uma refeição. Era a primeira vez em dois anos que Chen Shi comia algo tão saboroso — lágrimas escorreram de seus olhos.

"É só comida simples da roça, que tem de especial?" — disse a mulher, envergonhada.

Chen Shi comeu tudo, recuperou o ânimo e voltou a esperar.

A tarde passou, e o caldeirão latiu duas vezes.

Chen Shi se levantou e colocou a mochila nas costas.

"Já é hora."

Se esperasse mais, escureceria antes de chegar à vila Huangpo.

"O mestre não veio," disse Chen Shi ao caldeirão. "Deve estar com medo de que descubram que usava crianças para fazer óleo e manche sua reputação. Já que não veio hoje, não virá mais."

O caldeirão o seguiu, aliviado.

Chen Shi queria lutar, mas ele certamente não queria — se o rapaz morresse, o avô com certeza colocaria a culpa nele!

Chen Shi olhou para o céu — o sol ainda brilhava forte.

"Espero que o vovô já esteja em casa..."

Andaram por alguns li, quando um som cortante de vento soou atrás deles.

Chen Shi virou-se — dois homens vinham flutuando, impulsionados pelo vento sob seus pés.

Um era o velho de cabelos brancos, o outro, o homem elegante. A poeira girava sob eles a cada passo, fazendo-os flutuar sem tocar o chão.

"Então é assim que se usa um talismã de cavalo espiritual?" murmurou Chen Shi, surpreso, parando à beira da estrada para deixá-los passar.

O velho o viu de longe e riu:

"Uma criança sozinha nessa hora? Pobrezinho… pena que estamos com pressa, senão serviria bem para um preparo…"

Mas ao reconhecê-lo, exclamou:

"Você! O moleque que estragou meu óleo!"

Chen Shi também reconheceu a voz — e seus olhos se arregalaram.

O caldeirão eriçou o pelo, a cauda rígida como ferro.

Antes que pudesse alertar, Chen Shi já disparava como uma flecha!

Ele correu direto contra Tiepibi — como um leopardo libertado, cada passo o impulsionava mais rápido. As sandálias de palha se rasgaram sob o impacto.

O vento rugia em seu rosto; o cabelo se soltou e voou para trás como uma chama.

O velho e Zhao Ming mal tiveram tempo de reagir — em um piscar de olhos, Chen Shi já estava a menos de três metros deles!

Ele lançou um soco — o ar assobiou como uma lâmina!

A velocidade era absurda. O velho mal terminara de falar quando o punho já estava em seu rosto!

Chen Shi lembrava bem do aviso do avô:

Ele não tinha poder espiritual, mas tinha força bruta o bastante para matar um cultivador — contanto que atacasse primeiro!

O velho reagiu rápido: de suas mangas voaram talismãs amarelos, já prontos — um Escudo do Oitavo Trigrama e um Sino Dourado. Bastava ativar um deles para ficar invencível.

Mas no instante em que o primeiro talismã tocou o punho de Chen Shi, o garoto girou a perna e chutou direto na virilha do velho!

Toda a força dele sumiu num gemido. O impulso do talismã cessou abruptamente. O rosto se contorceu em agonia, os olhos esbugalhados.

O punho de Chen Shi esmagou seu rosto, lançando-o girando para trás como um pião.

Zhao Ming reagiu e tentou conjurar um feitiço, mas Chen Shi já se virava.

Um passo, uma torção de cintura, e o cotovelo esquerdo acertou bem entre suas costelas!

O homem curvou-se, sufocado.

Chen Shi agarrou-lhe o pescoço com uma mão grossa e vigorosa — e crack! — quebrou-lhe o osso da garganta.

Carregando o corpo, avançou e o fez colidir violentamente contra o velho que ainda caía.

Bum!

O crânio do velho afundou. De suas mangas, dezenas de talismãs voaram como borboletas amarelas, ativando-se ao mesmo tempo — Escudo do Oitavo Trigrama, Sino Dourado, Talisman das Seis Perversões, Selo da Vida, Selo da Cúpula Celestial — todos liberando suas energias.

O corpo de Tiepibi ajoelhou-se, sangrando e imóvel.

Luzes coloridas explodiram — símbolos, sinos dourados, espectros e criaturas demoníacas se sobrepunham ao redor de seu corpo, formando um turbilhão mágico.

Mas o velho já estava morto.

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