No desespero, Kenji tirou do bolso a pedra de comunicação que ele mesmo havia feito e a ativou. Chamou por Ryota. O amigo atendeu, pensando que eram boas notícias.
— E aí Kenji!
— Tudo bem?
— Como foi o trabalho?
— Ryota você precisa me ajudar!
— O senhor Tomoji está em perigo.
— Calma calma! Mantém a calma!
— Não tô entendendo direito… o que tá acontecendo?
— Não temos tempo!
— Se demorarmos, o senhor Tomoji vai...
— Ok, entendi!
— Mas me espera, por favor!
— Tô indo pra aí.
— Só... não faça nenhuma besteira até eu chegar!
Ryota desligou, preocupado, e saiu correndo de casa. Kenji tentou esperar, mas a inquietação venceu. Seguiu o grupo que caminhava em direção ao armazém do senhor Tomoji.
Perto do armazém de minério, Kenji já esperava o pior. Os quatro arrombaram a porta da frente e foram direto ao escritório, fazendo um barulho que sacudiu o prédio. O escritório guardava documentos e o dinheiro do fim do mês. Nos fundos, no quarto simples, o senhor Tomoji ouviu o estrondo, levantou assustado e gritou:
— Quem está aí?
Do lado de fora, Kenji ouviu e pensou, aflito: “Essa não… senhor Tomoji. Ele devia estar dormindo. Acordou com o barulho.”
A sensação de impotência apertou a cabeça de Kenji. Ele levou as mãos à nuca, sem saber o que fazer. “Não… eu sou fraco demais. Alguém, por favor, ajuda ele. Se não… ele vai morrer.”
Dentro do armazém, Tomoji encarou os invasores.
— O que vocês querem aqui?
— O que estão fazendo?
Kaito sorriu torto:
— Então é você o velho que vive aqui.
— A gente tava curtindo por aí, mas o dinheiro acabou.
— Quem sabe o senhor não consegue mais pra gente?
— Hehehe.
Foram na direção de Tomoji. Com medo, ele tentou ceder:
— Eu… eu vou colaborar!
— Por favor, não me machuquem!
Eles não quiseram ouvir. Caíram em cima dele com socos. Tomoji foi ao chão. Chutes no rosto e na barriga vieram sem parar.
Do lado de fora, Kenji ouviu os gritos de dor. A angústia explodiu no peito. “Alguém… qualquer um… ajuda o senhor Tomoji. Não tem ninguém por perto. Ninguém pra ajudar.”
As palavras de mais cedo voltaram como martelo: “Não tem problema se achar fraco. É quando alguém importante tá em perigo que a gente descobre o quanto pode ser forte.”
Algo acendeu por dentro. O corpo de Kenji tremeu. O sangue ferveu. Quando percebeu, já estava dentro do armazém.
— Parem!
— Deixem o senhor Tomoji em paz!
O silêncio caiu. Kaito virou devagar e, ao ver Kenji, riu. Os outros riram junto.
Haruki avançou com dois capangas. Os transformados de categoria D seguraram os braços de Kenji, e Haruki acertou um soco no estômago. A dor dobrou o corpo. Vieram mais golpes — rosto, barriga — até Kenji cair de joelhos e depois desabar. Mesmo no chão, os chutes não pararam.
— O que um fraco como você acha que vai conseguir fazer? — zombou Haruki, esfregando o rosto de Kenji no piso.
Tomoji gritou, desesperado:
— Parem idiotas!
— Vocês vão matá-lo.
— Quem vocês queriam não era eu?
— Não era o meu dinheiro?
— Eu consigo mais dinheiro, muito mais.
— Mas deixem ele em paz!
Kaito riu.
— Vamos levar seu dinheiro sim.
— Mas antes a gente mata vocês dois.
— Hahahahah!
Quase sem sentidos, Kenji se afundou na culpa. “Se ao menos eu fosse forte… Se eu pudesse salvar quem é importante… Se eu tivesse nascido com força… Kenji, você é um fracassado.”
Cansado da cena, Kaito deu um passo à frente:
— Cansei da enrolação.
— Vou começar por você, velho.
— Já que o moleque não é ameaça nenhuma.
A mão de Kaito se envolveu em metal escuro, moldada como lâmina viva. Ele avançou e atravessou o abdômen de Tomoji. O impacto foi tão forte que rachou o chão.
— Pare!
— Não faça isso! — gritou Kenji, com os olhos arregalados.
Kaito saboreou o desespero:
— Ei moleque… gostou do show?
— Essa é a habilidade da minha aura.
— Sou transformado de categoria C.
— Posso moldar meus ossos em ferro e fazê-los crescer.
— Corto qualquer coisa.
— Posso endurecer o corpo inteiro.
— Defesa e ataque, tudo junto!
O sangue de Tomoji se espalhou no piso. O corpo de Kenji travou. A mente escureceu. Ele apagou.
Tumdum.
O coração bateu forte. No vazio do subconsciente, ele ouviu uma voz. A escuridão cobriu tudo. Na frente dele, só dois olhos brilhando e uma boca aberta num sorriso que não era humano.