Jaden Parker estava caído no chão frio, sem camisa, ofegante, e com o corpo coberto por algumas cicatrizes, marcas silenciosas de sua resistência e do inferno que vivia há mais de uma mês. Seus olhos estavam semicerrados, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto o suor escorria pelo seu rosto jovem. Era só uma criança de onze anos. Magro. Fraco. Sozinho. Mas ainda vivo.
Jaden Parker estava caído no chão frio, sem camisa, ofegante e com o corpo coberto de pequenas cicatrizes, marcas silenciosas de sua resistência e do inferno que vivia havia mais de um mês. Seus olhos estavam semicerrados, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto o suor escorria pelo seu rosto jovem. Era só uma criança de onze anos. Magro. Fraco. Sozinho. Mas ainda vivo.
— Um mês, — murmurou para si mesmo, a voz rouca. — Um mês desde que comecei o segundo diário...
Ele se sentou com dificuldade, encostando-se na parede. Não tinha um espelho, mas sabia que não era mais o mesmo garoto que chegou ali. Não completamente. Seu corpo franzino ainda estava longe de forte, mas agora ele conseguia fazer alguns agachamentos sem cair. Suas mãos, antes tremendo só de segurar uma adaga, agora tinham firmeza. Mesmo que fosse uma firmeza trêmula.
Dois dias se passaram. No centro do salão iluminado artificialmente, ele encarava um manequim de treinamento. Inspirou fundo. Seus olhos estreitaram. Pegou as adagas. Correu. Girou. Atacou.
SHLACK!
O manequim caiu. Pela primeira vez em dias.
O painel holográfico brilhou com uma satisfação cruel:
22/50 manequins de treinamento neutralizados
Jaden sorriu.
— Cara, eu fiz uma grande evolução... comparado com o eu de um mês atrás.
Ele andou de volta ao seu canto. Sentou. Ficou em silêncio. Havia algo que o incomodava.
— Mas... às vezes, sinto que tô sendo observado. Bem claro que tô, com esses painéis doidos e manequins que parecem ter alma, mas... às vezes eu sinto que tem... algo. Alguém. De verdade. Mas deixa isso pra lá.
Ele se levantou e voltou aos treinos. Atacava, rolava, errava. Tentava de novo. Mas...
Caía.
Caía.
Caía.
Tropeçava nos próprios pés. Caía outra vez.
Jaden ficou deitado no chão por um tempo, encarando o teto. Pegou as adagas... jogou no canto. Suspirou alto. Levantou-se com dificuldade, e deu um tapa no próprio rosto.
— Por que eu sou tão teimoso? — gritou, com raiva de si mesmo.
Ele foi até seu cantinho improvisado. Um colchão fino, algumas roupas, tralhas, e os diários.
Pegou o terceiro: "Diário de um Central 3: Manuseamento de Armas".
Abriu com pressa.
Na primeira página:
Primeiro Passo: Escolher uma Arma.
Ele pensou por alguns segundos e disse:
— Eu já escolhi. Adaga. Sempre foi ela. É corpo a corpo, é rápida. E eu sou pequeno. Dá certo.
Segundo Passo: Posições da sua Arma.
Terceiro Passo: Treinar os Golpes.
Na página seguinte, as instruções:
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ADAGAS (combate corpo a corpo, agilidade, precisão)
Treino ideal: 4 a 5 vezes por semana
Foco:
Agilidade corporal
Reflexos e esquiva
Golpes curtos, perfurações e contra-ataques rápidos
Manuseio duplo com simulação de alvos reais
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BASTÃO (controle de área, média distância)
Treino ideal: 3 vezes por semana
Foco:
Rotacionar golpes
Combos de ataque e defesa
Bloqueios e desarmes
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LANÇAS (alcance longo, força e postura)
Treino ideal: 2 a 3 vezes por semana
Foco:
Estabilidade de base
Investidas e giros
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Jaden respirou fundo.
— Bem massa! Agora vou poder treinar de verdade... matar aqueles desgraçados.
Fechou o livro e olhou para o teto.
— Mas... 4 a 5 vezes por semana? Será que não é muito pra mim? Meu corpo ainda não tá 100%. Mas dane-se. Não tem nada que vai me impedir.
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Os dias passaram como um borrão. Treino. Dor. Queda. Repetição. Jaden perdeu a noção do tempo.
Numa dessas noites... ou dias... ele se sentou, suado, exausto. Deitou e fechou os olhos. Tudo escureceu.
Ele viu sua mãe. Seu pai. A risada da irmãzinha.
A imagem deles indo pro hospital. Correria. Soro. Sangue.
Ele abriu os olhos com um suspiro longo.
— Por que venho me esforçando tanto? Por que não me preocupo se vou morrer de fome, se um manequim me acertar ou se eu cair duro de cansaço? — perguntou em voz alta, encarando o teto.
Sorriu.
— Talvez... talvez seja porque eu não tenho nada a perder se morrer.
Ficou em silêncio.
— E se isso acontecer... talvez eu possa ver minha família de novo.
Fechou os olhos. Ficou um tempo assim. Depois, com um sorrisinho torto:
— Que treta é essa que eu tô falando? Eu ainda tô vivo por dois objetivos: abrir a maldita porta... e...
Ele se sentou de novo. Apertou os punhos.
— Matar o desgraçado do Central. — sorriu largo, com os olhos brilhando de fúria e motivação.
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Vários dias depois.
Jaden agora treinava com foco. Seus golpes eram mais rápidos, seus movimentos mais limpos. Os erros ainda existiam, mas agora não o derrubavam.
Ele começou a criar algo novo. Em vez de atacar os manequins do jeito direto, ele passou a simular o cenário de uma emboscada. Criava percursos. Pulava sobre caixas, rolava entre colunas, usava o ambiente.
Chamou isso de "Zona de Caça".
— Se eu não sou forte... então vou ser imprevisível. — dizia.
Treinava a Zona de Caça todo dia, combinando com os passos do Diário. Criava rotas, distraía manequins, usava sons para confundir os alvos. Atacava e recuava antes que os outros reagissem.
— Matei dois em um só movimento...! — disse num dos treinos. — Isso é um ótimo progresso.
Evoluiu.
Os hologramas de dano mostravam menor tempo de resposta. Menor desperdício de energia. Mais mortes.
No final daquela semana... ele caiu de joelhos, ofegante.
Um novo painel brilhou:
34/50 manequins de treinamento neutralizados
Ele ficou ali, suando, respirando fundo. De repente, uma memória veio com força.
Seus pais sendo levados por paramédicos. Sérios. Ninguém falava nada com ele. Tudo silencioso, menos o som dos passos apressados e o apito das máquinas do hospital.
Jaden olhou para o painel. Depois para as próprias mãos, agora calejadas.
Sorriu.
— Parece que o que me restou... foi a habilidade de matar alguma coisa.
Ficou em silêncio por um instante. Depois murmurou:
— Mas... como seria... matar uma pessoa de verdade?
Seus olhos não tinham medo. Nem remorso. Apenas curiosidade. Uma pergunta honesta.
Ali, sozinho, isolado, trancado num lugar sem nome, Jaden Parker não era mais apenas uma criança. Ele estava se moldando. Pela dor. Pela raiva. Pelo desejo de vingança.
Ele olhou para os diários. Três já tinham sido abertos.
Apanhou o quarto. Diário de um Central 4: Artes Marciais.
Abriu.
Primeiro Passo: Escolher uma Arte Marcial.
Ele sorriu.
— Hora de aprender a brigar de verdade.
[FIM DO CAPÍTULO]
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