Jaden estava sentado no centro da sala principal da zona de treinamento. Seu rosto estava coberto por uma expressão de cansaço misturada com esperança. Os olhos percorriam cada detalhe do caderno à sua frente, e suas mãos seguravam o objeto como se fosse algo sagrado.
Na capa encardida, escrita com uma caligrafia familiar e quase ameaçadora, lia-se:
> Diário de um Central 5: Caminho
Jaden respirou fundo e murmurou:
— Finalmente... o último.
Com um movimento cauteloso, ele abriu o caderno. Em vez das instruções esperadas, encontrou uma mensagem incomum, escrita com tinta preta e palavras pesadas:
> "Este é o meu último diário. Espero que tenhas usado os diários do jeito certo. Chegamos à última fase do seu treinamento. Agora é o mais difícil: 'Depois disso tudo, o que eu irei fazer?' Agora é hora de escolheres teu caminho. Deixo nas tuas mãos."
Ele fechou os olhos, absorvendo o peso daquela mensagem. E respondeu num sussurro:
— Pelo jeito... minha teoria estava certa.
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Meses atrás...
A zona de treinamento ainda era um mistério para ele. Havia chegado recentemente e estava tentando compreender o propósito daquele lugar. Sentado no chão de concreto, Jaden observava cinco cadernos sobre uma mesa velha de metal.
— Isso aqui é uma armadilha ou um presente? — ele se perguntou.
Os cadernos não pareciam aleatórios. Cada um com uma numeração, cada um revelando um pedaço do quebra-cabeça.
Jaden também não era mais o mesmo. O garoto que um dia apenas sobreviveu agora estava se transformando em algo... diferente.
— Talvez se eu abrir um por vez... consiga absorver o máximo. Talvez... consiga matar o idiota do Central.
Ele encarou o primeiro caderno e falou com determinação:
— Bem, agora vamos ler os passos.
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De volta ao presente
Jaden leu novamente o título da primeira página do quinto diário:
> Primeiro Passo: Refletir o que vens aprendendo.
Ele fechou o caderno e se recostou na parede. Os olhos encaravam o teto sujo e rachado.
— Refletir... fácil, né? — ele soltou uma risada seca. — Só que não.
Durante três dias inteiros, Jaden mergulhou em memórias. Cada passo dado desde que chegou ali. Cada ataque de manequim. Cada dor. Cada corte. Cada momento de medo.
Lembrou dos treinamentos absurdos, das provas de resistência e da dor insuportável que sentiu na pele e na alma. Lembrou das noites em claro, dos pesadelos com o Central, do som dos bip's do painel holográfico que ainda ecoavam como um fantasma.
Mas também lembrou da Emily. Do orfanato. Do som da chuva batendo na janela. Da paz que sentiu mesmo que por um instante.
Ele murmurou:
— Tudo isso... me moldou. Me quebrou. E me reconstruiu.
No quarto dia, abriu o caderno e passou para o segundo passo:
> Segundo Passo: Pense em seus objetivos e agarra-os.
— Isso é fácil. — disse imediatamente. — Meu objetivo é matar o Central.
Silêncio.
Mas não durou muito.
Algo dentro dele pesou. A frase soou... vazia.
— Espera...
Ele se levantou, começou a andar pela sala. Falava sozinho, gesticulava, refletia.
— Eu... queria vingança. Mas... depois disso? O que eu ganho?
As memórias voltaram. Emily sorrindo. O sol em Orlando. A ideia de liberdade, de uma vida simples. Sem dor. Sem armas. Sem diários.
— Não. Meu verdadeiro objetivo é... ter uma vida calma. Pacífica. Eu quero viver, caramba. Só isso. Eu quero viver.
Chorou. Pela primeira vez em meses, as lágrimas caíram. Era como se parte dele estivesse sendo curada.
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Dias depois...
Jaden estava fraco. Mal comia. A comida estava quase acabando. Estimava que teria o suficiente por no máximo doze dias. O rosto magro, os olhos fundos. Mas havia fogo em seu olhar.
Sentado diante do caderno, encarou a última frase:
> Terceiro Passo: Faça seu Caminho.
Ele repetiu em voz alta:
— Faça seu caminho...
Passou horas pensando. Dias talvez. Em alguns momentos, achava que a resposta era continuar ali. Em outros, achava que devia se entregar ao sistema. Mas depois de tudo, apenas uma resposta fazia sentido:
— Talvez eu deveria pensar nessa resposta pelos próximos anos. Mas pra isso... preciso sair daqui. Conquistar a vida que sonho. E é isso que vou fazer!
Ele se levantou com dificuldade, mas com confiança.
Vestiu suas luvas, as botas reforçadas, o gorro e o casaco preto. Amarrou as adagas nas coxas. Separou um pouco da comida restante e os cinco diários. Tudo foi cuidadosamente colocado na mochila.
Olhou em volta. Cada canto. Cada rachadura. Cada suor e sangue ali deixado.
Sorriu.
— Se eu conseguir escapar de fato, não sentirei saudade nenhuma! Hahaha!
Foi até a grande porta metálica. Observou. Tocou com a palma da mão.
— Nunca tentei abrir isso... sempre achei que era impossível. Fui racional. Maduro. Talvez estivesse certo antes... mas agora, não. Agora eu vou sair daqui.
Pegou uma lanterna empoeirada da mesa e decidiu explorar.
— Acho que nunca explorei direito isso aqui. Só dei uma leve passada em alguns cantos.
Começou a vasculhar o local. Quartos, dutos, galpões. Algumas portas levavam ao nada. Outras a salas vazias. Em certos momentos, a escuridão era tanta que ele dava pequenos gritos de susto com a própria sombra.
— Meu Deus! Ah não... era só uma vassoura... — disse, colocando a mão no peito.
Após horas, estava exausto. Sentou num canto, frustrado.
— Não tem nada aqui. Nada.
Mas ao se levantar, viu uma parede diferente. Igual às outras, mas... não tão igual. Havia uma mancha, como se estivesse desgastada.
Ele se aproximou. Bateu. Não havia som de concreto puro.
— Isso... isso é oca?
Deu um soco. Gritou:
— AIII!
Mas viu. Um pequeno pedaço da parede cedeu. Estava realmente se partindo.
— Se eu continuar... eu consigo abrir. Mas minha mão... vai pro saco.
Ele encarou a parede. Depois sua mão. Depois a parede de novo.
— Dane-se.
Socou. Uma, duas, três vezes. A dor era insuportável. O sangue jorrava. A pele se rasgava. O osso... talvez estivesse trincado. Mas ele continuou.
Com o rosto molhado de suor e lágrimas, deu o último golpe. A parede quebrou.
Do outro lado... uma escada. Descendo.
Uma brisa fraca subiu pelas frestas. Um cheiro novo. Diferente. Não era ar reciclado. Era... real.
Ele caiu de joelhos. A mão sangrando.
— Eu consegui... eu consegui...
Nada iria impedi-lo agora. Nada.
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Em um local desconhecido
Num escritório escuro, com paredes de vidro fumê e mesas luxuosas, dois homens observavam um monitor.
Na tela: imagens do Jaden quebrando a parede. Dezenas de papéis e relatórios espalhados ao redor.
Um dos documentos tinha o cabeçalho:
> Projeto 13 – Receptor 713: Fase Um em Execução
Um homem com uma máscara de lobo se virou.
— Senhor, o treinamento do Receptor 713 teve um grande progresso.
O outro homem, oculto pelas sombras, respondeu:
— Exato.
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[FIM DO CAPÍTULO]