Cherreads

Chapter 6 - Verificação de Evolução

Jaden estava deitado no seu velho colchão, o corpo suado, as roupas amassadas e os olhos fixos no pequeno caderno encardido em suas mãos: Diário de um Central 4: Artes Marciais.

— Já estou algum tempo treinando os passos do terceiro diário... agora preciso continuar minha evolução! — murmurou para si, sentindo uma mistura de medo e determinação.

Quando abriu a primeira página, um som agudo cortou o silêncio.

BIP! BIP! BIP!

— Mas o que é isso? Parece o som do painel holográfico... mas ele só apitava quando eu matava um manequim de treinamento...

Jaden se levantou num pulo e correu para a sala onde ficava o painel. Quando chegou, uma nova mensagem brilhava em letras brancas sobre um fundo vermelho:

"Parece que você chegou ao quarto Diário de um Central. Agora que você está perto do nosso objetivo, está na hora de aumentar a dificuldade. A partir de agora, os manequins de treinamento que estavam no modo Pacífico, entrarão no modo Berserker. E assim, começou o teste que provará sua evolução. O Teste Evolutivo começa em..."

Jaden confuso e tremendo.

— "Nosso objetivo"?

Outra contagem apareceu em uma tela flutuante:

"1... 2... e... 3"

Jaden congelou.

— Mas o que é isso tudo?

Os olhos dos manequins acenderam em um tom vermelho escuro. Eles começaram a se mover com velocidade anormal, emitindo um zunido metálico ameaçador. Jaden nem teve tempo de pegar uma arma. Correu.

Entrou no seu pequeno quarto, bateu a porta com força e trancou. Sentou-se no chão, com as costas contra a madeira e os joelhos encostando o queixo.

— Droga... onde eu fui me meter?!

Respirando com dificuldade, ele olhou para as mãos trêmulas. Passos ecoavam do outro lado da porta. Mas o silêncio dentro da sua mente era ainda mais assustador. Ele murmurou:

— Até agora vim treinando pra passar o tempo... se conseguir sair desse sítio subterrâneo, vou com certeza matar o Central. Mas agora... talvez a minha hora chegou?

Ele fechou os olhos.

E viu o passado.

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Dois anos atrás.

Chicago. Orfanato St. Josh Lewis.

Jaden não era exatamente popular. Calado, estranho, com um olhar que parecia ver através das pessoas, era evitado por muitos. A rotina do orfanato era um ciclo repetitivo e insuportável:

Acordar. Comer. Escola. Caminhada. Almoço. Tarefas. Jantar. Dormir.

Repetir.

Mas tudo mudou num final de tarde chuvoso.

— Ei, você é o Jaden, né?

Ele levantou os olhos do caderno. Uma garota baixa, cabelo cacheado preso num rabo de cavalo malfeito e uma camiseta com estampa de gato sorria pra ele. Emily Kent.

— E se for?

— Se for, quer dizer que você não me conhece ainda. Isso precisa mudar.

Ele arregalou um pouco os olhos. Quem era aquela maluca?

Com o passar das semanas, Emily foi quebrando o muro invisível ao redor de Jaden. Jogavam xadrez, trocavam desenhos, falavam sobre livros que nenhum deles realmente lia. Pela primeira vez em anos, Jaden sorria de verdade.

Emily não se importava com os silêncios de Jaden. Ela preenchia eles com histórias bobas, piadas ruins e perguntas sem sentido:

— Se você tivesse um superpoder, qual seria? Mas tem que ser um ruim!

— Telepatia... mas só com golfinhos.

— Hahaha! Isso é horrível. Amei.

Então, em uma noite de outubro, ela chamou Jaden para a escada dos fundos.

— Em breve serei adotada.

Jaden sentiu o estômago cair.

— E você está feliz?

Ela hesitou. Depois disse:

---

— E você está feliz?

Ela hesitou. Depois disse:

— Acho que sim. Eles são legais. Mas... eu queria que você também fosse.

Jaden desviou o olhar. A lua iluminava parte do corredor. Emily abriu a mão e mostrou uma pulseirinha simples, feita de linha vermelha.

— Eu fiz uma igual pra você. Se algum dia a gente se encontrar de novo... você ainda vai estar com ela?

Ele pegou a pulseira sem dizer nada, mas seu coração dizia tudo. A menina sorriu, deu um tapinha no ombro dele e se levantou.

— Não esquece, hein. Mesmo se virar um vilão ou um herói... ainda é você. Promete?

— Prometo.

E foi a última vez que ele a viu.

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Jaden abriu os olhos. Estava sentado no chão, ofegante, trêmulo, mas o olhar agora tinha um brilho diferente.

Olhou para a pulseira e deu um leve sorriso.

— Eu ainda tô vivo por dois objetivos... abrir a maldita porta... e...

Ele se levantou devagar, encarando a porta do quarto. As batidas dos manequins do lado de fora diminuíram. Pareciam esperar.

— E matar o desgraçado do Central — completou com um sorriso cansado.

Ele foi até o canto do quarto, puxou uma manta e revelou algo coberto por panos. Ali estavam suas adagas — afiadas, polidas, prontas. Ele segurou uma em cada mão.

— Se é um teste... então que venha.

Com um chute, escancarou a porta. Os manequins viraram a cabeça em sincronia. Seus olhos ainda vermelhos. Jaden deu o primeiro passo. Depois o segundo. E então correu.

A sala virou um campo de guerra.

Os manequins agora atacavam com força real. Não apenas movimentos programados de treino — havia agressividade, estratégia, velocidade. Mas Jaden estava diferente também. Com os reflexos apurados pelo treinamento das últimas semanas, começou a se esquivar com precisão. Rodava as adagas, lembrava das lições do Diário 3:

Agilidade corporal. Golpes curtos. Contra-ataques rápidos.

— Não pense, reaja!

Decepava braços falsos, cortava fios, derrubava as estruturas internas. Os manequins vinham em ondas. Ele foi derrubado uma, duas vezes... mas se levantava.

Por fim, com o peito arfando, sujo de óleo dos robôs quebrados, ele cravou as adagas em um dos últimos manequins ainda de pé.

PAINEL HOLOGRÁFICO: 50/50 MANEQUINS DE TREINAMENTO NEUTRALIZADOS.

Silêncio.

Ele cambaleou até o centro da sala. O suor escorrendo. A visão turva. O painel mudou de cor — agora estava azul.

Jaden caiu de joelhos. Ficou ali, respirando, por longos minutos.

— Então é isso... evoluí — disse, com um sorriso melancólico.

Depois se levantou, foi até o velho diário no chão e abriu novamente:

Diário de um Central 4: Artes Marciais

Primeiro Passo: Escolher uma Arte Marcial.

— Acho que depois disso... já posso escolher.

Ele leu as opções rabiscadas por algum Central desconhecido. Havia estilos orientais e ocidentais. Mas ele se sentiu atraído por um em particular: Krav Maga. Simples, direto, letal.

Segundo Passo: Treinar sua Arte Marcial.

E ele começou. Nos dias seguintes, mesmo com o corpo ferido e a mente cansada, Jaden assistia vídeos gravados nos painéis de instrução, praticava os movimentos sozinho, usava manequins regenerativos como parceiros de treino. Cotoveladas. Joelhadas. Movimentos para desarmar o oponente. O corpo aprendia. A mente se fortalecia.

E em uma dessas noites, enquanto treinava, ele parou subitamente.

— Como o sistema sabia que eu cheguei ao quarto Diário...? — sussurrou, olhando em volta.

Ele olhou pro teto. Pros cantos da sala. Era óbvio. Ele não estava sozinho. Nunca esteve.

— Será que estou sendo vigiado de verdade?

Ficou um momento parado. Depois apertou os punhos.

— Não sei... mas meu terceiro objetivo tá na minha cabeça agora...

Caminhou até a porta de metal gigante no fim do corredor. Já tinha visto ela dezenas de vezes. Trancada. Inquebrável. Sempre ali, como se zombasse dele.

Ele encarou a porta. Bateu com a mão.

— Maldito Central... a culpa é toda sua. Eu vou te matar, pode apostar!

O olhar dele agora não era o mesmo garoto que chorava em silêncio no orfanato. Era o de alguém que sobreviveu. Que resistiu.

Que estava evoluindo.

[FIM DO CAPÍTULO]

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