O chão da sala tremia com cada golpe. Jaden arfava, o rosto suado e os olhos fixos em um boneco de treinamento, imóvel… mas ameaçador. Ele girou, deslizou pelo chão e tentou mais um golpe direto no peito do manequim.
CLANG!
Nada. Nem sequer um arranhão.
Ele caiu de joelhos, derrotado mais pelo cansaço do que pelos inimigos imóveis à sua frente.
> PAINEL HOLOGRÁFICO:
“3 / 50 Manequins Neutralizados.”
Ele cuspiu no chão.
> Jaden (sussurrando):
"Droga… Só três? Depois de tudo isso?"
Levantou-se cambaleando e se apoiou na parede. Passou a mão pelo rosto, suado, e fitou os bonecos parados.
> "Aqueles dois últimos só foram mortos por milagre... E o primeiro... foi pura sorte."
Ele mordeu os lábios e olhou em volta.
> “Eles... só atacam quando eu ataco, né?”
Foi nesse momento que ele entendeu. O perigo ali era passivo. A sala era, na verdade, um reflexo dele mesmo.
> “Eu subestimei esses bonecos. E agora… tô pagando o preço.”
Ele largou as adagas no chão. Caminhou até a mesa onde os cadernos estavam e pegou o segundo.
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Diário de um Central 2: Quem é Você sem Medo?
> Primeiro Passo: Descubra seus Medos.
Segundo Passo: Enfrente seus Medos.
Terceiro Passo: O que exatamente te deixa com Medo?
> Jaden:
“Eu já tinha lido isso... mas... não tinha sentido na época. Agora tem.”
De repente, um silêncio absoluto tomou conta da sala. Como se até os ventiladores tivessem parado.
Ele fechou os olhos e se sentou no chão duro. Respirou fundo. E então... veio o passado.
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FLASHBACK – O Dia da Tempestade
Ele era menor. Sete anos, talvez seis. O som da tempestade cortava o céu. O trovão vinha junto com o grito da mãe.
Ele tentava segurar a mão dela, mas algo – ou alguém – o puxava para trás.
> Mãe (gritando):
“Corre, Jaden! Corre!”
> Jaden (chorando):
“Eu não quero ir! Eu quero vocês!”
O chão rachava. O mundo despedaçava. E então... escuridão.
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Ele abre os olhos com um suspiro doloroso.
> Jaden:
“Não é só o medo de perder alguém… É o medo de perder… sem poder fazer nada.”
Os olhos se encheram d’água.
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O Tempo Passa...
Ele perdeu a noção dos dias. Apenas calculava pelas refeições que ainda restavam, pelos treinos mentais que fazia, pelas horas que passava em silêncio.
Meditava.
Escrevia seus medos em folhas arrancadas de outros cadernos:
Medo de fracassar.
Medo de ser esquecido.
Medo de nunca ser suficiente.
Medo de amar alguém e perder de novo.
Ele começava a entendê-los. Encará-los.
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Uma noite, adormeceu. No sonho, estava sentado à mesa de jantar.
Pai à esquerda. Mãe à direita.
Todos sorriam.
> Mãe:
“Você tá crescendo, Jaden. Você não tá sozinho.”
> Pai:
“A coragem não é ausência de medo… é fazer o que precisa, mesmo com medo.”
O cenário começou a desmanchar. A luz se apagava, e os rostos dos pais se tornavam névoa.
> Mãe (última frase):
“Você não falhou, filho. Você sobreviveu.”
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Jaden acorda encharcado de suor, com uma lágrima solitária escorrendo do olho direito.
Ele sussurra, quase num soluço:
> Jaden:
“Meu maior medo... não era a morte... era viver sem lembrar quem eu sou... sem lembrar deles.”
Ele levanta. Vai até o espelho da sala. Encarando a si mesmo, diz:
> “Tá na hora de enfrentar isso.”
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Durante dias, ele começou a:
Meditar com mais clareza.
Enfrentar os bonecos um por um com cautela.
Escrever sobre os pais, relembrando os bons momentos.
Criar técnicas com as adagas baseadas nos movimentos que sonhava com o pai.
Ele passou a falar com os manequins.
> “Você é meu medo de errar.”
“Você é o medo de ser fraco.”
“E você, o de ser abandonado.”
E a cada luta, a cada treino mental, um medo era vencido. Um manequim a menos. Um passo adiante.
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Ele parou. Havia vencido quase todos os desafios internos. Mas ainda restava o passo mais difícil:
> “O que exatamente te deixa com medo?”
Ele ficou parado, inquieto.
> “Eu sei a resposta... mas... como eu explico uma coisa que me sufoca desde pequeno?”
Ele sentou-se no chão. Silêncio.
Então escreveu no diário:
> "O que me dá medo é... a ideia de que talvez eu não consiga proteger ninguém. Que talvez eu só esteja vivo porque falhei em morrer com eles. Que eu seja... só mais um erro no meio de um mundo quebrado."
> "Mas mesmo assim... eu vou continuar."
Ele fecha o diário.
Levanta.
Respira fundo.
Encarando os 47 manequins restantes, ele sorri.
> Jaden:
“Isso não me deu força física... Mas me fez amar mais ainda minha família que está no céu. E agora...”
Ele estende os braços. Pega as adagas.
> “…agora tá na hora de matar esses miseráveis.”
Ele corre. As lâminas brilham na luz fraca da sala. E o som da batalha recomeça.
[FIM DO CAPÍTULO]
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