…Silêncio.
O som da própria respiração era a única coisa que ele conseguia ouvir. E mesmo assim, parecia abafada. Como se o ar fosse denso demais. Como se estivesse respirando dentro de um saco fechado.
Abriu os olhos de forma lenta, confusa. Nada mudou. Estavam abertos, mas era como se ainda estivessem fechados. Escuridão total. Tão total que ele chegou a duvidar de que estava realmente acordado.
— Oi…? — murmurou com a voz fraca, rouca, quase um sussurro. — Tem alguém aí…?
Nenhuma resposta.
Silêncio.
Tentou levantar. Um estralo no joelho e um choque de dor nas costas. O chão era duro, gelado… concreto? Sentiu os dedos trêmulos tateando o espaço ao redor. Tinha paredes… mas estavam próximas. Muito próximas.
— Onde eu tô…? — disse para si mesmo. — Isso é algum tipo de pegadinha? Um pesadelo?
Tentou lembrar o que aconteceu. Era noite… chovia muito… havia trovões. Ele estava deitado. Esperando o sono chegar. E então…
— A van! — exclamou. — Aqueles caras… os… os mascarados! Eles me pegaram!
Seu corpo congelou. Uma sensação de desamparo tomou conta de tudo. Os pelos do braço se arrepiaram. O suor frio escorreu pela nuca.
— Isso é real… — disse, se encolhendo no canto da sala escura. — Isso é mesmo real.
Passaram-se horas. Talvez dias. Não havia relógio. Nem janelas. Apenas uma rotina maldita: uma pequena portinhola se abria e uma bandeja de comida grotesca era empurrada para dentro. A primeira vez, ele comeu por impulso. Estava com fome. Depois… já não sabia se era melhor continuar comendo ou deixar a fome levar.
— Isso aqui parece ração de cachorro molhada com vômito de gato, mano… — murmurava a cada mordida. — Será que eu morri e fui parar no inferno? Porque se for… tá de parabéns.
A comida era sempre a mesma. O silêncio também.
O homem que entregava a bandeja nunca dizia uma palavra. Nada. Nem um "bom apetite" sarcástico. Só o rangido da portinhola… o som da bandeja… e o silêncio voltava.
Jaden começou a perder a noção do tempo.
Falava sozinho. Fazia piadas consigo mesmo. Se perguntava se estava enlouquecendo.
— Eu devia estar no colégio agora. Reclamando do almoço da cantina, flertando mal com a Emily e sendo humilhado no futebol… isso sim era uma vida horrível, mas era minha. Isso aqui é… é uma prisão.
E então, um dia… algo mudou.
As paredes começaram a encolher.
No início, ele pensou que era coisa da cabeça dele. Uma ilusão. Uma alucinação.
Mas não era.
Cada dia, as paredes pareciam mais próximas. O espaço, mais apertado. O teto, mais baixo.
— Tô num maldito triturador humano — disse entre dentes. — Isso é tortura psicológica, não é? É isso?
Precisava sair. Agora.
A única saída era a portinhola por onde a bandeja vinha. Ou melhor… a porta por trás dela.
— Aquele cara entra por algum lugar. Deve ter uma porta aí… só preciso encontrá-la.
Na escuridão, começou a rastejar. Batia a cabeça, os joelhos, os ombros. Estava todo arranhado. Mas depois de um tempo… os dedos sentiram algo diferente.
— Uma fresta… é ela. Achei a porta!
Tentou abrir. Trancada.
— Claro que tá trancada, né, idiota — xingou a si mesmo. — Achou que ia ser fácil assim?
Então, lembrou de algo.
Quando acordou ali, tinha apenas as roupas do corpo… e um pequeno objeto metálico no bolso. Achou que fosse lixo. Mas agora, percebeu: era um grampo. Daqueles que nos filmes os espiões usam pra abrir fechaduras.
— Um grampo… mano, isso é tipo missão impossível, versão falido edition — disse. — Ok… vamos ver se os filmes estavam certos.
Tentou usar o grampo.
Por minutos.
Dez.
Vinte.
Quarenta.
Uma hora.
As paredes já estavam muito próximas. Suava como um condenado. O espaço parecia uma caixa de fósforos.
— DROGA! — gritou. — MALDITOS FILMES MENTIROSOS! Isso nunca foi fácil! Eles fazem parecer tão simples!
Jogou o grampo no chão com raiva.
Tentou outra coisa: bater na porta. Chutar. Empurrar.
Nada.
— Eu vou morrer aqui — disse. — Não é possível…
Ficou em silêncio. E nesse silêncio… flashes começaram a voltar à sua mente. Como se sua consciência estivesse jogando informações de volta ao sistema.
…A chuva.
…O quarto do orfanato.
…Uma fumaça estranha.
…Crianças desmaiando.
…Passos.
…Homens mascarados.
…Uma seringa.
— Eles me doparam… — sussurrou. — Não foi um sequestro comum. Foi… planejado.
O coração começou a acelerar. A respiração ficou pesada. Mas… então ele ouviu um som.
Clac.
A porta destrancou.
Devagar.
Como se alguém estivesse observando… e tivesse se divertido com o desespero dele.
A maçaneta girou… e a luz invadiu o quarto.
Jaden fechou os olhos. A claridade doía.
Na entrada, uma figura alta, de terno preto, máscara metálica e luvas de couro o observava.
— Levanta, garoto — disse o homem, com uma voz firme, grave. — O tempo do caos acabou. Agora começa a ordem.
Jaden apenas olhou, sem entender.
— Quem é você? — murmurou.
— Você vai descobrir. Mas primeiro, vem comigo. Você tem um novo lar agora.
O garoto olhou para a sala escura mais uma vez. O quarto sem luz que quase o engoliu vivo.
E se lá fora for pior? E se for melhor? Talvez eu precise descobrir... do que eu sou feito. — Pensou o garoto.
Respirou fundo.
E seguiu.
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[FIM DO CAPÍTULO]
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