O pátio da Seita Não Ortodoxa estava imerso em um silêncio tenso. O corpo do Ancião Wei jazia no chão, o pescoço quebrado, a prova chocante da natureza do jovem que o Mestre Liang Hong havia trazido. Os discípulos olhavam para Fang Yan, não com medo, mas com uma raiva fria e marcial pela profanação de seu território e pela morte de um superior respeitado.
Shan Tao, o discípulo que acompanhara o Mestre Liang Hong desde a fazenda, deu um passo à frente, sua postura rígida indicando sua posição de proeminência entre os seguidores.
"Mestre da Lâmina Negra," disse Shan Tao, sua voz embargada pela repressão.
"Entendo a necessidade de avaliar talentos, mas este garoto — sem nome e sem cultivo — acabou de assassinar um Ancião respeitado, alguém que estava apenas prestando auxílio. Mesmo sob suas ordens, ele cometeu um ato que exige punição exemplar para preservar a ordem e a autoridade da Seita."
O segundo discípulo mais influente na área, um homem conhecido por sua crueldade em interrogatórios chamado Xu Jin, acentuou a proposta:
"A punição deve ser compatível com a afronta. Sugiro dez chicotadas, Mestre. E para garantir que a lição seja gravada em sua alma, após cada golpe, devemos aplicar o Álcool Demoníaco."
O Álcool Demoníaco era infame na Seita. Dez vezes mais potente que os destilados comuns usados em tortura, era uma substância corrosiva que, ao ser derramada sobre feridas abertas, causava uma dor tão excruciante que levava até mesmo artistas marciais experientes ao desespero e à perda de consciência.
O Mestre Liang Hong limpou o sangue de seu próprio ferimento no rosto com as costas da mão, seu olhar fixo em Fang Yan. Ele estava testando o limite do garoto, a solidez de seu espírito.
"O que você acha, jovem?" perguntou Liang Hong, a voz calma em meio à tensão crescente.
Fang Yan, que tinha acabado de tirar uma vida e estava prestes a ser submetido a uma tortura infernal, permaneceu de pé sobre o corpo do Ancião, sem mostrar um tremor sequer. Ele olhou diretamente para o Mestre da Lâmina Negra, ignorando os discípulos ao redor.
"Tanto faz," respondeu Fang Yan, com uma indiferença que gelou o sangue dos presentes. "Se serão dez, vinte ou trinta chicotadas, não faz diferença para mim."
Ele deu um passo à frente, estreitando os olhos.
"Quero saber o motivo da minha vinda. E por que queria me trazer para cá antes de tudo.
Eu paguei a taxa de entrada, não paguei?"
A resposta atingiu a todos como um choque.
Eles esperavam súplica, medo, arrogância ou até mesmo um pedido de clemência. Mas a surpresa não veio da petulância do garoto em questionar o Mestre após um assassinato.
A surpresa foi a sua absoluta falta de preocupação com a tortura proposta. A indiferença às dez chicotadas e, mais importante, o desprezo pelo uso do Álcool Demoníaco, algo que era temido até pelos veteranos da Seita. Era como se a dor não fosse sequer um fator em sua equação de vida.
O Mestre Liang Hong sorriu, finalmente entendendo a profundidade do vazio naquele jovem. Ele havia encontrado exatamente o que procurava.
"Muito bem. Você terá sua resposta," disse Liang Hong, sua voz agora carregada de uma satisfação malévola. "Xu Jin, Shan Tao. Dez chicotadas. Sem o Álcool Demoníaco."
Os discípulos ficaram confusos. Eliminar o Álcool Demoníaco era uma clemência que ninguém esperava.
"Mestre, mas a ofensa..." começou Xu Jin.
"A ofensa foi reconhecida, e a punição será dada. Mas ele demonstrou que a dor física não é a maneira correta de ensiná-lo," cortou Liang Hong. Ele se inclinou ligeiramente em direção a Fang Yan. "Vamos ver se a dor social e o isolamento são mais eficazes.
Depois das chicotadas, ele será jogado no Buraco dos Ratos. Sem comida, sem água, por três dias."