Era o final do segundo dia de punição de Fang Yan.
O Mestre Liang Hong, apesar de ter proibido estritamente qualquer interferência com o prisioneiro, sentia uma curiosidade incontrolável. Ele se dirigiu ao Buraco dos Ratos acompanhado apenas por Shan Tao.
O objetivo oficial era apenas verificar se o garoto ainda estava vivo e, principalmente, se estava quebrado.
Ao se aproximarem da cela, um cheiro incomum flutuava no ar, disfarçado pela fedentina habitual do calabouço, mas inegavelmente presente: fumaça e carne levemente queimada.
Liang Hong franziu a testa, a cicatriz em seu rosto latejando levemente. A fumaça indicava fogo.
Isso era impossível.
Ele ordenou a abertura da porta de ferro.
A cena interna confirmou suas suspeitas.
Fang Yan estava sentado calmamente no chão sujo, as costas feridas ainda abertas e secas, mas não infeccionadas. No canto, um pequeno e controlado foco de fogo bruxuleava, alimentado por punhados estratégicos de feno.
O que chocou Mestre Liang Hong, no entanto, foi o que Fang Yan estava fazendo. O garoto estava mastigando, lentamente e metodicamente, restos de algo que ele identificou como carne de rato assada, segurando o que parecia ser um osso pequeno.
Liang Hong irrompeu em uma gargalhada rouca e selvagem, misturada com uma ponta de incredulidade.
"Você... você comeu os ratos?"
Fang Yan ergueu o olhar. Seus olhos, embora cansados pela privação de água e sono, mantinham a mesma indiferença fria.
"A fome é uma fraqueza desnecessária,"
respondeu Fang Yan, sua voz calma.
"E, se eu tivesse que comer cru, haveria um risco de doença. O fogo resolveu dois problemas."
Shan Tao, parado atrás do Mestre, estava chocado. Em dois dias, sem ferramentas ou suprimentos, o garoto havia quebrado as regras da punição e encontrado uma maneira de sobreviver e se alimentar, usando apenas a luz do sol e um pedaço de vidro.
Liang Hong acenou com a cabeça, a admiração clara em seu único olho bom. Ele havia levado para casa não apenas um talento, mas uma mente insidiosa e adaptável.
"Sua punição termina agora,"
declarou Liang Hong.
"Três dias parecem desnecessários para um animal como você. Saia."
Fang Yan se levantou sem pressa, jogando o osso fora. Ele passou pelo Mestre da Lâmina Negra, que, no entanto, o segurou pelo ombro, fazendo-o parar.
"Você me perguntou o motivo da sua vinda. Você me perguntou por que eu arrisquei meu próprio olho e o respeito dos meus discípulos para te arrastar para este inferno. Aqui está a sua justificativa,"
disse Liang Hong, inclinando-se para que apenas Fang Yan pudesse ouvir.
Ele gesticulou em direção ao complexo da Seita.
"Este lugar é a Seita da Nuvem Negra. Somos os não ortodoxos, o esgoto do Murim. Aqui, a virtude é fraqueza, e a moralidade é apenas um obstáculo."
Liang Hong apertou o ombro de Fang Yan.
"Você é um reflexo perfeito deste lugar. Você viu seu avô morrer, a única pessoa que se importava com você, e o que fez? Você não chorou. Você sorriu. Você não buscou vingança cega; você buscou a oportunidade de me ferir e, mais tarde, matou um Ancião para ganhar vantagem."
O Mestre da Lâmina Negra se afastou, sua voz crescendo em um tom de pregação distorcida.
"Eu, Mestre da Lâmina Negra, não preciso de força bruta. Eu preciso de mente. Preciso de alguém que consiga pensar como um demônio, planejar como um deus e não sentir arrependimento. Você tem essa mentalidade. O instinto inato de matar, de usar a dor como distração enquanto se liberta das correntes, e a inteligência para cozinhar ratos no subsolo... Você não é humano, garoto. Você é uma ferramenta de alto calibre."
Ele apontou para a cicatriz fresca em seu rosto.
"Essa marca é a sua promessa. Eu te trouxe aqui para que eu possa moldar essa mentalidade brilhante. Você não será um discípulo comum; você será o meu sucessor, o futuro Mestre que não terá limites nem coração."
Liang Hong sorriu.
"Parabéns. Sua audácia ao questionar a punição e sua eficiência em sobreviver a ela me convenceram. A partir de hoje, você não é mais um prisioneiro. Você será meu aprendiz pessoal."