O porto de Torinaka estava em chamas. O cheiro de pólvora misturava-se ao sal do mar, e os gritos de mercadores desesperados ecoavam pelas vielas estreitas. Piratas haviam desembarcado, saqueando tudo em seu caminho. Para os habitantes da ilha, aquilo não era novidade. Torinaka sempre fora um lugar onde a violência era rotina. Mas, naquela noite, algo diferente estava prestes a acontecer.
Kaien caminhava calmamente pelo mercado destruído, o Solar Axe apoiado no ombro. Seus olhos não refletiam medo, apenas uma estranha excitação. O machado vermelho parecia vibrar em sintonia com o caos ao redor, como se estivesse vivo.
Um pirata enorme, com cicatrizes no rosto e um sabre enferrujado na mão, avançou contra ele. "Saia do caminho, moleque!" — gritou, cuspindo saliva.
Kaien não respondeu. Apenas ergueu o Solar Axe e deixou-o cair em um arco lento, quase preguiçoso. O impacto não foi apenas físico. O ar se dobrou, o chão rachou, e o pirata foi lançado contra a parede mais próxima como se tivesse sido esmagado por uma montanha invisível.
Os outros recuaram, assustados. O garoto parecia carregar consigo um peso que não fazia sentido. Não era apenas força bruta. Era algo mais profundo.
Kaien respirou fundo. Fechou os olhos por um instante. E então, sentiu.
O mundo pulsava.
Não era apenas o som do coração em seu peito. Era algo maior. O mar batia contra as rochas em um ritmo constante. O vento soprava em rajadas que seguiam um compasso invisível. Até os passos dos piratas, o ranger das cordas dos navios, tudo parecia seguir uma batida única, como se o próprio mundo tivesse um coração.
Ele abriu os olhos e sorriu. "Então é isso… o pulso pulsante do mundo."
Quando ativou seu Haki, não foi apenas sua presença que pesou. Foi como se ele tivesse se conectado a esse ritmo universal. Cada movimento seu parecia inevitável, como se já estivesse escrito no compasso da realidade.
Um pirata tentou atacá-lo pelas costas. Kaien já sabia. Não porque ouvira, mas porque sentira a intenção antes mesmo de acontecer. Girou o Solar Axe em um arco perfeito, atingindo o inimigo no momento exato em que ele avançava. O corpo voou pelo ar, esmagado pela força invisível que acompanhava o golpe.
Os sobreviventes começaram a recuar, mas Kaien avançou. Cada passo fazia o chão vibrar. Cada golpe deixava uma reverberação no ar, como se o mundo inteiro ecoasse sua vontade.
Kid, que observava de longe, não conseguiu conter o riso. "Esse cara é maluco… mas eu gosto disso."
Killer, silencioso, apenas observava. Seus olhos, sempre frios, brilharam por um instante. Ele reconhecia algo em Kaien. Algo que não era humano.
Quando o último pirata caiu, Kaien apoiou o machado no ombro e olhou para os dois. "Vocês sentiram?"
Kid arqueou a sobrancelha. "Sentir o quê?"
Kaien sorriu. "O mundo pulsa. Tudo tem um ritmo. O mar, o vento, até o coração de vocês. Se eu sincronizar meu Haki com esse pulso… eu não apenas peso. Eu domino."
Kid riu alto. "Você fala como um profeta."
Killer, porém, apenas murmurou: "Não. Ele fala como alguém que já ouviu o rugido do mundo."
Naquela noite, enquanto o fogo consumia parte do porto, Kaien se afastou do campo de batalha e ficou sozinho, encarando o mar. O Solar Axe cravado no chão, sua aura ainda vibrando em forma de dragão.
Ele fechou os olhos novamente. O pulso estava lá, constante, inevitável. "Se eu posso ouvir o mundo… posso esmagá-lo no mesmo ritmo. Se eu posso sentir o futuro… posso destruí-lo antes que aconteça."
E sorriu. O rugido do dragão ecoou em silêncio, acompanhando o compasso invisível do mundo.
