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Chapter 34 - Capítulo 34 – Morte Inevitável

Esta casa, por coincidência, era a de Fugui. O rosto de Fugui estava coberto de marcas de sangue e vergões deixados por chicotadas. Ele olhou horrorizado para Chen Shi, que havia acabado de pular o muro e entrar.

As pernas de Fugui amoleceram, e por um instante ele sentiu vontade de se ajoelhar e implorar por sua vida.

Chen Shi não percebeu o que se passava na cabeça do garoto; olhou ao redor e perguntou baixinho:

"Fugui, onde estão seus pais?"

Os pais de Fugui não estavam em casa — apenas ele.

Com a voz trêmula, Fugui respondeu:

"E-estão lá fora... cozinhando..."

"Cozinhando?"

Chen Shi franziu levemente a testa, empurrou a porta e saiu.

Vendo-o ir embora, Fugui finalmente soltou um suspiro de alívio.

Antes, ele não sabia quem Chen Shi era e por isso se atrevia a chamá-lo de amigo. Depois que Chen Shi o salvara, passou a vê-lo como um benfeitor — e se sentia um tanto constrangido diante dele.

Mas quando soube que Chen Shi era o lendário "garoto morto", tudo o que restou dentro dele foi medo.

"Uma criança que morreu e voltou à vida não é mais humana. Quem sabe se aquele corpo é habitado pelo próprio garoto... ou por um fantasma?"

Foi o que sua mãe dissera.

"Mesmo que seja a alma dele, virou fantasma antes de voltar a ser gente!"

Chen Shi saiu da casa de Fugui e seguiu pela rua. Aos poucos, começou a ouvir gemidos vindos das casas ao redor.

Eram pessoas tentando gritar de dor, mas como se tivessem medo, só conseguiam soltar lamentos abafados.

Ele olhou para todos os lados — não havia um único morador à vista.

A cada poucos passos, porém, via um guarda da Jinyiwei de pé à beira da estrada.

Os guardas o viram — um garoto saindo da casa de Fugui — e, achando-o inofensivo, nada perguntaram.

Os gemidos tornavam-se cada vez mais fracos, mas ainda vinham de dentro das casas.

Ele chegou ao centro da vila de Huangyang, onde havia um terreno aberto. Além das ruínas de um templo, havia algumas árvores grandes, cujas sombras cobriam boa parte do chão.

Ali, mais de uma dezena de moradores de Huangyang trabalhavam ao ar livre. Haviam montado quatro fogões com panelas de ferro fervendo água quente. Havia vapores subindo de cestos de bambu — cozinhavam e preparavam comida.

Um velho tirava galinhas e patos da água quente para depenar. Três homens fritavam pratos, e algumas mulheres lavavam verduras, carne e ovos junto ao poço. Perto da bancada, outro homem cortava legumes e dispunha pratos.

Em volta, vários guardas da Jinyiwei observavam atentamente.

Apesar da aparência movimentada, todos os aldeões estavam feridos, com marcas de chicote pelo corpo e rosto.

Era quase meio-dia — hora do almoço. Pelo volume da preparação, parecia que estavam montando um grande banquete, esvaziando os recursos de todas as famílias.

Enquanto Chen Shi observava, um dos guardas, vendo seu rosto limpo e infantil, gritou:

"Ei, garoto! Venha cá! Você vai levar os pratos!"

Chen Shi se aproximou.

"Quando terminarem de cozinhar, leve a comida para o templo."

O guarda segurava um chicote de couro e disse:

"Lá dentro estão nobres da capital. Saiba o seu lugar — não pergunte o que não deve, nem ouça o que não deve. Entendeu?"

"E-entendi!" Chen Shi assentiu repetidas vezes.

Os aldeões ao redor ouviram sua voz e o olharam pasmos, como se estivessem petrificados.

O guarda estalou o chicote e zombou:

"O que estão olhando? Trabalhem! Você aí — vá fritar! Rápido!"

O homem a quem ele apontava era o pai de Fugui.

Ele veio apressado, olhou discretamente para Chen Shi e, sem dizer nada, abaixou a cabeça e começou a cozinhar.

Ele era o cozinheiro da vila — em casamentos e funerais de dez vilas ao redor, todos o chamavam. Seus pratos talvez não fossem tão refinados quanto os dos mestres das tavernas da cidade, mas o sabor não ficava atrás.

Em pouco mais de quinze minutos, preparou quatro pratos.

Chen Shi colocou uma toalha branca no pulso, pegou a bandeja e seguiu em direção ao templo.

O pai de Fugui abriu a boca, mas não ousou dizer nada.

Ao chegar à porta do templo, Chen Shi viu, entre as ruínas do santuário, um corpo estirado no chão — a cabeça aberta, o sangue e o cérebro misturados em uma poça. O homem estava de bruços.

Chen Shi reconheceu metade do rosto.

Era Sanwang.

O sangue lhe subiu ao peito, depois à cabeça; tudo ficou em branco. O som do sangue correndo em seus ouvidos parecia o rugido do vento.

Por um instante, lembrou-se do estranho sonho da noite anterior — Sanwang o avisando para fugir.

Então era verdade...

Sanwang estava morto.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, acalmando o coração.

De cabeça baixa, cruzou o alto batente e entrou no templo.

O interior não era mais o mesmo que antes — os tapetes de oração, o altar e as estátuas haviam sido removidos.

Agora havia uma cama Luohan e quatro cadeiras de bambu. Um jovem erudito estava sentado na cama, jogando xadrez com uma jovem dama de aparência refinada.

Nas outras cadeiras sentavam-se mais quatro jovens eruditos, todos vestidos como nobres estudiosos — alguns bebendo chá, outros comendo frutas secas, relaxados e à vontade.

Eram claramente descendentes da família Zhao, criados no conforto, sem qualquer ar de matança.

Atrás deles, porém, estavam seis guardas da Jinyiwei. Um deles era enorme — duas vezes o tamanho de um homem comum, tão robusto quanto um urso em pé. Seu rosto era amarelado, o olhar feroz, e carregava nas costas uma espingarda de três canos, ainda manchada de sangue seco.

No centro do templo, havia uma mesa quadrada com seis cadeiras.

O templo era pequeno — com todos esses móveis, doze pessoas e o santuário ao fundo, o espaço parecia apertado.

Os olhos de Chen Shi percorreram os jovens Zhao. Nenhum exalava perigo, mas os seis guardas atrás deles o deixavam em alerta.

Atrás da cabeça de cada guarda flutuava um pequeno altar espiritual — a manifestação de seu shen-tai, o embrião divino. Mantinham-se constantemente em estado de prontidão — guerreiros veteranos, muito acima dos capangas comuns de Li Xiaoding.

Eles eram combatentes de verdade!

Chen Shi lembrava-se de quando enfrentara três guardas Zhao na estrada — vencera apenas graças ao elemento surpresa, ao terreno e à emboscada final. Se fosse um confronto direto, não teria resistido a um único golpe!

E ali havia seis deles — todos do mesmo nível, e um deles ainda mais perigoso.

Dos seis, o mais temível era o da extrema direita — o "urso". Além da força física, emanava um cheiro denso de sangue e morte. Sem dúvida, havia matado muitos.

Assim que Chen Shi entrou, todos os olhares se voltaram para ele.

Como guardas experientes, bastaria o garoto demonstrar o mínimo sinal suspeito e seria morto na hora por uma lâmina espiritual.

De repente, uma voz ecoou do canto — o grande gordo "shen-xiang" estava encolhido ali, os olhos arregalados ao ver Chen Shi:

"É ele! Ele é Chen Shi, o assassino! Ele vai matar todos vocês!"

Mas além de Chen Shi, ninguém o ouviu.

Chen Shi caminhou com passos firmes até a mesa dos nobres.

O jovem na cama Luohan era o Terceiro Filho da família Zhao — Zhao Yue. A jovem que jogava com ele era sua irmã, Zhao Xue'e, elegante e serena como uma dama da alta sociedade.

Zhao Yue endireitou o corpo, cheirou a comida e comentou:

"O cozinheiro da aldeia tem talento. O aroma é excelente. Senhores, vamos comer."

Chen Shi colocou os pratos sobre a mesa, pegou a toalha do braço e limpou o tampo cuidadosamente.

Zhao Yan deu um passo à frente para puxar a cadeira, mas Chen Shi se apressou em limpá-la antes.

Zhao Yan riu:

"Terceiro Irmão, este garoto é esperto! Difícil encontrar crianças tão espertas no interior!"

Chen Shi limpou uma a uma as cadeiras e convidou os outros a se sentarem.

Durante o processo, sentia o olhar do guarda-urso fixo nele, a mão sempre no cabo da espingarda.

A pressão era sufocante. Chen Shi fingia limpar, mas avaliava oportunidades. No entanto, sabia — se atacasse agora, teria o crânio esmagado no instante seguinte.

Ele terminou de limpar, colocou a toalha no braço e virou-se para sair.

Ainda não havia oportunidade.

Então esperaria.

"Espere!"

A voz grave do guarda-urso ecoou, fazendo vibrar os tímpanos.

Chen Shi parou. Mil pensamentos cruzaram sua mente. Tinha revelado algo?

O guarda disse:

"Prove os pratos."

Chen Shi virou-se, pegou um par de hashis.

Zhao Xue'e riu:

"Helian Zheng, você é cuidadoso demais."

O homem respondeu:

"Cautela nunca é demais. Ontem um homem foi morto, e todo o vilarejo foi castigado. Quem garante que esses camponeses não colocaram veneno na comida? Garoto, prove cada prato. Depois de comer, não saia ainda."

"Sim, senhor." Chen Shi assentiu e pegou o primeiro prato.

Era aipo com cogumelos pretos — crocante, aromático e refrescante.

Depois provou o segundo: frango picante com pimentas verdes e vermelhas, carne tenra e sabor marcante.

O terceiro era pato com sangue, rico e apimentado.

Quando tentou alcançar o quarto prato, o braço não alcançou, então contornou a mesa.

Ajoelhou-se levemente e pegou um pedaço do prato — rã frita com sal e pimenta.

No momento em que colocou o pedaço na boca, congelou.

Agora estava do outro lado da mesa, frente a frente com Helian Zheng. Os demais, vendo-o comer o quarto prato, relaxaram e começaram a conversar. Só Helian Zheng continuava em alerta.

Este é um bom momento... mas não o ideal.

Pensou, mastigando lentamente. Ainda teria uma segunda chance, quando trouxesse mais comida.

Zhao Xue'e, ao lado dele, perguntou ao irmão:

"Terceiro Irmão, por que Fu Shanke e os outros ainda não voltaram?"

Zhao Yue respondeu, pensativo:

"Estranho... a essa altura, já deveriam ter capturado Chen Shi... Espere!"

Seus olhos se arregalaram. Ele notou algo: a pele do garoto estava limpa, sem marcas.

Como é possível?

Todos na aldeia haviam sido chicoteados, mas o garoto diante dele — o entregador de comida — não tinha uma única cicatriz!

Zhao Yue, líder nato, percebeu a verdade em um instante. Disfarçando o pânico, lançou um olhar para Helian Zheng.

O urso entendeu, deu um passo à frente e, sem mudar a expressão, levou a mão à espingarda.

Zhao Yue abriu um sorriso:

"Já que a comida não tem problema—"

"Chi!"

Os olhos de Zhao Yue se arregalaram em descrença. Um par de hashis atravessou sua têmpora direita e saiu pela esquerda, manchados de sangue.

Chen Shi havia cravado o palito inteiro em sua cabeça.

Zhao Yue mal pôde pensar: Por que ele atacou agora...?

Mas antes que pudesse entender, Chen Shi levantou a mão esquerda — o segundo palito penetrou direto no peito de Zhao Xue'e, atravessando-lhe o coração.

Ela virou o rosto, surpresa, sem nem sentir dor, tamanha a velocidade do golpe.

Onde foi que deixei escapar algo...? pensou Chen Shi, confuso.

—— Agradecimentos a Jin Bù Yi pela recompensa em prata! Graças a ele, Chen Shi subiu para Estrela de Nível 2!

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