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Chapter 24 - Capítulo 24 — O Talismã Nasce do Coração, o Vento Surge por Si

Chen Shi observou a cena diante de si, completamente encantado:

"Se eu também soubesse fazer isso, da próxima vez que me deitar num caixão, vou parecer muito estiloso e imponente."

O avô ativou a bússola, e a carroça de madeira começou a se mover para fora da montanha.

"Vovô, esse neto do Príncipe Xiao também precisa ficar num lugar de criação de cadáveres pra se recuperar?" perguntou Chen Shi, levantando o rosto.

O avô manteve os olhos na bússola e respondeu:

"Quando chegarmos ao vilarejo, não faça perguntas sobre os outros."

Ao ouvir isso, Chen Shi não insistiu. Apenas virou a cabeça, observando o misterioso vilarejo escondido nas montanhas, o coração tomado pela curiosidade.

Aquela propriedade fora construída pelo avô junto de um grupo de pessoas de origens enigmáticas. Cada um que chegava ali jamais perguntava sobre a origem ou o passado dos outros, e todos obedeciam, sem necessidade de combinar, a certas regras estranhas.

"Parece o comportamento de uma quadrilha de criminosos."

Chen Shi piscou e pensou:

'O vovô com certeza aprontou muito no passado. Deve ter cometido várias maldades. Mas, por mais que tenha feito, ele ainda é o meu avô.'

Os dois voltaram à vila Huangpo. Pouco depois, um grito desesperado ecoou do quarto de Chen Shi:

"Cadê minhas maçãs-do-amor?! E meus bolinhos de arroz?! E meus docinhos de açúcar?! Quem roubou?! Qual desgraçado roubou meus tesouros?!"

O avô estava desenhando talismãs quando Chen Shi saiu furioso do quarto, com o rosto escurecido e o olhar assassino.

"Com certeza foram as outras crianças da vila! Aproveitaram que eu não estava e roubaram minhas maçãs-do-amor, meus bolinhos e meus bonecos de açúcar! Eu nem tive coragem de comer, e eles comeram tudo! Vou pegar todos eles!"

Ele marchou para fora, indignado:

"Hora de aplicar tortura!"

O avô o chamou, calmamente:

"Ninguém roubou suas coisas. Eu as joguei fora. Você dormiu por sete dias, já estavam estragadas."

O rosto de Chen Shi murchou na hora. Depois de um instante, animou-se de novo e pediu:

"Vovô, aquelas guloseimas que o senhor comprou da última vez... eu nem comi direito, só um pedacinho por dia, pra durar mais. O senhor podia comprar mais um pouco pra mim?"

"Sem dinheiro."

O velho ergueu os olhos, sem parar de desenhar:

"Você não ganhou quatro taéis de prata quando exorcizou o mal na vila Huangyang? Me entrega o dinheiro. O vovô guarda pra você comprar uma esposa... digo, pra casar... e também te compra mais guloseimas."

Chen Shi arregalou os olhos:

"Eu não recebi dinheiro nenhum!"

O avô continuou desenhando e disse com naturalidade:

"Quando lavei suas roupas, encontrei quatro taéis de prata no bolso. Se não são seus, então são meus."

"Plof."

Chen Shi empalideceu, as pernas amoleceram e ele caiu de joelhos, o rosto tomado pelo desespero — parecia que a própria vida havia perdido o sentido.

Depois de um tempo, o avô suspirou, talvez um pouco tocado, e jogou-lhe um pequeno pedaço de prata:

"Toma, um tael pra você. Agora levante-se."

Chen Shi agarrou a prata como se fosse um tesouro e começou a chorar de alegria:

"Obrigado, vovô! Obrigado!"

O cachorro Preto, deitado num canto, revirou os olhos e pensou:

'O pequeno mestre não faz ideia de quem arriscou a vida pra ganhar esse dinheiro. Os quatro taéis eram dele, e agora o velho dá só um e ele ainda agradece... De novo caiu na conversa do velhote.'

"Au au!"

Chen Shi chamou o cachorro com um pedaço de carne de besta exótica na mão, escondendo algo atrás das costas. Preto se levantou preguiçosamente e andou até ele.

No instante seguinte, Chen Shi revelou a faca escondida, rindo de modo sinistro enquanto agarrava o cachorro.

Preto mordeu a carne, resignado ao próprio destino.

Chen Shi tirou um pouco de sangue do cachorro e se trancou no quarto, mexendo em algo misterioso.

Preto, acostumado às loucuras do dono, nem se importou. Só levantou a cabeça quando Chen Shi saiu com uma pilha grossa de talismãs e começou a amarrá-los nas quatro patas dele.

O cachorro ficou assustado e tentou morder os papéis, mas parou ao ver que Chen Shi também amarrava dois talismãs nas próprias pernas.

Os símbolos nos talismãs eram complexos — caracteres de vento enrolados, com a inscrição "Montar nas Nuvens", acompanhados de selos das Sete Estrelas da Ursa Maior e dos Seis Ding e Seis Jia.

Era exatamente a estrutura de um Talismã de Cavalo Celestial.

Chen Shi lembrava-se do confronto com o Velho do Pincel de Ferro e Zhao Ming, que haviam usado esse tipo de talismã para se mover rapidamente. Desde então, ele sonhava em testá-lo.

Agora, com o corpo curado, decidiu experimentar.

Canalizou um fio de energia quase dissipando e ativou os talismãs presos nas pernas dele e do cachorro.

"Preto, coisa boa a gente compartilha."

Deu um passo à frente, sorrindo:

"Esses talismãs foram feitos com o seu sangue. Claro que você também vai participar!"

Assim que deu o passo, sentiu uma brisa fresca brotar sob os pés. Seu corpo deslizou suavemente para frente, avançando mais de cinco metros num só movimento!

E, antes mesmo de tocar o chão, outro sopro de vento o ergueu alguns centímetros, impulsionando-o para frente sem esforço.

Chen Shi ficou maravilhado. Deu outro passo — dessa vez, avançou quase dez metros!

Era como se andasse sobre o vento, sem resistência alguma, como deslizar sobre uma superfície de gelo macia e elástica.

Com cada passo valendo por seis ou sete passos normais, ele se sentia leve e ágil.

O cachorro Preto, normalmente contido, animou-se ao ver o dono deslizando pelo ar. Sem pensar duas vezes, disparou com as quatro patas.

"Shiuuu!"

Uma sombra negra atravessou a vila como um raio. O vento soprou tão forte que as janelas das casas de Huangpo bateram freneticamente.

Ao longe, um estrondo ecoou. Chen Shi olhou e viu o cachorro cravado numa parede de barro do outro lado da rua — como um projétil.

Assustado, correu até lá. Preto estava tentando arrancar a cabeça da parede, deixando um buraco perfeito em formato de focinho.

A parede era da casa do Velho Zhou.

Ao ver o cachorro da família Chen destruindo sua parede, o Velho Zhou não ousou dizer nada.

Preto sacudiu a cabeça tonta e, de repente, seus olhos brilharam de empolgação. Com um uivo, voltou a correr, levantando redemoinhos de vento.

"Au! Au!"

Os latidos ecoaram à distância. Chen Shi tentou alcançá-lo, mas o cachorro era ainda mais rápido — afinal, tinha quatro patas.

"Shiuu!"

Um som cortante passou por ele. Preto ziguezagueava pela vila, correndo em círculos tão velozes que levantou uma tempestade de poeira e assustou galinhas e cachorros por todo lado.

Logo, o cão disparou em direção às montanhas. Os pássaros voaram em pânico, e as árvores balançaram sob a ventania.

Chen Shi, preocupado que algo acontecesse, correu atrás — mas era impossível alcançá-lo.

"Quatro patas correm mesmo mais rápido que duas." pensou.

De repente, um vendaval se ergueu diante dele — e lá estava Preto, de volta, arfando com a língua de fora, abanando o rabo com entusiasmo.

Antes que Chen Shi entendesse, o cachorro sumiu de novo num sopro de vento e logo reapareceu, trazendo na boca a pequena faca usada para tirar o sangue. Depois, desapareceu e retornou com o tinteiro.

Em poucos instantes, havia trazido todos os instrumentos que Chen Shi usava para desenhar talismãs.

Chen Shi compreendeu e sorriu, um pouco sem jeito:

"Preto, você já perdeu sangue duas vezes hoje — uma agora e outra de manhã, quando o vovô desenhou talismãs. Se tirar mais, seu corpo não vai aguentar..."

"Au au!"

Preto latiu alegremente, pulando em volta dele, insistindo para que fizesse mais talismãs. O poder dos que usava já estava se esgotando.

Sem escolha, Chen Shi atendeu o pedido. Usou o sangue do cachorro, misturou com o pó de cinábrio e desenhou vários novos Talismãs de Cavalo Celestial.

Preto disparou outra vez, sumindo no horizonte, o som do vento zunindo atrás dele.

Depois de correr sem parar por um bom tempo, finalmente cansou, deitando-se ofegante, mas com o olhar cheio de energia e satisfação.

Chen Shi guardou os talismãs restantes e, de repente, teve uma ideia.

Algum tempo depois, foi até a vila Huangyang visitar seu único amigo vivo — Liu Fugui.

Liu Fugui já havia se recuperado bastante, mas, estranhamente, parecia muito respeitoso e até assustado com ele, sem a leveza de antes.

Chen Shi saiu cabisbaixo.

"Fugui tem medo de mim... Ele não é mais meu amigo. Quase se ajoelhou diante de mim, com os olhos cheios de pavor. É igual aos outros agora."

Na vila Gangzi, vivia a famosa Velha Sha, uma sacerdotisa conhecida por poder invocar espíritos.

Todos na região sabiam: a madrinha de Chen Shi protegia os vivos, mas a Velha Sha podia chamar os mortos.

Quem sentia saudade de entes falecidos vinha até ela para que evocasse suas almas.

Às vezes, também chamavam espíritos de familiares mortos para descobrir onde haviam escondido o dinheiro antes de morrer.

E havia os vingativos — assassinos que pediam para trazer de volta as almas de suas vítimas, apenas para castigá-las com chicotadas, fogo e água.

Naquele dia, a Velha Sha estava realizando um ritual para uma viúva, evocando o espírito do marido morto. A mulher queria discutir a venda dos bens da casa e o novo casamento, pedindo permissão ao falecido para mudar o sobrenome do filho.

Claro, mesmo que o morto se opusesse, nada poderia fazer.

De repente, uma fresta de luz atravessou a sala escura, assustando o espírito invocado, que soltou um grito horrível.

A Velha Sha olhou — e viu uma cabecinha espiando pela porta. Era Chen Shi.

Ele abriu um sorriso largo, mostrando os dentes brancos.

O coração da velha apertou. Apressou-se em dispensar a viúva e perguntou:

"Xiao Shi, o que faz aqui? E o seu avô?"

Ela estava inquieta. Sozinha com aquele garoto, sentia um medo inexplicável.

Chen Shi carregava um cesto cheio de ovos de pato azulados e algumas frutas. Sorriu e disse:

"Meu avô está em casa. Vim trazer alguns produtos da nossa vila pra senhora."

Surpresa, a velha pegou o cesto:

"Seu avô cuidou disso? Que trabalho pra ele!"

"Não foi o vovô que plantou, foram vizinhos bondosos que deram."

Chen Shi falou docemente, pegando uma ameixa e oferecendo:

"Prove, vovó Sha. Está docinha e azedinha!"

A velha mordeu a fruta e deu uma risadinha:

"Seu avô, o velho Chen Yin, nunca soube dizer uma palavra gentil. Como pode ter um neto tão doce e educado? Que encanto!"

A ameixa era um pouco azeda, mas o coração dela se encheu de doçura.

Mesmo assim, ainda se sentia inquieta e disse:

"Está ficando tarde. Volte pra casa antes que escureça."

Chen Shi respondeu sorrindo:

"Não se preocupe, vovó Sha. Eu tenho talismãs de cavalo celestial amarrados nas pernas. Corro rapidinho, chego em casa num instante! Ah, e seu jarro de água está vazio. Vou buscar um pouco pra senhora."

Sem esperar resposta, pegou o balde e foi até o poço.

Em pouco tempo, encheu o jarro, varreu a casa, lavou a louça e as roupas, e até as estendeu ao sol.

A velha o observava, desconfiada, e por fim perguntou:

"Quando alguém é atencioso demais sem motivo, é porque quer algo. Diga logo, o que veio fazer aqui?"

Chen Shi limpou as mãos no calção e abriu um sorriso bajulador:

"Meu avô disse que a vovó Sha sempre gostou de mim. Quando eu era pequeno, a senhora até me pegou no colo. E quando eu adoeci, tentou até chamar minha alma de volta. Desta vez, a senhora me salvou de novo, então eu quis retribuir."

A velha Sha riu friamente:

"Seu avô já me pagou. Eu te salvei por negócio, não por bondade. Não devo nada, e você não precisa me agradar. Agora fale: o que quer de verdade?"

Percebendo que não podia esconder, Chen Shi disse:

"Vovó, nos arredores do monte Qianyang há alguma montanha desolada, ou templo abandonado, que tenha surgido de repente, esquecido por todos e sem oferendas? Quanto mais antigo, melhor."

A velha franziu o cenho, intrigada:

"E por que você está procurando um lugar desses?"

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