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Chapter 2 - Capítulo 2 – Honesto e de Bom Coração

Sob o velho salgueiro, o fantasma do erudito mantinha-se calado e sombrio. Seu nome era Zhu Youcai.

Foi ali que ele se enforcou — a língua pendendo por quase um palmo, o rosto roxo como fígado de porco. Difícil seria parecer menos assustador.

"O Pequeno Shi não é nada honesto," — murmurou ele para si mesmo — "usou meu nome para dizer que aquela moça era feia."

Logo em seguida pensou:

"Mas, convenhamos… embora ela não seja feia, tem um coração pérfido. Não sei se o Pequeno Shi conseguirá lidar com ela."

Como estava em forma de espírito, ninguém podia vê-lo nem ouvi-lo.

Mesmo transformado em fantasma, preso àquela árvore antiga, não conseguia deixar o local nem avisar o avô de Chen Shi.

"Os bonecos de porcelana de que a irmã mais velha falou devem ser aquele grupo de criaturinhas que aparecem só ao entardecer. Elas saem do meio da grama, cochichando entre si."

Chen Shi respondeu com segurança:

"Elas falam muito rápido e baixinho, não dá pra entender o que dizem. Se alguém se aproxima, elas voltam a se esconder, e não importa o quanto se procure, não se acha nenhuma. Assim que as pessoas vão embora, elas reaparecem. Quando o dia amanhece, somem de novo. É isso que a irmã mais velha está procurando, não é?"

De fato, ele as vira muitas vezes e até brincava com elas, por isso era bem familiarizado.

A mulher de roupas roxas e os homens de uniforme negro — as vestes dos "Peixes Voadores" — se entreolharam, animados.

"Senhora, o garoto descreveu tudo com tanta clareza… deve estar por perto!" — disse um deles, chamado Fang He, sorrindo. "Dizem que aqui existe mesmo o túmulo de um Verdadeiro Rei! Aqueles bonecos são, sem dúvida, oferendas que ganharam vida! Se conseguirmos essas relíquias…"

A mulher de roxo lançou-lhe um olhar fulminante, os olhos amendoados arregalados de raiva.

Fang He gelou e calou-se de imediato.

Ela olhou para Chen Shi — o garoto parecia ingênuo, claramente sem entender o que significava "túmulo real" ou "espíritos cultivados" — e suspirou, aliviada.

"Irmãozinho, você pode nos levar até o lugar onde esses bonecos somem?" — perguntou ela, num tom suave.

Chen Shi hesitou:

"Meu avô está me esperando em casa pra jantar…"

A mulher riu baixinho:

"A irmã mais velha tem algo delicioso aqui. É feito de bestas espirituais e ervas raras — aposto que é muito melhor que a comida da sua casa."

Ela bateu palmas e logo trouxeram um pouco de carne seca.

Chen Shi comeu um pedaço. Era de fato saborosa e, satisfeito, concordou em guiá-los.

Enquanto seguiam o garoto, a mulher perguntou:

"Irmãozinho, qual é o seu nome?"

"Me chamo Cheng Shi," — respondeu ele, com total sinceridade — "o mestre que me ensinou a ler disse que 'Cheng' é de 'honesto' e 'Shi' é de 'real'. Então todos na vila me chamam de Pequeno Cheng Shi. Eu nunca conto mentiras!"

Os homens reprimiram o riso.

"Quem já ouviu falar de alguém com o sobrenome 'Honesto'?" — cochicharam. "Esse professor do interior não sabe nada mesmo."

Fang He, porém, franziu o cenho e sussurrou à mulher de roxo:

"Senhora, há algo estranho nesse garoto…"

Ela já o observava atentamente e respondeu em voz baixa:

"Também notei."

Seu olhar tinha um brilho curioso.

"Quem diria que uma criança tão nova já é um cultivador…"

À frente, Chen Shi mastigava carne seca, sem saber que seu corpo exalava leves ondulações de energia espiritual — um fluxo de verdadeira essência, nada fraco.

Atrás de sua cabeça, um brilho sutil começou a emergir — uma espécie de altar espiritual feito de luz, aparecendo e desaparecendo como um reflexo distante.

A carne seca, preparada com bestas espirituais e ervas raras, continha energia pura. Assim que ele a digeriu, a energia refinou-se, revelando involuntariamente seu nível de cultivo.

"Reino da Condensação de Qi… Estágio do Útero Divino!" — murmurou a mulher. "Ele já formou um santuário espiritual; deve ter recebido a bênção de uma verdadeira divindade! Na capital provincial, um garoto assim já poderia participar dos exames imperiais! Um erudito aos dez anos…"

Ela ficou pasma.

O caminho da cultivação divide-se em cinco grandes estágios: Condensação de Qi, Transformação Divina, Refinamento Espiritual, Retorno ao Vazio e União com o Dao.

O primeiro — Condensação de Qi — subdivide-se em Condensação, Fundação, Altar Divino e Útero Divino.

Alcançar o Útero Divino era notável: significava poder participar dos exames e conquistar título oficial.

No mundo atual, estudo e cultivação andavam lado a lado.

Os estudiosos eram cultivadores; quem se destacava nos exames tornava-se funcionário do império.

Chen Shi, com pouco mais de dez anos, já no estágio do Útero Divino — uma raridade digna de admiração!

Se obtivesse um título oficial, causaria espanto em todo o país.

A mulher de roxo e seus subordinados — vindos de uma poderosa família da capital da província de Xinxiang — ficaram boquiabertos.

Mas então ela percebeu algo errado.

O altar espiritual atrás da cabeça do garoto começou a vacilar, como fumaça soprada pelo vento, prestes a se dissipar.

Ela correu até ele e olhou atentamente — o altar estava vazio.

Nenhum Útero Divino dentro dele!

Num piscar, o altar se desfez e o fluxo de energia sumiu — Chen Shi voltara a parecer um garoto comum.

Os homens também viram e trocaram olhares perplexos.

"Com uma estrutura espiritual tão firme, ele deveria ter formado o Útero Divino," — sussurrou ela — "Por que o altar está vazio? E por que o poder dele desapareceu de repente?"

Era um mistério. O altar dele era tão estável que nem alguns mestres do nível seguinte poderiam igualar-se — certamente ele já alcançara o Útero Divino, mas sem o próprio útero, seu altar parecia prestes a ruir.

Fang He soltou um leve riso.

"Senhora, vinda de uma grande família, talvez não conheça as trevas do mundo. Um gênio surgido no campo nem sempre é bênção — pode ser desgraça. Há nobres que, incapazes de alcançar o estágio do Útero Divino por si mesmos, contratam especialistas para caçar jovens talentosos e sem proteção, arrancando-lhes o útero e transplantando-o em seus próprios filhos. Aposto que esse garoto foi vítima disso."

A mulher empalideceu.

"Arrancar o útero divino de alguém… e ele ainda estar vivo?"

Fang He franziu o cenho.

"Normalmente não. O procedimento exige abrir o crânio; quem perde o útero morre sem exceção. Mas por que esse menino ainda respira?"

Casos assim eram comuns na dinastia Ming.

Fang He tocou a parte de trás da cabeça do garoto e sentiu uma cicatriz longa, de três a quatro polegadas, com o osso levemente elevado.

"Cheng Shi, não se mexa." — Ele afastou o cabelo do garoto.

A cicatriz era vermelha, como uma grossa centopeia viva sobre o crânio.

Chen Shi continuou mastigando, indiferente.

A mulher de roxo prendeu a respiração.

"Abriram-lhe o crânio… e ele sobreviveu? Um milagre."

Sem o útero, qualquer energia espiritual é como árvore sem raiz, rio sem nascente — desaparece.

A carne espiritual que ele comeu momentaneamente reacendeu sua energia, mas sem o útero, tudo não passava de ilusão.

Fang He recuou um pouco e murmurou:

"Senhora, ouvi que no ano passado o filho do magistrado Li de Niuniu County, Li Xiaoding, surpreendeu a todos no exame regional e se tornou o primeiro colocado. Mas dizem que ele era tolo e incapaz de cultivar — que teria roubado o útero de um jovem pobre…"

A mulher tossiu, interrompendo-o.

"O magistrado Li pode ter pequeno posto, mas sua família é poderosa. O método que o jovem Li usou para se tornar erudito não nos diz respeito. Quanto a esse garoto… é uma pena."

Ela olhou para Chen Shi e ordenou friamente:

"Quando terminarmos aqui, deem-lhe um fim rápido. Nada de sofrimento."

Depois voltou o olhar para o vilarejo ao longe, com doçura na voz:

"E o vilarejo também. Que seja destruído junto com ele, para que ninguém saiba do túmulo real. Não queremos rumores dizendo que a família Zhao age de má-fé. Depois que acharmos o túmulo, limpe tudo com discrição."

Fang He curvou-se.

"Sim, senhora."

Chen Shi manteve o rosto tranquilo, mas suas orelhas se moveram.

Mesmo sem útero, sua audição era apurada. O diálogo, embora sussurrado, não lhe escapou.

"Eles planejam matar a mim e ao vilarejo todo… São os verdadeiros culpados. Segundo o mestre, é preciso cortar o mal pela raiz."

"Eu certamente não posso vencê-los — ainda não domino a força capaz de curvar fantasmas e deuses. Então, como disse o mestre, é melhor 'matar com a faca alheia'. Suas palavras são mesmo cheias de sabedoria…"

Um sentimento de respeito pelo mestre o invadiu.

Ele diminuiu o passo, fazendo sinal para que os outros se aproximassem.

Logo à frente, junto a um riacho, mais de dez pequenos seres — com pouco mais de um palmo de altura — brincavam alegremente.

Tinham feições humanas perfeitas, pele branca, roupas verdes — pareciam vivos, mas ao tocarem-se faziam o som claro de porcelana.

Os bonecos de porcelana jogavam água, pegavam peixes e riam às gargalhadas, emitindo sons estranhos, incompreensíveis, mas que entre eles pareciam ter sentido.

Os olhos da mulher brilharam.

"São eles! As oferendas do túmulo que ganharam vida! Se os seguirmos, encontraremos o túmulo do Verdadeiro Rei!"

Chen Shi avançou um passo, pisando num galho seco.

Um dos bonecos o percebeu e gritou, o som agudo como o de um pássaro.

Imediatamente, os outros bonecos mudaram de expressão, cerraram os punhos e correram na direção dele furiosos.

Quando viram a mulher e seus homens, gritaram surpresos e fugiram para dentro dos arbustos, soltando insultos farfalhantes, como se xingassem Chen Shi por ter trazido reforços.

Os homens correram atrás, afastando a vegetação, mas logo perderam o rastro — a floresta era densa e enevoada, cheia de sombras.

Foi então que a mulher sussurrou:

"Sigam Cheng Shi!"

Eles o viram correndo ágil e confiante, como se conhecesse cada pedra e cada árvore, perseguindo os bonecos com facilidade.

Era difícil seguir os bonecos, mas fácil seguir o garoto, então o grupo o acompanhou, penetrando cada vez mais fundo na mata.

As árvores ficaram cada vez mais altas e espessas, a luz mal filtrando pelas copas.

De

repente, Chen Shi sumiu.

Quando correram até o ponto onde ele estava, viram as árvores crescerem descontroladamente, os troncos erguendo-se até o céu — ou talvez…

"Não!" — gritou um deles. "Não foram as árvores que cresceram, fomos nós que encolhemos!"

Em pânico, olharam uns para os outros: tinham menos de um palmo de altura.

A mulher olhou para sua própria pele e, trêmula, bateu de leve no braço.

Um som de porcelana ecoou.

Ela quase desmaiou.

Transformara-se num boneco de porcelana.

E seus guardas também.

"Um domínio espiritual!" — gritou ela. "Entramos num domínio de fantasmas e deuses! Espere… Cheng Shi!"

O nome escapou de seus lábios num sussurro de terror.

"Ele já esteve aqui… sabia o que aconteceria… Por que então nos trouxe até este lugar?"

Ela estremeceu.

"Cheng Shi… será mesmo tão honesto quanto diz?"

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