Cherreads

Chapter 4 - Capítulo 4 – A Retidão das Três Luzes

"Gente de Xinxiang vem procurar tesouros e ainda assim precisa matar para silenciar testemunhas?" Chen Shi, agora em forma de boneco de porcelana, fugia daquele domínio de fantasmas e deuses, saltando e correndo pelas montanhas com agilidade impressionante.

Os aldeões de Huangpo nunca se importaram com o tal Túmulo do Verdadeiro Rei, e Chen Shi também não. Se aquelas pessoas tivessem vindo apenas para buscar tesouros, sem intenção assassina, ele até os teria guiado até o túmulo verdadeiro.

Mas, infelizmente, todos os que vinham atrás do tesouro acabavam tentando matá-lo.

Ele atravessou florestas densas, nadou por rios e chegou a outro lugar misterioso.

Ali, havia uma estrada pavimentada com pedras verdes e degraus de pedra que subiam entre fileiras de pinheiros e ciprestes antigos. Suas cascas eram rugosas, os galhos retorcidos como serpentes, e diante deles erguiam-se estátuas de pedra — homens e feras de duas ou três zhang de altura, imponentes e ameaçadores.

Era justamente o Túmulo do Verdadeiro Rei, o mesmo que a mulher de roupas roxas e seus seguidores buscavam sem sucesso.

O túmulo ficava a apenas dois ou três li da antiga olaria, mas o relevo da montanha era tão estranho que, sem um guia, seria quase impossível encontrá-lo.

Para Chen Shi, porém, o caminho era familiar. Aquela era a Montanha Qianyang — ele e o avô haviam explorado seus vales inúmeras vezes. Talvez não soubesse o nome de cada planta, mas sabia exatamente onde cada árvore crescia.

Saltando de uma pedra, pousou no chão. O som agudo do impacto ecoou.

Assustado, ergueu o pé para examinar. Por sorte, nenhum dano — nem rachaduras nem fraturas. Suspirou aliviado.

Afinal, naquele momento ele era porcelana — frágil e quebradiço. Um passo em falso e viraria pó.

Seguiu pela trilha do túmulo, mas logo percebeu algo inquietante: conforme avançava, as árvores e estátuas ao redor tremiam.

Os troncos balançavam, galhos se moviam como serpentes e dragões, pesados e vivos.

Da superfície das estátuas, o pó de pedra começou a cair em cascatas. Sob ele, músculos e carne pareciam brotar. As feras sagradas pareciam despertar, emanando uma energia furiosa.

Chen Shi sentia o peso crescente daquela pressão — e, estranhamente, seu corpo também mudava. Crescia, aumentava, e sua pele deixava de ser cerâmica — voltava a ser carne e sangue.

O Túmulo do Verdadeiro Rei estava envolto em um domínio ainda mais poderoso — um domínio de fantasmas e deuses que suprimia o efeito da olaria e o restaurava à forma humana!

O menino avançou com determinação. O espaço começou a distorcer; as montanhas ondulavam como mares; os gigantescos guardiões de pedra arrancavam as garras cravadas nas rochas, despertando em meio a uma energia colossal.

Totalmente restaurado, Chen Shi ainda assim cerrava os dentes, resistindo à pressão.

À frente, uma estela de pedra reluzia em dourado. As inscrições eram antigas, mas ainda legíveis.

Enquanto tentava decifrar os caracteres, tirou um pedaço de carne espiritual — saqueado da jovem de roxo — e mastigou.

Ao engolir, uma força vital poderosa inundou seus meridianos, ativando seu Qi Verdadeiro, formando um pequeno santuário divino atrás de sua cabeça.

A energia pulsava em seu corpo. Chen Shi avançou, respirando com dificuldade sob o peso crescente do domínio.

Quando finalmente conseguiu ler metade da inscrição, uma voz ecoou, risonha:

"Pequeno, se der mais um passo, o domínio desperta por completo. Nem seu avô poderá salvá-lo. Não seja ganancioso. Volte."

Quem falava não era humano — era a estátua mais próxima, um Guardião do Túmulo, com corpo humano, chifres de bode e um nariz desproporcional cobrindo metade do rosto. Seu sorriso era falso; os olhos, ferozes e cruéis.

"Eu e seu avô tivemos boa convivência no passado", disse o ser, "não quero vê-lo morrer aqui."

As demais feras guardiãs rugiram, o som ensurdecedor. Um vapor de sangue se condensou em nuvens carmesins, exalando um fedor que fazia o ar vibrar.

"Além disso", acrescentou o da face de bode, "o céu logo escurecerá. Quando a noite cair, nem você nem ninguém sairá vivo daqui."

Chen Shi curvou-se respeitosamente.

"Obrigado, Tio Bode!"

O Guardião sorriu e acenou.

"Vá logo, menino."

Relutante, Chen Shi olhou uma última vez para a estela e partiu.

Assim que deixou o domínio, o poder da carne espiritual se dissipou, e o santuário atrás de sua cabeça desapareceu.

Suspirou, o semblante sombrio.

Não queria ser um inválido.

Queria estudar, cultivar-se, participar dos exames do condado e tornar-se um erudito, um homem digno.

Queria ver o orgulho nos olhos do avô — não ser um fardo para ele por toda a vida.

"Está escurecendo…" murmurou, erguendo os olhos para o céu.

Seu rosto empalideceu. Acelerou os passos.

No firmamento, duas rodas solares brilhavam lado a lado, ainda ardentes — mas algo estranho acontecia. As duas esferas alaranjadas se alongavam, estreitando-se como pálpebras que lentamente se fechavam.

Se alguém olhasse com atenção, veria que além do céu havia uma imensa face — e as duas rodas de sol eram seus olhos.

Agora, aqueles olhos colossais se fechavam, e chamas sem fim escorriam pelas fendas das pálpebras, formando mares de fogo a oitenta li acima da terra, tingindo o horizonte de um vermelho glorioso.

Atrás daquele rosto, uma silhueta gigantesca, sentada em posição de lótus, repousava nas trevas.

Era o Único Deus Verdadeiro do Continente Xiniu Xinchou.

Quando abria os olhos — era dia. O fogo de suas pupilas iluminava o mundo.

Quando os fechava — vinha a noite, e um olho vertical em sua testa se abria lentamente, revelando a lua que tudo observava.

Quando esse olho se abria, criaturas estranhas despertavam sob a luz prateada, tornando as estradas perigosas.

Por isso, todos que estivessem fora de casa deviam buscar abrigo antes do anoitecer — ou morreriam.

O céu avermelhava-se cada vez mais — sinal do pôr do sol.

No domínio do Túmulo do Rei, o Guardião de chifres olhava o horizonte, pensativo.

"Irmão", rosnou uma das feras, "por que deixou aquele garoto ir embora?"

Era uma criatura enorme, semelhante a um leão alado envolto em chamas, de altura superior a dois zhang.

Outros guardiões também protestaram, indignados.

O de chifres esperou que terminassem e então riu friamente:

"Vocês acham que eu não quis esmagá-lo? Esse pestinha sempre corre pra cá quando se mete em encrenca, usando a força do Verdadeiro Rei como escudo. Em outros tempos, já teria morrido mil vezes! Mas… o avô dele é poderoso."

Suspirou e continuou:

"Vocês se lembram. Quando ele invadiu o túmulo, o prendemos por nove dias e nove noites — e, mesmo assim, ele escapou levando um dos sutras funerários."

Silêncio.

"O texto que ele roubou", disse o Guardião, "era o Segredo da Purificação de Água e Fogo, o método dos Imortais Desencarnados. Nunca entendi por que o queria."

Uma voz murmurou:

"Mas aquele velho… já não deve estar morrendo?"

O de chifres olhou na direção em que Chen Shi partira.

"Talvez já tenha morrido. Da última vez que o vi, parecia um cadáver. Queria tornar-se um Imortal Desencarnado, será?"

Outra fera comentou:

"O menino também parecia estranho… não senti vida nele."

Antes que terminasse, uma força misteriosa varreu o túmulo — e todos os guardiões viraram pedra novamente.

Enquanto isso, Chen Shi corria montanha abaixo em direção a Huangpo.

As duas rodas solares desapareceram na escuridão. O Deus Verdadeiro fechara os olhos. As chamas do céu se extinguiam.

Uma luz fria surgiu — a lua abrira-se na testa do Deus.

A luz prateada caía sobre a terra.

Sob o luar, uma energia antiga despertava. Em cada casa, portas eram trancadas, e talismãs de pêssego pendurados nas ombreiras.

Nas florestas, sons estranhos ecoavam — como choros de fantasmas.

Entre as árvores, uma cabeça gigantesca começou a flutuar, enrugada e murcha como um balão murcho. Aos poucos, inflou-se, os traços faciais se distorceram, até que o rosto, do tamanho de meio campo, se formou por completo.

Ele sorriu. Um sorriso sinistro. E começou a flutuar em direção ao menino.

Essas criaturas, o avô chamava de "Xie" — Espíritos Corrompidos.

Nem todos tinham cabeças gigantes, mas todos apareciam à noite e desapareciam antes do nascer do sol. Encontrá-los significava morte certa.

No desespero, Chen Shi engoliu o último pedaço de carne espiritual e ativou sua técnica. Pontos de luz estelar convergiram do céu, formando atrás dele um pequeno santuário.

A energia divina o impulsionou — sua velocidade aumentou. A aldeia já estava próxima!

O método que ele usava não era o ensinado na escola.

Lá, cultivava-se a Arte da Retidão Celestial, mas depois de terem roubado seu feto divino, Chen Shi descobriu que sua energia se dissipava — sem raiz, sem base, como fumaça ao vento.

A técnica que agora utilizava era aquela inscrita na estela do túmulo: A Retidão das Três Luzes (San Guang Zheng Qi).

As Três Luzes — Sol, Lua e Estrelas.

'Colhe a luz do sol, da lua e das estrelas para nutrir tua retidão interior', dizia a inscrição.

Entre as três, a luz solar e a lunar eram as mais intensas; a estelar, a mais sutil.

Mas Chen Shi nunca conseguiu absorver nem sol nem lua — apenas estrela.

Ele retornava sempre ao túmulo não apenas para escapar da influência do domínio da olaria, mas também para compreender o método completo.

Dessa vez, ainda que não o tenha obtido integralmente, memorizara grande parte.

"Como imaginei…" murmurou, enquanto o Qi estelar fluía, "a técnica do Verdadeiro Rei é incomparável!"

Um passo seu o levava vários metros adiante. Corria veloz, e a silhueta de Huangpo surgia ao longe.

A aldeia tinha cerca de duzentas casas. No centro, uma árvore colossal, verde e antiga, erguia-se como uma montanha viva.

As construções se organizavam em círculos concêntricos ao redor dela — cinco camadas no total.

Sob a luz prateada da lua, os galhos tremiam, absorvendo energia. As folhas dançavam como serpentes de jade.

À entrada do vilarejo, uma figura alta o aguardava. O rosto, oculto nas sombras.

"Vovô!" gritou Chen Shi, aliviado.

Acelerou, mas quando se aproximou, o ar ao redor ficou gelado.

O último resquício da carne espiritual se esgotou. O santuário atrás da cabeça tremeu e desmoronou. Nem mesmo a Retidão das Três Luzes pôde sustentá-lo.

Sentiu a força fugir do corpo.

"A técnica do Verdadeiro Rei também falhou…" pensou, preocupado.

"Está na hora de voltar e tomar o remédio", disse o velho, fitando o céu. A enorme cabeça flutuante já se aproximava.

"Sim, senhor…" respondeu o menino.

Quis olhar o rosto do avô, mas o luar lançava sombras que o ocultavam.

Fazia dias que não conseguia ver-lhe o semblante claramente.

E havia algo estranho: um leve odor de podridão — não como carne estragada comum, mas algo mais profundo, misturado ao cheiro das ervas medicinais que o velho sempre usava.

Enquanto caminhavam rumo à aldeia, os vizinhos puxavam seus filhos da rua e trancavam as portas.

Chen Shi reparou nas janelas iluminadas, sombras de pessoas movendo-se por trás das cortinas, observando-os em silêncio.

"'Os bons morrem cedo, e o mal sempre volta…'" sussurrou alguém na escuridão.

O coração do menino se apertou.

" Eles… também notaram algo estranho no vovô? Não farão mal a ele… farão?"

More Chapters