Cherreads

Chapter 4 - Uma loja de roupas nunca me causara tanto problema.

Eu o olhei séria, como se aquilo fosse simplesmente irreal — o que parecia. Então olhei para todos os lados, fazendo com que Peter me olhasse mais confuso ainda e perguntasse:

— O que foi? Já está vendo coisas agora?

— Não, idiota

— Graças a Deus... Ou seria aos deuses?

Beo riu com uma risada que parecia até sincera. Até seu riso era viciante, juro que poderia escutar ele rindo por horas. Se recuperando do riso, Beo abriu novamente um sorriso, mais suave agora e adivinhou, como se lesse minha mente:

— Você deve estar se perguntando como iremos de uma realidade a outra, certo?

— Uh... Sim.

— Bem, vou explicar de uma forma que vocês entendam. É como se fosse um portal no centro da terra.

— Na Europa? — Perguntou Peter

— Não. Pelo que me lembre, os mortais falavam que o centro da terra seria essa "Europa", mas não. Vocês acham isso porque os humanos que estavam descobrindo novas terras na época das navegações consideravam o lugar como o "centro principal de comércios", se assim posso dizer. Eu estava nessa época!

— O quão velho é você?

— O suficiente para saber que essa conclusão é falsa.

Beo solta um suspiro convencido, como se estivesse orgulhoso em saber dessa informação.

Apenas balancei a cabeça, antes de cutucar Peter com o cotovelo, esperando que ele entendesse que não adiantara perguntar muita coisa sobre a vida pessoal dele, o que ele entendera, pois ficou quieto. Então voltei meu olhar para Beo, e antes que eu pudesse perguntar, ele falara um tanto contente:

— Mas antes de irmos, temo que precisem de... Roupas novas.

—comida e água também.

— Por enquanto, roupas, depois isso.

 Beo então abriu o pequeno utensílio que segurava o tecido branco em seu ombro, o deixando escorregar de seu torso. Eu fechei os olhos, imaginando que ele iria simplesmente se trocar ali mesmo ou algo do tipo, mas então eu abri lentamente um olho, vislumbrando o que parecia uma camisa amarela pastel: o cordão que prendia o tecido na cintura fora desfeito, se transformando em uma calça social meio marrom, combinando com a camisa. Peter me olhou com diversão, como se estivesse zombando de mim por achar que aconteceria aquilo que pensei. Beo ao terminar de se "trocar" olhou para Peter e então para mim, antes de pegar algo que parecia um pedaço de papel e uma caneta que aparecera magicamente no bolso da calça dele e escreveu algo nele, antes de levantar para o céu. Talvez ele estivesse enlouquecido de vez, mas então notei que o papel pareceu se tornar em um envelope, e onde ficaria o selo postal se desenhou uma forma de asa.

— Oh, senhor Hermod, permita-me pedir que leve está carta para quem desejo: De: Beoulw. Para: Vickinm.

Então o papel criou asas e voou. Não, você não escutou errado. Ele voou

— Vamos?

— E o monstro?

— fiquem tranquilos quanto à isso.

Beo então acenou com uma das mãos por cima do ombro, fazendo eu e Peter nos entre olharmos e segui-lo.

Enquanto Beo nos levara para o centro da pequena cidade em busca de lojas de roupas e um lugar para eu e Peter tomarmos um bom banho, Peter o olhara ainda com um pouco de confusão, até finalmente soltar:

— Então, Beo... Se você é nórdico por que sua roupa é historicamente grega?

— Tecnicamente quem descobriu o desacordo dos dois deuses e teve a ideia desta busca foram os gregos, mas enviaram alguns de nós, nórdicos em busca de vocês pelos mares mais hostis, como Atlântico Norte, e alguns gregos para buscá-los em mares mais calmos, previsíveis, como o mar mediterrâneo. E a roupa foi um presente dos gregos a todos os navegadores dessa busca, para não nos darmos ao trabalho de escolher uma roupa e também servir como um colete à prova de balas, porém, para monstros. Uma armadura elegante.

— Certo.

— Olha só! Vem, vamos entrar! — diz Beo entusiasmado, apontando como uma criança apontava para um brinquedo para uma loja de roupas. Com certeza não eram baratas. Eu ficara um pouco parada do lado de fora, hesitante, antes de ser puxada por Peter para dentro.

Entrando loja à dentro pude me deparar com peças incríveis de roupas, seus preços exuberantes e atendentes que fingiam ser simpáticas. elas mantinham sorrisos nos rostos, mas eram amargos, olhando para eu e Peter com desgosto, já para Beo era pura admiração. Não posso julgá-las nesse lado: dois mendigos ao lado de um homem tão grandioso. Me senti até ruim só de estar naquele lugar. Peter andara ao meu lado, uma distância considerável com a cara meio fechada enquanto as atendentes o encaravam, fazendo-o encarar de volta e assustá-las com seus olhos afiados. Beo pegava várias peças chamativas e caras dos estandes, como se fossemos usar tudo aquilo nas circunstâncias que estávamos.

— Sabe, Beo, não usaremos roupas assim durante a viagem…

— Mas quando chegarmos, sim. Vocês não vão se apresentar nesse estado aos deuses, certo?

— Não, mas acho que deveríamos-

— Pare de ser chata! Ah, escolham, então.

Ele mostrou um beicinho que posso jurar que apenas crianças faziam com birra. duvidara agora se ele era um velho ou uma criança de cinco anos. Peter não falou nada, apenas se afastou de nós e fora até a seção masculina. Eu fizera o mesmo, indo na mesma direção enquanto deixava Beo olhando as roupas. Assim que Peter me viu o seguindo levantou uma sobrancelha, me olhando de soslaio e falou:

— A seção feminina é para lá. — ele apontou para o lado oposto de onde estávamos indo.

— Eu sei. — respondi como se fora a coisa mais normal do mundo

— Então por que vem nessa direção?

— eu não quero usar vestidos de grife para correr ou sei lá o que vamos enfrentar durante essa viagem.

Ele não respondeu, apenas se virou e foi até onde uma camiseta chamou atenção. Eu fui em outra direção na sessão masculina, vasculhando.

— Precisa de ajuda, senhorita?

Perguntou uma atendente que aparecera atrás de mim de repente. Eu nem senti ela se aproximar, o que era estranho, pois sempre sentia quando alguém estava vindo em minha direção. Tirando aquele monstro réptil. Eu vira o rosto um pouco para o lado para enxergá-la. Ela vestia o uniforme da loja, que era uma camiseta preta com o nome da loja escrita em bordado dourado do lado esquerdo do peito: uma saia preta com detalhes em dourado que parecia com as de comissárias. Seu cabelo loiro estava preso em um coque baixo e sua maquiagem era básica, mas contratava com seus olhos verdes.

— Não... Não, estou bem. Obrigada

— Tem certeza, senhorita? Não há nenhuma peça que esteja procurando em específico?

Ela insistia, me fazendo sentir inquieta, mas por algum motivo eu aceitei a ajuda dela, a fazendo sorrir docemente para mim e se virar em uma direção enquanto perguntava educadamente:

— Como a senhorita prefere sua peça? Mais casual ou mais... vibrante?

— Algo que eu consiga me mexer.

— Haha, a senhorita é engraçada.

Eu não vira sentido na risada dela, mas fiquei quieta. Ela chegou em um lugar mais isolado da loja, não que tivesse muitas pessoas por ali que tivessem dinheiro suficiente para pagar as peças de lá. A funcionária começou a procurar algumas peças ali, mostrando algumas peças que pareciam confortáveis, mas não muito meu estilo

— Essa lhe agrada, senhorita?

— Uh, não. Tem algo mais casual?

— está!

— Não.

A moça me olhou com um sorriso doce, mas começando a mostrar que se irritara com a minha recusa de roupas que me eram oferecidas. Até que seus olhos pareceram brilhar com uma ideia — um brilho até mesmo meio perigoso. Ela vasculhara outra estante de roupas, pegando um conjunto que me pareceu bom: uma camiseta meio vinho e calção jeans cargo. Então ela me olhou com seus olhos verdes com aquele brilho perigoso, seu tom de voz meio sugestivo, mas inocente:

— Talvez esse conjunto lhe agrade. É o mais casual que posso pensar em lhe oferecer, senhorita.

Ela me oferecera o conjunto, o qual eu peguei e então ela me levara até os provadores femininos.

Eu entrei em um dos provadores, fechando a cortina preta e apoiando as roupas nos cabides dali. Me olhei no reflexo: meu cabelo castanho agora bagunçado e sujo, minhas roupas surradas pareceram que passaram por um furacão antes de pegá-las. Aquela visão não me agradava. Ignorando meu próprio reflexo, me preparei para vestir as roupas que a educada atendente me oferecera, as segurando nas mãos com dúvida— sentia uma estranha sensação segurando-as, como se, assim que a vestisse poderia ser emboscada a qualquer momento. Fui burra só ignorar meus próprios instintos falando "perigo!".

Assim que a vesti laços de névoas esverdeadas cercaram meu corpo, fazendo-me cair de joelhos com tudo no tapete preto brilhoso do vestiário. Por que não confiei nos meus sentidos?! Se o tivesse feito não estaria nessa situação! Grunhindo enquanto tentava me libertar, a atendente abriu a cortina, com um sorriso vazio e sádico. Sua voz agora perigosa e com um tom debochado ao me ver ali, de joelhos enquanto meus braços conseguiam apenas esticar um pouco as névoas:

— Olha, até que para uma mortal você está fazendo um ótimo trabalho tentando se libertar. Muitos não conseguem nem mesmo mexer os braços.

Assim que abri a boca para gritar por ajuda de Peter ou de Beo, a atendente se agachou na minha frente colocando um dedo sobre meus lábios em sinal de silêncio, antes de acrescentar:

— Se fosse você, eu não faria isso. Talvez limpando essa sujeira toda você seja comestível.

Eu movi minha boca em um movimento rápido, conseguindo morder o dedo dela brevemente antes de ela se mover rápido para tirar o dedo dentre meus dentes, antes que eu arrancasse. O sorriso dela se desfazendo em uma carranca lentamente, antes de ela olhar para mim com raiva

— Cuidado, garota. Você não sabe no que estaria encrencada se arrancasse meu dedo.

Então ela sorriu novamente, agora vazio antes que as palavras dela fizessem meu coração parar por um instante

— Mas permita-me me apresentar. Prazer Senhorita semideusa, me chame de Runa.

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