De volta a sala, ainda havia alguns que esperaram por uma objeção de Netay, porém, mesmo ele não se pronunciou. Claro, nem mesmo o Líder dos Guerreiros de Virtudes teria autoridade para desafiar um Membro de uma Grande Família.
Apesar de tudo, Abdá e Zu Ru pareciam insatisfeitos com esse resultado, mas foi Lixaze quem se dirigiu até Netay, o mesmo tentou importuna-lo, usando a desculpa de que a seita os repreenderiam mais tarde.
— Deixe isso quieto! Você mesmo ouviu... Os Dai Ezgos lidarão com isso. — Respondeu Netay, cabisbaixo e pensativo.
— Tsc, você acredita mesmo que não haverá consequências depois disso? A seita é quem tem maior autoridade aqui.
No entanto isso não agradou a Netay.
— E o que raios você quer fazer?! Enfrentar a ira dos Dai Ezgos?! Se ele disse que vai resolver isso, então ele fará!
— M-Mas Netay, não devemos confiar somente nas palavras de alguém sem tanta importância na Família assim, não é que eu esteja duvidando, mas você sabe, para um membro de uma Grande Família ter vindo aqui, isso por si só prova que ele não deve ser ninguém em sua família, talvez um filho bastardo ou mal ama...
Antes que pudesse terminar sua frase, Lixaze fora golpeado por Netay, sendo lançado contra a parede, agarrado pelo pescoço e logo mais sendo sufocado. Isso gerou um espanto dentro da sala.
— Urgh!... N-Netay! — Gritou Lixaze, enquanto era pressionado frequentemente sobre a parede, os outros em volta não ousaram se intrometer.
Lixaze não podia acreditar que foi posto em tal situação apenas por tentar cumprir o certo, de repente, Netay aproximou-se de seu ouvido e disse murmurando: — Ouça bem... O que está se passando aqui são coisas da qual você não pode se dar ao luxo de atrapalha-los, você entendeu?! Hein?! — À medida que Netay falava, sua mão se tornava uma corda de forca que entrelaçava o pescoço de Lixaze.
— ... S-Sim... S-Sim! Eu entendo, eu entendo, agora me larga!
Lixaze estava furioso e ao mesmo tempo se sentia humilhado, ao olhar para os lados, seus familiares e os outros líderes o encaravam com espanto, o mesmo amaldiçoava Netay em sua cabeça.
— Escutem vocês, todos vocês! Aquele moleque que está lá embaixo, não impliquem com ele... Já devem saber o porquê, mas é minha obrigação adverti-los... Desgraças cairão sobre todos se insistirem nisso... Vocês entenderam?!
Todos compreenderam o que Netay queria dizer, com a revelação recente, era impossível não saber do que se tratava, porém, isso era um fato que irritou alguns, esse foi o momento que a inveja de muitos desabrochou.
Possuir um Mestre era como garantir a Fase Diamante, onde era possível com muito esforço e treino romper a Primeira Camada da Alma, contudo, um mestre estava limitado a sua fundação, e só poderia passar técnicas e experiências limitadas, diferente de um Grande Mestre.
Os Grandes Mestres são o ápice do Grande Mundo, representa toda a força máxima, estando no pico da cultivação, não há ninguém melhor do que eles para ensinar, tê-los como professores significava duas coisas, a primeira, que tal discípulo era mais do que capaz, um prodígio. A segunda era que tornava possível romper os Estados da Alma, e assim facilitando a compreensão da Segunda Camada da Alma.
Não houve quem se atreve-se a mencionar algo depois disso, após suspirar, Netay se retira da sala.
As posições já estavam quase completas, ainda houve algumas lutas para decidir quem levava a posição, e no fim...
— A apuração encerrou!! O primeiro lugar foi conquistado por Zefren da Família Allifest... Uma salva de palmas.
Vazio, e, no entanto, pouco ânimo, alguns ainda carregavam um receio pelo ocorrido.
No resto das posições foram mais ou menos parecidas com o torneio anterior, ainda era necessário uma luta entre Asgn e Zya para decidir o segundo lugar, mas seu estado o impossibilitou, assim como Berk, Red recebeu o quarto lugar, Mina o quinto lugar, Berk o sexto lugar, Leon o sétimo lugar, Darco oitavo, Huda nono e por último, Taideh em décimo lugar.
— Acho que eu melhorei mais do que você, Taideh, diz ai, como é ser o último? — Perguntou Huda.
— Tsc eu só perdi por que estava distraído.
— Mas falando sério, vencer três lutas seguidas para disputar o topo é extremamente difícil.
— Sim, ainda mais quando se tem aqueles três.
— Os quatro né? Zefren nos pegou de surpresa.
— Não os três, não inclui o Red, ele não conseguiu ter sua terceira vitória.
— Ah sim! Foi contra Zefren! É verdade, então agora o Trio Monstro não é mais o mesmo de antes.
— Eu não diria isso...
Após o encerramento, uma salva de palmas ecoou por todo o Montreal, o juiz parabenizou todos pelas novas conquistas, eis que os novos Discípulos Externos da Seita estavam preparados para a partida no dia seguinte.
— Que a nossa classificação suba! Que mais investimentos cheguem... — Aloise dizia baixinho a si mesmo, este era um momento esperançoso para todos, a classificação geral, com base nos degraus o valor dos recursos vindo da Capital Imperial aumentava.
Com o término da primeira etapa do torneio, o segundo se inicia, já era tarde, mas devido a infortúnios, um atraso era algo inevitável. Houve quem deixasse as arquibancadas, porém os números ainda eram massivos, Zefren e seus irmãos já não tinham quaisquer motivos em está ali, assim como todos os outros participantes.
Em casa...
— Como se sente agora sendo um Discípulo Externo? Está orgulhoso? — Perguntou Hila.
— Orgulhoso e nervoso, na verdade, estou mais nervoso do que orgulhoso, haha.
— É normal, em breve você se acostumará... — Afirmou Karion.
— É um pouco triste.
— ... Não pense muito nisso, você tem que ter um objetivo, lembra do que te falei? Sem objetivos não somos muito diferentes de uma casca vazia, quando estiver na Seita... Pense sobre o que você quer almejar, um sonho.
Hila como sempre trocando palavras que faziam Zefren pensar sobre o seu futuro, ela estava o preparando, do lado, Karion apenas observa com uma expressão triste, no entanto não era tão visível, mais parecia está perdido em seus pensamentos.
— Zefren escute. — Karion parecia ter algo para falar. — Eu sei que você é muito jovem ainda, mas eu quero que entenda algumas coisas, primeiramente é o seu tempo de vida. — Karion pôs suas mãos nos ombros de Zefren e o encarou frente a frente.
— Sim! — Disposto, ele se concentrou nas palavras de seu irmão, sempre foi ensinamentos importantes.
— Seu tempo de vida difere conforme a fundação de seu cultivo, veja bem, a Fase de Prata, sua fundação atual, lhe concede algo em torno de duzentos anos de vida, a Fase de Ouro você viverá mais de 300 anos, e se por ventura você se interessar por outros caminhos, como o Caminho da Forja de Pílulas ou dos Artefatos, saiba de algo primeiro, precisará de tempo, a fundação ideal para você cultivar outros Caminhos é o Estado Inferior, ela te dará dois mil anos de tempo de vida.
— D-Dois mil anos?! É sério isso?!
— Sim, mas não se espante, isso é apenas o início de tudo, a segunda coisa que quero te falar... Não faça inimigos...
Diferente das outras vezes, agora havia palavras extremamente sérias vindo de Karion, um alerta que Zefren deveria levar para a vida.
— Não espere que a sorte virá te salvar, por isso, mesmo que contra a sua vontade... Não faça inimigos, deve agir de forma inteligente, mesmo que... Haja sacrifícios...
— ... Você fala isso por causa do que ocorreu, não é?
— Não, falo isso para o seu próprio bem, Zefren, as pessoas são rancorosas e invejosas... Evite o máximo possível qualquer ameaça de inimigos.
— Ta bom mano, farei isso.
— E a terceira coisa... Se por ventura ainda assim fizer algum inimigo, mate todos! Incluindo crianças, qualquer um que utilize ou possa utilizar o argumento de vingança contra você e venha representar ameaça para si no futuro.
Essas palavras deixaram Zefren aterrorizado, chegar a tal ponto de até mesmo matar crianças, por um momento ele o enxergou como um louco.
— M-Mano... I-Isso é demais, c-crianças, mata-los...
— Eles crescem, lembrarão do que aconteceu, de quem os fez, se não lembrarem, eles correrão atrás para saber a verdade e sempre existirá uma forma de saber o que ocorreu... Vai por mim.
O silêncio tomou conta do ambiente por algum tempo, Zefren estava espantado, não imaginaria que seu irmão diria algo assim, ao olhar para sua irmã, a mesma não possuía expressão de quem era contra as palavras de Karion.
— O mundo é um lugar cruel, acredite.
— ... É... É cruel por causa de pensamentos assim. — Disse Zefren.
— ... Você saberá naturalmente um dia, só lembre de minhas palavras, e a última coisa que tenho a lhe dizer... Seja esperto Zefren... O mundo não é para os ignorantes e burros, esses morrem cedo, quando não, viram escravos pro resto de suas vidas.
Zefren remoeu essas palavras profundamente, mas ainda estava abalado com o que seu irmão houvera dito sobre as crianças.
— Em todo caso, vamos jantar fora hoje, uma Jantar Especial para comemorar a sua entrada para a Seita, depois disso, você precisa se preparar para a viagem de amanhã.
Zefren permaneceu em estado de reflexão por um bom tempo, não era somente por causa do que seu irmão havia falado. O futuro também o deixava assustado, porém, seu medo maior era perder a sua única família, seus irmãos, não havia nada que o deixasse mais assustado do que isso.
Algum tempo depois, os três saíram para o Restaurante mais caro da cidade, no caminho, Zefren fora reconhecido por muitas pessoas, algumas nervosas com sua presença, outras, o admiraram.
As ruas estavam super lotadas, era dia do Exame de Admissão, isso por si só era motivo para alegrias e comemorações.
Os restaurantes não eram diferentes, estavam sempre cheios, principalmente o restaurando mais rico da cidade, haviam muitas pessoas ricas aqui, Mercadores, Guerreiros de Elite, pessoas importantes no meio político e muitas outras.
Zefren ficou desconcertado, aonde eles arrumariam tanto dinheiro para pagar a comida caríssima desse lugar? Seus irmãos apenas o disseram para aproveitar o momento.
Foi o que ele fez, Zefren devorou pratos e mais pratos, Hila se impressionou com o quanto o seu irmãozinho poderia comer, parecia que ele estava passando fome em casa.
— Você não come tanto assim em casa... a comida que faço é ruim? — Perguntou Hila, a mesma fazia beicinho para o quanto Zefren comia.
— N-Não mana! Obviamente que não, a comida que a Mana faz é a melhor do mundo! É só que eu sempre tive vontade de comer essas comidas caras, sem falar que não temos muita condição financeira, então sempre evitei comer muito para não pesar.
— Ora, seu tampinha! Nós é que devemos nos preocupar com dinheiro aqui, você é apenas uma criança, e mais, quem disse que nossas reservas são poucas? — Questionou Hila.
— Não era? Mas como o mano sempre deixava a comida dele pra mim? Você também fazia isso.
— I-Isso não é... não era sobre dinheiro. — Hila ficou envergonhada. — E fale mais baixo! — Haviam pessoas por perto, provavelmente ouviriam.
— Pu-que? Max nom é erdadi que xomos pobris? — Zefren falava com a boca cheia, ele puxava pedaços de carne com a mão, e peito de frango na outra, não havia modos, Karion escondeu o rosto com a palma de sua mão, Hila se viu obrigada a disciplinar seu irmão, o que gerou uma tremenda confusão, algumas pessoas olharam com olhos nada amigáveis.
O rosto de Hila estava vermelho como um Morango, quanto a Karion, ele apenas escondeu seu rosto, se negando a olhar o arredor.
Depois disso, os três perambularam pela cidade, de loja em loja, comprando algumas besteiras e olhando preços, eles se dirigiram até a praça, onde dava acesso a uma ponte que cruzava o Rio Prattes, do outro lado acontecia uma Grande Feira, onde havia muitas frutas típicas da região, como o Metarin, uma fruta vermelha como sangue, mas azeda.
— Argh!!! Isso é horrível! É pior do que limão 10 vezes!!! — Zefren havia provado dessa fruta, mas o seu azedume era demais para suportar, sua língua travou no momento em que provou um pingo.
— Hahahahaha! — O vendedor em questão ria como se estivesse em um circo. — Esta é a melhor fruta para se fazer suco, com poucas gotas é possível fazer uma jarra cheia, uma fruta dessa rende muitos litros, cerca de 15 a 18 litros de suco!
— Que bom, mas haja açúcar! Pra beber 2 litros disso, não vai ficar decente com menos de 50 colher de açúcar. — Zefren bebia água, chacoalhava e cuspia.
— 2 litros? É necessário 70 colheres de açúcar.
— Pior! Eu entraria em falência logo.
— Mais fácil pegar uma diabete antes. — Alertou Hila.
O vendedor ria como um palhaço, e então disse: — Essa na verdade é uma fruta com propriedades curativas, realmente não compensa você beber suco dela a menos que queira, mas não podem negar a sua eficiência milagrosa na saúde, basta consumir 1 gota por dia, e você pode tirar cansaços físicos, dores de cabeça, dores na articulação e espinha dorsal, é bom para gripe e muitas outras doenças, 1kg por 15 Moedas de Cobre!
— Ah sim, não haverá doenças ou qualquer outra coisa se você morrer, 1 gota desse negócio por dia? Eu prefiro morrer! — Disse Zefren, negando a boa oferta.
— É uma boa oferta, vou querer, me dê 5 kg dela. — Karion entregou 1 Moeda de Bronze e recebeu 25 Moedas de Cobre de troco, ele estava satisfeito com a compra.
— Mano, comprou isso mesmo? Quer falir a gente na compra de açúcar ou matar alguém? — Zefren olhou para a fruta fazendo careta, negou consumir qualquer coisa feita disso.
— É pra fazer um doce, você vai gostar.
— Doce? Com quantas mil colheres?
Hila comprou 10 kg de açúcar para essa ocasião, Zefren continuava em negação, açúcar em si não era um artigo de luxo, mas também não era barato, e com a fraca condição financeira da Família, isso poderia ser um problema.
— Mana, Mel não sairia mais em conta?
— Já temos Mel em casa, vou usar ele todo dessa vez.
No caminho para casa, houve um tumulto, parecia alguma briga.
— Vamos desviar, a melhor coisa que se pode fazer. — Disse Karion.
O trio desviou do tumulto e continuaram o caminho.
Em casa, Hila levou algum tempo para preparar o Doce, mas Zefren jurava que não iria comer disso.
Não cumpriu o juramento, ele não só comeu o Doce, como amou, não era tão doce e nem azedo, mas agradável, um Doce que fez Zefren duvidar se realmente era um homem de palavra.
Mais tarde, os irmãos conversaram, e conversaram, jogando a imaginação para o além, Zefren fez muitas perguntas ao seu irmão, muitas dúvidas foram sanadas, outras deixadas de lado, mas Zefren não se importou, já era de costume que havia alguns segredos rodeando seus irmãos.
— O Universo é vasto e Infinito, mas mesmo com toda essa Infinitude, ele ainda possui Limitações Qualitativas, os Cultivadores não conseguem ir além do Estado Superior aqui, nem mesmo conseguem cultivar Camadas do Estado, se decidirem viverem aqui até o fim de suas vidas, não irão conseguir alcançar a Segunda Camada, não importa o quanto tentem. — Karion proferia essas palavras especialmente para Zefren.
O garoto não entendia muito bem, mas ele já havia ouvido seus irmãos pronunciarem sobre os Transcendentes, aqueles que estavam acima dos Mestres Anciões, do Estado Intermediário.
— Então o Estado Superior está acima do Estado Intermediário? Eles não seriam as Divindades então? — Questionou Zefren.
— Não necessariamente.
— Como assim?
— Há um motivo, mas enfim. — Karion puxa a sua xicara de chá para beber. — Se quiser alcançar Reinos acima do Estado Transcendente, você precisará sair desse Universo.
— Eu fico me perguntando... como o Mano sabe de tudo isso? — Perguntou Zefren, ele olhou atentamente para Karion, esperando por alguma resposta, mas como era de costume, foi ignorado.
— Como diz um ditado, ''Há muitos segredos entre o Céu e a Terra, mas nenhum deles podem imaginar a Origem de tudo''.
— Origem é? De acordo com os Livros de Histórias Fictícias, a Origem de tudo é o Vazio Primordial, e em outras, algum tipo de Deus Apofático. — Zefren possuía conhecimento de algumas obras fictícias, onde abordavam esses conceitos.
— Enfim, no Universo existem incontáveis estrelas e Cinturões, em algumas regiões do Grande Mundo, chamavam-se de Esferas Elípticas, para se tornar um Transcendente, deve-se ter a noção de que a energia dentro de seus corpos é no mínimo equivalente a 1 Esfera Elíptica ou Cinturão, tanto faz, mas isso não significa que somente absorver 1 Esfera Elíptica será o suficiente para se tornar um Transcendente, você deve... — Karion continuou a sua explicação por algum tempo.
Zefren por outro lado, estava inerte nas palavras, imaginando também de onde o seu irmão havia tirado tanto conhecimento, pois nunca viu ou ouviu falar de algo assim.
— Se tornar um Transcendente envolve muitas questões, assim como para se tornar um Grande Mestre do Estado Inferior, é necessário ter compreensão da Energia Espiritual e outros fatores, para ser um Transcendente é a mesma coisa, desde o uso final de Leis e até mesmo da própria compreensão, sua consciência vai afetar isso diretamente...
Karion disse muitas coisas, e com o sempre, negando ''perguntas inconvenientes'' de Zefren e seguindo a sua ideia, ele continuou por horas, Zefren escutou atentamente e remoeu tudo o que ouviu, refletindo sobre muitos conceitos.
O trio estava deitado lá fora, o clima estava um pouco quente dentro de casa, e por isso vieram para fora, havia um leve vento que assoprava em seus corpos, trazendo uma sensação de alívio agradável.
...
O passarinho um dia crescerá, baterá suas asas e voará para o céu, percorrerá o seu próprio Caminho, e quando o mesmo atingir grandes alturas, ainda haverá algo acima, mas ignorante, ele olhará apenas para baixo, admirado com paisagens e a imensa altura onde se ver todos os horizontes... Essas foram palavras de Karion para Zefren enquanto estava deitado, do seu lado, Hila segurava sua mão, sempre com um sorriso no rosto.
— Hoje foi um dia muito legal, fizemos muita coisa, até jantamos em um restaurante chique, eu quero ir de novo da próxima vez, mas nessa hora, eu quem vou pagar pra vocês comerem o tanto que quiserem. — Zefren disse com um extenso sorriso no rosto.
Seus irmãos o encararam com expressões tristes, seus olhos emitiam nada mais do que tristeza.
Zefren percebeu isso, mas não pensou muito a respeito, ele achava seus irmãos estranhos, mas fazer o que? Pensou, eram a sua família, eles poderiam ser apáticos com outros, mas com suas famílias, sempre foram amorosos.
— Eu amo vocês, Mana, Mano.
O trio se abraça enquanto ainda estavam deitados, gargalhadas ressoaram pelo ar logo após.
— É, já está na hora de dormir, amanhã é um grande dia para você, vai ter uma viagem e tanto.
— Sim! 115 Mil Milhas de distância! Sinto frio na barriga só de pensar na distância.
Hila caiu na gargalhada mais uma vez.
— Eu vou enrolar a espada em um pano para você, mantenha-a bem guardada durante a viagem, você pode ser roubado quando menos se der conta, eu comprei um Coldre, vai ter que se acostumar com isso. — Karion parecia preocupado com essa questão.
— Sim Mano, tudo bem, é o presente que você me deu, a Espada Pratto e o Pingente de Girassol, vou guarda-los como se eu estivesse guardando vocês. — Zefren sorria enquanto dizia isso.
Havia um leve sorriso no rosto de ambos irmãos mais velhos, mas como sempre, pareciam tristes.
Assim, o frio bateu na porta, o clima se tornou agradável para dormir, e Zefren caminhou em direção ao seu quarto, muitas coisas se passaram em sua mente nesse momento, desde o dia em que ele despertou até hoje, houve muitas lutas e intrigas, dificuldades que quase o fizeram desistir.
Durante a madrugada, Zefren estava imerso em um sonho que se tornou constante nos últimos tempos, uma Bela Mulher de Cabelos Brancos, Olhos de cor Lilás, orelhas e cauda de Raposa o encarava. Mas como sempre, Zefren não conseguia se aproximar, nem mesmo olhar para o seu rosto. Embora este sonho frequente seja algo bom, isso também era estranho, mas ninguém poderia encontrar uma maneira de responder isso, parecia ser um delírio da sua mente.
Dia seguinte...
O Grande Pássaro já estava à espera, eram Vinte discípulos no total, e todos já estavam no Porto.
— Lembre-se, não se desespere para alcançar fundações maiores, existe muitas técnicas que podem auxiliar a fortificação de sua fundação, só rompa se realmente achar necessário ou alcançar a iluminação. — Alertou Hila.
— Tá bom, mana, eu vou me lembrar disso.
— As Seitas possuem muitas técnicas, contudo também há técnicas que irão lhe mostrar os Caminhos, não é necessário aprende-las logo de início, mas recomendo guarda-las, serão úteis no futuro. — Disse Karion.
— Ta bom... Acho que é a hora de ir. — Zefren encarou o chão com um olhar triste, e de repente abraçou os seus irmãos com uma dor em seu peito, ele chorou ao pensar em deixar sua família para seguir o seu Caminho, mas seus irmãos o apoiaram na decisão, era a escolha certa, eles falaram.
Não importa a ocasião, despedidas é como matar uma parte de seu coração, mesmo que não seja para sempre...
No porto, lá estava o Rei dos Céus, com a sua imensa grandeza, literalmente. Sua espessura abrangia vários prédios, com uma altura equivalente a um prédio de cinquenta andares, uma Ave Colossal!
Em suas costas havia uma enorme construção onde os discípulos eram abrigados, sim, havia muitos outros de muitas cidades.
O Grande Rei dos Céus tinha um outro nome.
— Esperança?
— Sim... Ou apenas coletor de talentos... Vamos lá?
Uma viagem de volta a seita duraria três dias e três noites, no entanto, ainda havia algumas cidades nas outras regiões para buscar novos talentos. Apesar da grande velocidade, ainda levariam cerca de uma semana para chegar à Seita.
Antes de embarcar, Zefren se despediu uma última vez de seus irmãos, sentindo um aperto em seu coração.
— Eu quero voltar!... Eu vou voltar o quanto antes, prometo! — Lágrimas escorriam de seu rosto.
— Zefren... Vá, não olhe para trás, não se preocupe... Você tem que ser firme... Tente não voltar muito cedo também, fortaleça-se primeiro. — Disse Karion.
Hila parecia relutante em falar, mas fez, pois sentia que se arrependeria se não fizesse.
— Não sinta medo... estaremos com você aonde quer que vá.
Karion e Hila o abraçaram após isso, e Zefren subiu as escadas logo após.
— Seja forte!
Este era um bom caminho para grandes conquistas, pensou Zefren, ali havia jovens como ele para todos os lados, e assim como ele, todos tinham sonhos, objetivos iguais, mas caminhos diferentes. Muitos estavam roendo suas unhas de nervosos, outros pareciam não se importar, mas em todo caso, esta era uma porta que se abriu, como vencedores, resultado de seus próprios esforços, eles deveriam se agarrar a esta oportunidade.
Muitos fariam história, outros lutariam contra grandes dificuldades e alguns seriam esquecidos.
O Grande Pássaro abriu as suas asas e desapareceu entre os céus, Zefren procurou por seus irmãos, porém não os viu, mas eles estavam lá, observando-o. Como o Grande Pássaro, ele deveria bater suas asas e voar para o Céu Infinito.
Mal eles sabiam que uma Nova Era se aproximava...
O Coração de Luz de uma Besta enorme no fundo do Grande Mundo começou a bater lentamente nesse momento, e um olho feroz e insondável se abriu para encarar alguém.
