"Viemos da Terra Divina? Não somos nativos desta terra?"
Chen Shi olhou, atônito, para o enorme navio que se tornara pedra diante de seus olhos.
Os antepassados dele haviam viajado nessas mesmas embarcações, cruzando o Mar das Trevas por dezessete longos anos até chegarem aqui?
Eles haviam desbravado as florestas, aberto canais, fundado cidades, enfrentado feras, erguido a chama da civilização e acendido o primeiro fogo neste continente sombrio.
Mas... por que o Novo Continente Ocidental havia perdido contato com a Dinastia Ming?
Quando os guerreiros de Ming chegaram aqui, será que o Verdadeiro Deus dos Céus também estava presente?
"Há outra coisa estranha. Meu método de cultivo, o Trigrama da Luz Pura, absorve o brilho das estrelas, mas não a luz do sol ou da lua. Só quando entro em templos como o do Senhor da Montanha consigo absorver essas energias. Será que a luz do sol e da lua nesses templos vem da nossa terra ancestral? Mas por que esses templos se perderam, soterrados no subsolo?"
A mente de Chen Shi girava confusa; ele não conseguia compreender o motivo.
Li Tianqing, ainda visivelmente emocionado, estendeu a mão para tocar o navio de pedra.
Mas no exato instante em que seus dedos quase tocaram a embarcação, o chão tremeu violentamente. Um rugido ensurdecedor de água irrompeu — o rio ressuscitou! As margens secas foram tomadas por ondas gigantescas que colidiam contra as rochas.
O leito seco, antes coberto por fósseis de peixes, tornou-se um rio vivo e caudaloso. Peixes enormes nadavam sob as águas, suas costas parecendo pequenas ilhas verde-azuladas.
Até as ossadas das feras aquáticas pareciam ter voltado à vida!
"Domínio dos Espíritos!"
O coração de Chen Shi disparou. Ele agarrou Li Tianqing e recuou velozmente.
O solo tremia como se estivesse vivo. O antigo leito do rio se cobriu de juncos e grama verdejante cresceu a olhos vistos.
Chen Shi girou o corpo e impulsionou-se para a frente, arrastando Li Tianqing.
Sua reação foi tão rápida que o avanço da grama não conseguiu alcançá-los.
Li Tianqing, levado por ele, sentiu o ar rasgar seu rosto. A força e a velocidade de Chen Shi eram surreais — como um canhão disparando uma bala flamejante. Cada passo deixava rachaduras no chão, e pedras explodiam sob seus pés.
"Isso é... mais rápido que um talismã de velocidade!" pensou Li Tianqing, impressionado.
Em instantes, eles estavam a mais de cem metros do navio.
Passaram correndo por um cervo atordoado que, sem entender o que via, virou a cabeça para observá-los. No momento seguinte, o tapete de grama o alcançou — e o animal virou pedra instantaneamente, congelado em sua última expressão.
Mas logo o avanço da vegetação perdeu força, enfraqueceu e desapareceu no ar.
Chen Shi pousou Li Tianqing no chão. As juncas e a água sumiram — apenas o silêncio permaneceu.
Uma gaivota sobrevoou-os, prestes a colidir com Li Tianqing — e simplesmente desapareceu como fumaça.
"No meio das montanhas, nunca se aproxime do que não entende."
Chen Shi falou com seriedade. "A curiosidade mata — muitos morrem por não saber respeitar o mistério."
Li Tianqing assentiu rapidamente, depois sorriu:
"Mas... com essa descoberta, o navio de pedra, meu avô e eu já temos algo para apresentar em Quanzhou!"
Chen Shi perguntou:
"A família Li de Quanzhou tem como decifrar o Domínio Espiritual desse navio?"
Li Tianqing balançou a cabeça:
"Talvez não. Mas, mesmo que não consigam, isso será o bastante para garantir nosso lugar. Meu avô, minha mãe e eu poderemos viver em paz."
Chen Shi sorriu. Estava feliz por ele.
Província de Xinxiang — Estrada de Posto
A estrada principal era larga e pavimentada com pedras azuis. No centro, sulcos marcavam o caminho das carroças; nas laterais, blocos de pedra recebiam os passos dos viajantes.
Ambos os lados eram ladeados por rios, contidos por diques de pedra. Quando a maré subia, soldados baixavam as comportas de ferro para impedir o avanço da água do mar.
No matagal ao longo do dique, uma ratazana gigante de Xinxiang procurava comida.
Essas criaturas, nativas deste continente, podiam pesar mais de cem quilos. No tempo da colheita de milho, bandos delas invadiam as plantações — quando mortas, era comum encontrar até vinte quilos de grãos em suas bocas.
Pragas durante tempos de fartura; alimento valioso em anos de fome.
Mas esta ainda era jovem, roendo raízes, quando ouviu um farfalhar — e três pequenas figuras saíram da moita.
A ratazana arregalou os olhos e pulou sobre elas.
Eram três bonecos de porcelana em forma de crianças, sujos e quebrados, alguns com rachaduras expostas.
Eles dispararam minúsculas armas contra o monstro, e um deles chegou a invocar uma pérola dourada — mas o roedor a engoliu de uma só vez.
Um dos bonecos foi agarrado e teve a cabeça mordida — o som foi seco, e a fera rangeu os dentes de dor. Não havia sangue, apenas cacos de porcelana.
Em instantes, dois deles estavam mortos.
Somente um sobreviveu, fugindo desesperado.
Correu até a estrada principal, escapando por pouco de rodas e cascos, até ver uma carruagem em alta velocidade. Saltou e agarrou o eixo de madeira, deixando-se levar até a capital provincial.
Quando chegou, soltou-se e caiu no chão com um estalo. Olhou o próprio pé — havia rachado.
Mancando, rastejou até a sombra de um beco.
Depois de algum tempo, subiu à janela de uma loja, segurando uma pequena tabuleta com as palavras:
"Sou a Segunda Senhorita da Mansão Xuan Ying, da família Zhao. Notifiquem meu pai, Zhao Yanlong. Grande recompensa a quem me ajudar!"
Logo uma multidão se reuniu.
As lágrimas escorriam pelos olhos de porcelana — era a Senhorita Zhao que Chen Shi enganara para entrar na olaria.
Ela havia sobrevivido ao inferno do forno, fugindo de operários enlouquecidos e feras. Suas companheiras foram queimadas ou devoradas no caminho.
E agora, depois de atravessar montanhas e rios, ela finalmente alcançara a capital.
Na Mansão Xuan Ying, Zhao Yanlong e sua esposa ouviam as lágrimas da filha.
"Minha pobre Minrou..." chorava a mãe. "Marido, você precisa fazer justiça por ela!"
Zhao Minrou — esse era o nome verdadeiro da Segunda Senhorita. Desde que fora resgatada, vários mestres tentaram reverter sua transformação em porcelana, mas sem sucesso.
Zhao Yanlong suspirou.
"Minrou, aquele jovem que te levou à olaria... ele se chamava Chen Shi?"
Ela assentiu e, com uma pena fina, desenhou o local da olaria num papel.
Zhao Yanlong observou, e um sorriso surgiu em seus lábios.
"Minha filha prestou um grande serviço. Essa olaria deve produzir artefatos funerários para o Túmulo do Verdadeiro Rei. Se encontrarmos esse lugar, encontraremos o túmulo!"
Ele acariciou a filha com ternura.
"Você mencionou uma estátua de porcelana com quatro cabeças e oito braços? E que os oleiros queimavam vocês para restaurá-la?"
Ela confirmou.
Zhao Yanlong gargalhou.
"Então o núcleo do Domínio Espiritual está danificado! É a chance da nossa família! O Túmulo do Verdadeiro Rei será nosso! E eu vingarei você, minha filha!"
Pouco depois, um servo trouxe um dossiê.
"Senhor, aqui estão todos os registros do vilarejo de Huangpo."
Zhao Yanlong folheou, depois levou Minrou até o jardim dos fundos.
Um velho de cabelos brancos escrevia sob um pavilhão, rodeado de talismãs e selos pendurados.
Os talismãs que desenhava eram complexos — unindo fu, lu e zhuan, três escolas que poucos dominavam sequer uma em toda a vida.
"Segundo tio," disse Zhao Yanlong, "preciso que vá ao campo matar um avô e um neto."
O velho levantou o olhar, e uma aura aterradora encheu o ar.
"Quem são?"
"Chen Shi e Chen Yindu, do vilarejo Huangpo."
"Entendido. Deixe o jantar me esperando."
Zhao Yanlong observou o tio partir, confiante. Esse homem era o mais poderoso da Mansão Xuan Ying.
"Com o Segundo Tio em ação, a vingança de Minrou está garantida. E eu... partirei em busca do Túmulo do Verdadeiro Rei."
O velho, chamado Zhao Cunyí, caminhava sem pressa. Mesmo após percorrer trezentos quilômetros, parecia revigorado.
Ao chegar à casa dos Chen, encontrou o portão aberto.
"O lar é simples, mas agradável," comentou.
No salão principal, uma mesa de altar com velas acesas e um idoso alto de costas, vestindo trajes fúnebres.
Zhao Cunyí sorriu:
"Comecei a cultivar aos oito anos, tornei-me estudioso aos doze, e aos dezenove já dominava as Doze Escrituras dos Talismãs, de autoria do Mestre Qianyang. Entre os praticantes da província, nenhum se iguala a mim."
O velho de costas tremia levemente, engolindo algo.
"Chen Yindu," continuou Zhao Cunyí, "seu neto ofendeu o Mestre Zhao. Vim pessoalmente resolver isso. Vire-se — não gosto de matar pelas costas. Somos ambos mestres de talismãs. Será uma boa luta."
O velho parou, levantou a cabeça lentamente.
"As Doze Escrituras dos Talismãs? O governo ainda as usa como material de estudo?"
Ele se virou — seu rosto era sereno.
"Quando escrevi esses volumes, eu tinha pouco mais de quarenta anos. Achei que já estivessem obsoletos."
Zhao Cunyí empalideceu, os olhos arregalados.
"Você é... o Eremita de Qianyang?! Ainda está vivo?"
Mas logo zombou:
"Impossível! Você não poderia ter um neto tão jovem! Está fingindo!"
Com um movimento, dezenas de talismãs saíram de suas mangas, brilhando intensamente.
Eram feitiços poderosos: o Talisman da Estrela do Norte, o Relâmpago das Cinco Direções, o Símbolo da Vida e Morte do Sul!
A energia espiritual se concentrou — o chão tremeu.
Mas o velho apenas murmurou:
"Não consegue manifestar um talismã com um único pensamento... e ousa se chamar o melhor?"
Num instante, símbolos surgiram ao redor de Zhao Cunyí — um simples selo de fogo. Nenhuma tinta, nenhum sangue, apenas pura vontade.
O corpo de Zhao Cunyí incendiou-se de dentro para fora. Ele gritou em agonia:
"Você é mesmo o Eremita de Qianyang!"
Em segundos, virou cinzas.
O velho suspirou.
"'Eremita de Qianyang' não é um título — é meu lugar de origem. E deixar o nome verdadeiro... é pedir pra morrer cedo."
Pegou uma pá e varreu as cinzas.
Na ala oeste, Li Jindou — ainda lutando contra a maldição da porcelana — o observava boquiaberto.
"Ele é o próprio Qianyang Shanren... o homem que escreveu as Escrituras dos Talismãs e criou o método Coração Celestial da Pureza!?"
