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Chapter 5 - A Diplomacia do Artífice

Saindo do vórtex de tinta, Renoir e Dumbledore surgiram diante do átrio principal do Ministério da Magia. O ar se distorceu, ondulando em cores desbotadas, sob o efeito do gommage, o mundo inteiro havia perdido a cor. As colunas, o chão, as pessoas, tudo pulsava em tons de preto, branco e cinza.

Alguns chefes de departamento permaneciam intactos, mas a maior parte dos bruxos estava imóvel, congelada no instante, porém com a consciência ainda viva. Eles ainda podiam ver, ouvir e sentir. Isso tornava aquele estado ainda pior.

Renoir havia tomado cuidado para poupar certas pessoas que reconhecia da história de Harry Potter. Como o pai de Rony, Arthur Weasley, a tia de Susana Bones, Amélia Bones, Barto Crouch e o futuro ministro após Fudge, Rufos.

O gesto era sutil, pois ele achava que seria mais fácil lidar com pessoas que conhecia, afinal seu tempo é limitado.

Por fora, parecia sereno. Por dentro, media cada segundo. O gommage duraria dois ou três minutos. Renoir esperava ser tempo suficiente para resolver o que viera resolver e causar a impressão que desejava.

Entretanto, o domo não estava estável. Renoir percebeu as falhas se espalhando na estrutura mágica como rachaduras em uma camada de tinta fresca.

'Magia Chromatica simples está bem, mas algo como o gommage deve ser usada com cuidado.' Pensou Renoir, ao perceber que seu controle sobre o Chroma não era tão absoluto quanto ele imaginou.

O gommage original, do verdadeiro Renoir, era uma obra de perfeição, um milagre de precisão e poder. Mas para o atual a execução havia se tornado... imperfeita. O controle fino que o verdadeiro Renoir possuía sobre o Chroma estava longe do dele.

As paredes vibraram em ondas quase invisíveis. A superfície do domo tremia, e o eco mágico parecia falhar por instantes.

Dumbledore notou imediatamente. Ele já havia visto o gommage antes e sabia como era quando Renoir o conjurava em sua plenitude. Naquela época, era algo impenetrável, tão estável e absoluto quanto o próprio Renoir.

Agora, parecia... vacilante.

'Então é isso' Pensou Dumbledore, num breve sorriso melancólico. 'Ele está tentando se conter.'

Um erro de julgamento, mas um erro carinhoso. Dumbledore acreditou que a instabilidade era o resultado de Renoir lutar contra a própria fúria, controlando a raiva.

'Minhas palavras o alcançaram, afinal.' Concluiu em silêncio. 'Mesmo depois de tanto tempo, ele ainda ouve meus conselhos.'

Mas ele sabia que essa calma era frágil.

Renoir deve estar à beira do limite, e quanto mais tempo passar, mais perto de explodir.

Renoir ergueu a bengala.

O Chroma se concentrou na ponta, tremendo, luminoso. O gesto bastou para fazer o ar vibrar, o chão respirar como se fosse vivo. Mas antes de bate-la no chão, Dumbledore com uma agilidade que não condizia com sua idade, deu um passo a frente e segurou seu pulso.

"Renoir." Disse, em tom sereno. "Creio que o gommage já cumpriu seu papel. Eles entenderam a mensagem."

Renoir o olhou brevemente.

"Por que não dissipar o domo e conversarmos como velhos amigos?" Continuou Dumbledore, com uma calma que contrastava com o caos do ambiente. "Tenho certeza que todos estão dispostos a ouvir. Não é mesmo, Cornelius?"

O ministro, que até então parecia petrificado, piscou algumas vezes, o suor escorrendo pelas têmporas.

"Mas é claro! Na verdade, estávamos aguardando sua chegada!" disse Fudge rapidamente. "Assim que soube do que os ministros anteriores haviam feito, convoquei os chefes de departamento e ordenei de imediato a devolução dos seus pertences apreendidos!"

As palavras saíram em cascata, polidas pela urgência do medo. Fudge foi cuidadoso, deliberadamente deu ênfase em "ministros anteriores" e "apreendidos", como se cada sílaba fosse uma tábua lançada para salvar a própria reputação.

Em poucos segundos, ele conseguiu jogar a culpa nos antecessores e transformar o roubo de seu legado em um gesto de apreensão administrativa. Não estava apenas se isentando da culpa, Fudge se apresentava como o herdeiro nobre de um erro alheio, o homem disposto a "corrigir o passado" ao custo de sua própria imagem.

Era uma manobra política perfeita, ou seria, se o público diante dele não incluísse Renoir Dessendre e Alvo Dumbledore.

Como bruxo, Fudge era medíocre, como político, quase genial. Infelizmente sua covardia estragava esse seu único talento.

E no fim, essa combinação fazia dele exatamente o que a história o lembraria, um homem habilidoso o bastante para sobreviver… e nada mais.

"Estávamos no meio do transporte de seus itens quando..." Fudge engoliu em seco, os olhos inquietos percorrendo o salão, como se buscasse uma saída invisível. "...quando o senhor chegou para uma visita."

O silêncio que se seguiu pareceu mais pesado que o ar.

Até o som do gommage, aquele sussurro constante de tinta viva parecia ter prendido a respiração.

Renoir respirou fundo, sentindo a tensão se dissipar pouco a pouco.

Seu plano original era simples, usar uma demonstração de magia Cromática para assustar o ministro, exigir seus pertences de volta e, em seguida, dissipar o domo como gesto de boa fé para Dumbledore.

Mas agora, Dumbledore e o próprio Fudge haviam resolvido a questão antes mesmo que ele pudesse agir.

Foi… inesperado.

E, de certa forma, aliviador.

O domo tremeu uma última vez, o som suave e úmido do gommage se espalhando como tinta lavada pela chuva.

Renoir baixou a bengala.

Então, lentamente, as cores começaram a retornar ao mundo.

O domo começou a se dissipar, como uma fina camada de tinta escorrendo de uma tela. As cores retornavam em ondas suaves, devolvendo à realidade o brilho original dos corredores.

Primeiro, um leve brilho dourado se espalhou pelas paredes, depois, o tom azulado das chamas nas tochas, e por fim, o vermelho vivo dos Bandeiras do ministério.

O Ministério da Magia respirou outra vez.

As estátuas de tinta, imóveis até poucos segundos atrás, começaram a se dissolver, devolvendo a forma e o movimento aos bruxos paralisados.

Os sons voltaram. Passos, respirações ofegantes, murmúrios confusos.

Alguns funcionários caíram de joelhos, exaustos, sentindo o peso da magia que os aprisionava. Outros se apoiaram nas paredes, pálidos, tremendo como se tivessem despertado de um pesadelo lúcido. Apenas alguns poucos conseguiram se manter de pé, atordoados, tentando compreender o que havia acabado de acontecer.

Para quem esteve dentro do gommage, a experiência havia sido indescritível.

Durante aqueles breves momentos, puderam ver, ouvir e sentir tudo, mas sem poder mover um músculo sequer. Sentiram seus corpos ceder, a magia estagnar, sua própria existência parecia escorrer como tinta.

E ainda assim, estavam ali, prisioneiros de si mesmos, impotentes.

Aqueles que haviam duvidado das histórias antigas agora compreendiam por que o nome Artífice havia se tornado uma lenda.

Renoir percebeu o medo nas pessoas, o tremor nas mãos, a hesitação no ar.

Mesmo sem admitir, ele se sentiu um incômodo silencioso com aquela visão.

Amélia Bones foi uma das primeiras a se recompor. O olhar dela varreu o átrio, o ar ainda parecia denso, carregado de resquícios do gommage.

No centro, Renoir Dessendre, apoiado em sua bengala prateada, observava tudo com serenidade. Ao seu lado, Alvo Dumbledore permanecia calado, mas com olhos atentos.

Amélia analisou rapidamente a cena. A interação entre o Chefe da Suprema Corte dos Bruxos e o Artífice lhe dizia tudo o que precisava saber. Dumbledore não estava ali para impedir Renoir, estava ali para mediar. Naquele momento ele era o controlador de danos.

'Ele concorda com as ações de Renoir.' Pensou. 'Ou não tem poder para impedi-lo. Provavelmente o primeiro.'

Rufus Scrimgeour também percebeu isso, mas como Chefe dos Aurores, sentiu o peso da responsabilidade.

Mesmo compreendendo a magnitude de quem estava diante dele, ele ainda era o homem encarregado de proteger o Ministério. Não podia simplesmente ficar parado e deixar tudo na mão do ministro incompetente.

Bartolomeu Crouch mantinha uma postura rígida, mas por dentro estava em choque. Seu rosto impenetrável era o último resquício da máscara de autoridade.

Quanto a Arthur Weasley, ele ficou aliviado assim que viu Dumbledore. Como membro da ordem da Fênix, Arthur tinha confiança inabalável nele. Acreditando que a situação seria resolvida pacificamente.

Mas nem todos haviam entendido o que estava acontecendo.

O silêncio no átrio foi quebrado pela voz aguda e furiosa de Dolores Umbridge. A mulher saiu da sala de reuniões bufando, o rosto ruborizado e o laço cor-de-rosa desbotado.

"O que estão esperando?! Prendam esse criminoso imediatamente!" Gritou ela.

Por um momento, ninguém reagiu.

Cornélios Fudge virou-se, sem acreditar no que ouvira.

Rufus Scrimgeour ergueu as sobrancelhas, e Elias Thorne simplesmente passou a mão pelo rosto, murmurando algo ininteligível.

Renoir inclinou a cabeça, curioso.

"Criminoso?" Murmurou, em um tom tão calmo que pareceu uma provocação.

Renoir não estava bravo, apenas levemente intrigado, como quem observa uma criança mexendo em coisas perigosas.

Ele observou a mulher estérica. Renoir lembrava perfeitamente de quem ela era, mesmo nos livros de Harry Potter, o nome Umbridge significava arrogância e falta de instinto de sobrevivência. Ela realmente havia ousado atacar um centauro no meio da floresta negra cercada por dezenas de outros centauros, felizmente ela acabou sendo resgatada por Dumbledore.

Renoir observou Umbridge caminhando em sua direção furiosa.

'De onde essa mulher tira tanta coragem?' Pensou ele 'Quem ela pensa que é? Dumbledore?'

Dumbledore respirou fundo. Ele conhecia bem Dolores Umbridge. Fudge, Amélia, Rufus e Elias trocaram olhares de puro espanto.

Dolores, no entanto, parecia alheia ao perigo.

"Vocês me ouviram!" Gritou novamente, com a voz estridente. "Prendam-no! Agora!"

Dos sessenta e dois aurores posicionados no átrio, apenas nove reagiram.

Cinco deles por reflexo, eram homens de treinamento rígido, incapazes de desobedecer a uma ordem superior, mesmo quando a ordem beirava o absurdo.

Os outros quatro, movidos por orgulho, se viram tomados pela vergonha. O orgulho dos que acreditam que haviam sido derrotados apenas por descuido, e não por inferioridade.

'É diferente agora.' Era o pensamento deles. 'Sem surpresa, frente a frente, somos mais fortes. Temos vantagem numérica.'

A ilusão de coragem cegou o instinto de sobrevivência.

Rufus tentou intervir, mas foi tarde demais.

"Parem! Ninguém lança..."

A advertência morreu em sua garganta.

"Estupefa..."

"Incarce..."

"Expeli..."

"Defin..."

Nenhum dos feitiços foi concluído.

Antes mesmo das palavras ganharem som completo, o ar vibrou.

Renoir sequer moveu o corpo. Apenas girou o pulso direito, e pela primeira vez, segurando a varinha.

Um lampejo frio percorreu o ar.

O silêncio se quebrou por um estalo agudo.

Nove aurores congelaram instantaneamente. Não em tinta, mas em gelo. Formas cristalinas, estátuas perfeitas, cada uma capturada no instante anterior ao disparo do feitiço.

As palavras que não foram ditas ainda vibravam entre os dentes dos petrificados. A transformação foi tão rápida e precisa que o som dos feitiços inacabados ainda ecoava no ar.

Renoir abaixou a varinha lentamente, observando o resultado.

Dumbledore pensou em impedi-lo, mas ao perceber que era um feitiço não letal, ele deixou isso como uma lição para o ministério.

Dumbledore olhou para Renoir, surpreso, não por causa do poder, mas pela execução.

"Novo feitiço?" Perguntou em voz baixa.

Renoir respondeu com simplicidade.

"Uma variação do Petrificus Totalus. Gosto de chamá-lo de Effigies Glacialis. A forma é diferente, mas o efeito é o mesmo."

O átrio inteiro estava em silêncio.

Os poucos que ainda tinham forças recuaram instintivamente. Dolores, por fim, ficou pálida. Sua voz morreu antes mesmo de tentar um novo comando.

Cornélio Fudge limpou a garganta, tentando disfarçar o terror na voz.

"Senhor Dessendre..." Começou, com uma voz que tremia mais do que ele gostaria. "Creio que já deixamos claro que... hã... o Ministério reconhece seus direitos sobre todas as obras e propriedades. Qualquer mal-entendido será corrigido imediatamente!"

Renoir virou-se em sua direção, os olhos calmos, mas o ar ao redor dele parecia pulsar.

Ele não estava realmente irritado, mas as pessoas precisavam acreditar que estava.

"Mal-entendido?"

A simples pergunta reverberou como uma ameaça velada.

Dumbledore lançou um olhar lateral, avaliando. Ele sabia que a paciência do seu amigo estava no limite.

Renoir respirou fundo, e sua voz carregava o peso de uma ameaça velada.

"Nesse exato momento, estou calculando se vale a pena duelar com Dumbledore... apenas para decidir se este Ministério merece continuar existindo."

As palavras não foram altas, mas o impacto delas foi devastador.

O ar vibrou.

Por um instante, todos sentiram que o gommage poderia voltar a qualquer momento.

Dumbledore não se moveu, mas sua varinha já estava em mãos.

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