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Chapter 3 - Chapter 3 — When Heaven Sends a Witness

O primeiro selo não se rompeu ruidosamente.

Não houve explosão, nem luz ofuscante, nem rugido de fúria divina.

Em vez disso, rachou como o gelo antigo — silenciosamente, pacientemente, com um som tão sutil que chegou aos ossos de Kael antes de seus ouvidos.

Uma fina fratura se espalhou pela faixa translúcida que prendia o pulso de Lirien, brilhando brevemente antes de se dissipar na quietude.

Kael cambaleou para trás, a respiração irregular.

A fome dentro dele recuou — não de dor, mas de contenção. Como se algo vasto tivesse dado um único passo à frente… e decidido esperar.

Lirien expirou.

Era a primeira respiração que dava em séculos.

O ar ao seu redor mudou, tornando-se mais pesado, mais denso. Não opressivo — concentrado. Como se a própria realidade estivesse prestando atenção à sua existência novamente.

"Muito bem", disse ela suavemente. "Você não o rasgou."

Kael limpou o sangue do canto da boca. "Você disse um selo. Eu quebrei um."

"E se você tivesse forçado mais", respondeu Lirien calmamente, "você já estaria morto."

O olhar dela se elevou — não para ele, mas para cima.

A lua perdeu o brilho.

Kael seguiu o olhar dela.

O céu acima das ruínas havia mudado.

As nuvens não flutuavam mais naturalmente. Elas giravam, lenta e deliberadamente, formando um vasto padrão circular no alto da montanha. Raios cintilavam no interior — não atingindo, não furiosos.

Aguardando.

Kael sentiu então.

Uma pressão diferente de energia espiritual.

Não força.

Julgamento.

"...Isso não é clima natural", disse ele.

Lirien sorriu levemente. "Não. Isso é protocolo."

O chão tremeu novamente, mas desta vez não era o santuário que reagia — era o mundo se preparando.

Uma linha apareceu no céu.

Não luz.

Não escuridão.

Uma divisão.

O espaço se abriu como um tecido cortado por uma lâmina invisível, e algo atravessou.

Era humanoide.

Alto. Esguio. Envolto em vestes sobrepostas de um prateado pálido que não refletiam nada ao seu redor. Seu rosto era liso e simétrico — perfeito demais, como uma escultura que nunca conheceu o tempo.

Seus olhos estavam vazios.

Não cegos.

Sem função.

Os instintos de Kael gritaram.

"O que é isso?", ele exigiu.

A voz de Lirien tornou-se plana. Séria.

"Uma Testemunha", disse ela. "Um dos observadores menores do Céu."

O ser desceu sem asas, sem esforço, parando a vários metros acima do santuário em ruínas. Olhou para Kael — não com curiosidade, nem hostilidade.

Com avaliação.

Uma voz falou, ecoando diretamente dentro do crânio de Kael.

> "Irregularidade detectada."

A visão de Kael ficou turva.

A fome despertou abruptamente, reagindo à presença como uma lâmina que reconhece uma bainha que despreza.

> "Fluxo Reverso confirmado."

"Degradação do selo registrada."

"Interação não autorizada com a Entidade Vinculada."

Kael cerrou os punhos. "Está falando dentro da minha cabeça."

"Claro que está", disse Lirien. "Você não tem autorização para usar os ouvidos."

O olhar da Testemunha desviou-se ligeiramente para o selo rachado.

> "Status da Entidade Vinculada L-03 alterado."

O ar ficou denso.

Kael sentiu uma pressão se instalar em seus ombros, empurrando-o em direção aos joelhos. Não era força física, mas conceitual. Como se a ideia de ficar de pé estivesse sendo rejeitada.

> "Correção necessária."

Um símbolo se acendeu sob a Testemunha, formando um sigilo enorme no céu. Os pulmões de Kael se contraíram.

A expressão de Lirien endureceu.

"Escute com atenção", disse ela. "Não se pode dialogar com essa coisa. Não se pode combatê-la usando métodos ortodoxos de cultivo. E ela não consegue compreender o que você é."

Kael rangeu os dentes. "Então, como eu a paro?"

Lirien olhou para ele.

"Você não para", disse ela. "Você está confundindo as coisas."

A Testemunha ergueu uma das mãos.

O mundo congelou.

O vento parou.

A poeira ficou imóvel.

Até mesmo os relâmpagos pararam no meio do brilho.

O próprio tempo pareceu hesitar ao redor do sigilo descendente.

Kael sentiu a fome aumentar — violenta agora, furiosa por ser contida por uma lei com a qual nunca concordou.

"Deixe entrar", disse Lirien bruscamente.

Kael hesitou.

"Não para fora", ela retrucou. "Para dentro. Dê espaço."

A pressão se intensificou. Kael gritou — não em voz alta, mas internamente, enquanto perdia o controle.

A fome se expandiu.

A Testemunha enrijeceu.

> "Erro."

O sigilo vacilou.

O espaço ao redor de Kael se distorceu, curvando-se para dentro em vez de colapsar para baixo. A poeira congelada estremeceu, tremendo em sua direção.

> "Caminho de correção instável."

Lirien sorriu pela primeira vez sem reservas.

"Pronto", ela sussurrou. "Não pode se ancorar em você."

A Testemunha reagiu instantaneamente.

Sua forma se tornou turva, dividindo-se em imagens sobrepostas, tentando se reposicionar — mas cada movimento distorcia, puxando-o ligeiramente para dentro como se estivesse preso em correntes invisíveis.

> "Classificação de anomalia aumentando."

Kael engasgou, com sangue escorrendo livremente do nariz.

"O que acontece se piorar?" gritou ele.

"O Céu enviará algo mais forte", respondeu Lirien calmamente. "Algo que não observa."

O selo rachado em seu pulso se inflamou novamente — e então se fraturou ainda mais.

Não por vontade de Kael.

Por proximidade.

A Testemunha recuou bruscamente.

> "Instabilidade da Entidade Vinculada aumentando."

> "Prioridade da missão atualizada."

Seu olhar vazio fixou-se em Kael.

> "Fonte da anomalia identificada."

O sigilo desmoronou.

Um raio caiu.

Não do céu, mas da própria Testemunha.

Kael reagiu instintivamente, a fome distorcendo o espaço o suficiente para o raio passar por ele, vaporizando a pedra onde ele estava.

Ele rolou, tossindo, a visão turva.

Lirien se debatia contra as amarras, a dor estampada em seu rosto.

"Kael!" ela gritou. "Decida!"

Outro raio se formou.

O Céu havia terminado de observar.

Kael se levantou, tremendo, os olhos ardendo.

"...Então não vou deixar terminar", disse ele.

Deu um passo à frente.

Direto para a Testemunha.

E a fome sorriu.

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