No pátio, Zhao Tianlong andava de um lado para o outro, inquieto e ansioso.
Desde que testemunhara as habilidades de Fang Ling, já não conseguia manter a calma.
Sabia que alguém como ele não permaneceria por muito tempo em sua pequena família Zhao.
Por isso, o único meio de se ligar a um homem tão extraordinário era através de sua filha.
"Menina, e então?" — perguntou ele assim que Zhao Xilian voltou.
Ela balançou a cabeça suavemente, com um olhar abatido.
"Pai, o jovem mestre Fang parece não ter nenhum interesse em mim." — respondeu.
Zhao Tianlong suspirou.
"Entendo…"
"Também não é de se estranhar. Alguém de origem tão grandiosa certamente já viu incontáveis mulheres."
"Nós, afinal, somos apenas gente de um lugar pequeno. É difícil atrair os olhos de alguém assim."
Logo em seguida, sorriu para aliviar o clima:
"Mas minha filha ainda é excelente! Não precisa se sentir desanimada."
Zhao Xilian apenas assentiu com um leve murmúrio e foi direto para o quarto — queria apenas dormir e esquecer o constrangimento.
Enquanto isso, Fang Ling fechava o último livro e se espreguiçava.
Tinha finalmente terminado toda a leitura da biblioteca Zhao. Era hora de partir.
Mas antes de ir, ainda havia algo que precisava fazer. Seu corpo desapareceu num piscar de olhos, e no instante seguinte ele já estava diante da residência da família Qin, no leste da cidade.
A família Qin possuía influência muito maior que a família Zhao e, nos últimos anos, vinha oprimindo-os constantemente.
Recentemente, uma disputa por uma mina espiritual recém-descoberta nos arredores de Liucheng havia levado a várias batalhas sangrentas entre as duas casas.
Fang Ling devia um favor à família Zhao. Por isso, antes de partir, pretendia "resolver" a família Qin.
Mas, no fundo, sabia que aquilo era apenas uma desculpa.
Ao chegar à mansão Qin, um tremor involuntário percorreu seu corpo — não de medo, mas de excitação.
Desde que matara o irmão sênior de Zhao Xilian naquela noite, a fera adormecida em seu interior havia despertado por completo.
——————————
Na manhã seguinte, o dia mal começava a clarear.
Zhao Xilian dormia profundamente quando ouviu batidas urgentes à porta.
Assustada, levantou-se e vestiu-se às pressas. Ao abrir, encontrou o pai — e nunca o vira tão agitado.
"Pai, o que aconteceu?"
Zhao Tianlong respondeu com voz grave:
"Ontem à noite, a família Qin foi exterminada!"
"Todos na residência — mais de mil pessoas — foram mortos!"
"O quê?" — Zhao Xilian levou a mão à boca, chocada.
"E ninguém percebeu nada? O patriarca Qin Hui era até mais forte que o senhor!"
"Que tipo de especialista conseguiria derrotá-lo sem dar tempo de reagir?"
"Poderia ser…"
Zhao Tianlong assentiu, confirmando suas suspeitas.
"Foi ele. Só pode ter sido ele!"
"Acabei de ir ao estúdio de palha — ele já partiu."
"Deixou apenas um bilhete na mesa, agradecendo à nossa família pela hospitalidade."
"Ele… foi embora?" — Zhao Xilian sentiu um leve aperto no peito, uma sombra de melancolia.
"Talvez seja o melhor. Afinal, ele nunca pertenceu a este lugar."
"Mas a destruição da família Qin… isso é uma grande notícia!" — disse logo em seguida.
"Agora, na cidade de Liucheng, nossa família Zhao dominará sozinha!"
"Sim, realmente. Esse jovem mestre Fang faz jus ao nome — suas ações são tão afiadas quanto seu espírito." — Zhao Tianlong comentou, admirado.
"Jamais imaginei que ele fosse exterminar toda a família Qin antes de partir. Eu só esperava que ele nos ajudasse a manter as aparências."
"Mas há algo estranho. Estive na residência Qin e percebi que não havia um único corpo."
"Se não fosse pelas manchas de sangue no chão, eu teria pensado que toda a família Qin simplesmente desapareceu da noite para o dia."
"Os corpos sumiram?" — Zhao Xilian murmurou.
"Provavelmente o jovem mestre Fang não queria que descobrissem sua identidade. Por isso, deve ter se livrado de todos os vestígios."
Neste mundo, até mesmo um cadáver podia 'falar'.
Certos especialistas eram capazes de identificar a origem e as técnicas de um cultivador apenas examinando as marcas deixadas nas vítimas.
——————————
Fora da cidade, em uma estrada distante.
Fang Ling fez uma breve pausa para descansar antes de continuar sua jornada.
O motivo de ter "eliminado" todos os corpos da família Qin era simples — eles haviam se tornado nutrientes para suas técnicas: a Espada de Sangue e a Arte Divina do Devorador.
Ele sabia que, no mundo exterior, esses tipos de técnicas eram consideradas artes demoníacas e proibidas abertamente.
Embora ninguém fosse capaz de rastrear sua origem, quanto menos rastros deixasse, melhor.
Durante o mês em que estudara noite e dia na biblioteca Zhao, aprendera muito — inclusive coisas que sempre quis saber.
O mundo era dividido em oito domínios:
Domínio Qing Oriental, Domínio Desértico Ocidental, Domínio Estelar do Sul, Domínio Marítimo do Norte, Domínio Divino Central, Domínio das Feras Demoníacas, Domínio Celeste dos Demônios e Domínio Sombrio Yin.
O Reino de Nanyang, onde estava agora, era apenas um pequeno país na fronteira do Domínio Estelar do Sul.
Dezoito anos atrás, uma tragédia abalou todos os oito domínios.
A Família Fang, o clã de cultivadores mais poderoso do Domínio Qing Oriental, foi exterminada em uma única noite!
Os registros que ele leu não explicavam claramente o motivo. Talvez nem mesmo quem escreveu soubesse a verdade.
A destruição de um clã tão poderoso, que governava um domínio inteiro, causara pânico em toda a terra.
Mas como não houve novos massacres depois, o tempo fez com que a história caísse no esquecimento.
Fang Ling, porém, não acreditava em coincidências.
Ele tinha exatamente dezoito anos.
E a família destruída — a mais poderosa do Leste — também se chamava Fang.
Ele não tinha mais dúvidas: era o último sobrevivente da Família Fang.
Quando criança, antes que o demônio interior fosse suprimido, ele sonhava todas as noites com as mesmas cenas —
— sendo arrancado, esfolado, com os ossos expostos e o coração dilacerado.
A dor era tão real que até hoje podia senti-la ao se lembrar.
Mesmo agora, às vezes, aquelas lembranças voltavam, vívidas como feridas que nunca cicatrizaram.
Mas Fang Ling não tinha pressa em buscar a origem de seu sofrimento, nem os nomes de seus inimigos.
Mesmo que os descobrisse, ainda não tinha força para se vingar.
Seu único pensamento era: ficar mais forte.
Durante aquele mês na biblioteca, também refletira longamente sobre o próximo destino.
E a estrada que seguia agora não era a que levava à Cidade de Lingtian.
Ele rumava para a Terra do Sangue, uma região selvagem na tríplice fronteira entre o Reino de Nanyang, o Reino de Tianming e o Reino de Lanyue.
Um território sem leis, sem governo, dominado apenas pela força.
Lá se reuniam foragidos e assassinos de todos os reinos próximos — e até de terras mais distantes.
Somente quem possuía poder de verdade conseguia sobreviver na Terra do Sangue.
E, de acordo com os livros, ali o mais forte podia fazer o que quisesse.
Era exatamente o tipo de lugar ideal para ele.
Aquela região ficava no extremo oeste do Reino de Nanyang.
Por isso, havia muitas obras sobre ela na biblioteca da família Zhao — até mapas detalhados das rotas de acesso. Fang Ling guardara uma cópia consigo.
Agora, contudo, seguia por um caminho diferente do que o mapa indicava.
Ele precisava, antes de tudo, encontrar uma montaria.
A viagem até a Terra do Sangue seria longa e árdua. Ter uma criatura veloz para acompanhá-lo seria o ideal.
E como Liucheng ficava em uma área remota, havia por perto uma região tomada por feras demoníacas.
Era exatamente lá que Fang Ling pretendia ir — para capturar uma besta espiritual veloz, digna de se tornar sua montaria.