Era noite e estava chovendo.
As estrelas brilhavam alto no céu, enquanto as folhas molhadas balançavam com o vento.
"Hfff, hfff..."
Em uma floresta repleta de vegetação, um menino parou ao lado de uma árvore, sua respiração irregular abafando os sons ao seu redor.
Sangue escorreu por suas roupas e partes de sua carne ficaram expostas. O cheiro de ferro enchia o ar. A água das nuvens lavou a sujeira grudada em seu corpo.
Os únicos sons audíveis eram sua respiração abafada e as gotas de chuva, mas não demorou muito para que isso mudasse.
Ao longe, ecoaram algumas vozes abafadas.
"Acho que o vi por aqui."
"Rápido! Não podemos deixá-lo escapar."
A audição do menino aguçou e seu coração começou a bater mais rápido. Dos seus olhos caíram lágrimas, disfarçadas pela chuva.
Naquele momento, ele percebeu que não havia saída.
Não há como escapar.
Como ele pôde? Ele era apenas uma criança — ferido e fraco.
Ele tinha feito tudo o que podia para sobreviver até agora, mas parecia que não era suficiente.
Memórias passaram por sua mente enquanto seu pequeno rosto se contorcia com lágrimas contidas.
Seu pulso esquerdo estava quebrado e todo o seu corpo estava coberto de cortes. Essa situação parecia marcar seu fim.
O menino não acreditava que pudesse ir mais longe.
O desespero tomou conta de seu corpo, mas ele ainda se recusou a desistir. Ao ouvir os passos se aproximando, ele se virou na direção oposta e começou a correr.
A cacofonia da grama molhada sob seus pés e a chuva batendo no chão ecoavam ao seu redor. As vozes não chegavam mais aos seus ouvidos.
No entanto, não demorou muito para que a realidade o lembrasse de sua condição.
"Splash!"
Enquanto corria, ele bateu o ombro esquerdo contra uma árvore e caiu.
Seu pé se torceu e ele agarrou a terra com as mãos cobertas de emoções sufocadas.
"Eu o encontrei! Ali!"
Mesmo quando as vozes cortavam seu coração como facas, ele as ignorava.
Ele se levantou, com o corpo coberto de lama, e continuou correndo.
Ele correu porque sua vida dependia disso.
Ele correu porque o desespero consumia sua mente.
Ele correu porque era a única coisa que lhe restava.
O vento frio arranhava sua pele, e o cheiro de ferro —seu próprio sangue— se misturava com o cheiro úmido da floresta.
Um som quase inaudível em meio à chuva entrou em seus ouvidos. Misturou-se com o barulho das gotas caindo.
"Huf, huf…"
Sentindo a possível fonte do som, o menino avançou com toda a força restante, suprimindo a dor que percorreu seu corpo.
Ele estava se aproximando.
Dez passos.
Nove passos.
A fonte do som se aproximava cada vez mais.
Sete passos.
Quando ele estava a poucos metros de distância…
"Swoosh"
Uma lança perfurou sua parte inferior das costas.
"AAAAAARGG!!!"
Sangue jorrou quando o menino caiu de cara no chão. Uma dor agonizante percorreu todo o seu ser, seus gemidos abafados pela chuva.
Mesmo com uma lança alojada em seu corpo, ele começou a rastejar em direção ao seu destino.
O som da água caindo ecoou pelo ar.
O destino do menino era um penhasco.
Uma enorme cachoeira que parecia incluir a morte nas linhas de vida de qualquer um que ousasse pular.
O abismo era tão profundo que parecia levar direto ao inferno.
O menino não sabia disso.
Ele não conseguia ver.
O único pensamento em sua mente era que a cachoeira era sua única fonte de salvação.
O som da água caindo, da chuva e daquela cascata imponente acalmou seu coração.
Naquele momento, ele percebeu—
Ele estava morrendo.
Seu coração, que bombeava sangue por todo o corpo, parecia desacelerar ao ritmo da água que caía.
A mente do menino ficou completamente em branco e, em sua audição, restava apenas um leve zumbido. Era como se todo o resto tivesse se transformado no pano de fundo do caos.
Sua última escolha estava diante dele.
Ele se rendeu ao mundo…
"NÃO O DEIXE IR!"
Esperando um último fragmento de misericórdia em sua vida miserável.