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Chapter 65 - Capítulo 65 – Poder Supremo

A carruagem do neto do Rei Xiao, junto com Li Jindou, foi lançada pelos ares e colidiu violentamente contra o penhasco com um estrondo. O veículo se despedaçou, e os quatro cavalos exóticos foram esmagados em pó. O cocheiro tentou se petrificar antes do impacto, mas o poder do Demônio-Bodisatva era avassalador — mesmo transformado em pedra, ele foi pulverizado!

Li Jindou conteve o sangue que subia à garganta, mas ouviu o som de porcelana se quebrando vindo de suas pernas. Ao baixar o olhar, viu que ambas haviam sido esmagadas pelo golpe do Demônio-Bodisatva.

Seu coração se encheu de tristeza. Sem as pernas, seu status na família Li despencaria. Talvez nem conseguisse mais proteger Li Tianqing e sua mãe.

'Por que estou pensando nisso? Talvez eu e Tianqing morramos aqui, nesta Montanha Qianyang...'

Com um impulso, Li Jindou ergueu-se no ar. Seis discos de jade Yin giravam ao seu redor, rugindo com força crescente. À frente, o Demônio-Bodisatva agarrou com uma única mão o qi da espada de Jin Hongying. Dezenas de lâminas espirituais colidiram e se fundiram, aumentando seu poder — mas o Demônio-Bodisatva as esmagou com um estalo.

O Lampião Celestial de Chifres de Bode brilhou, iluminando a alma demoníaca. A Avó Sha fundiu seu espírito primordial com o corpo divino e recitou o Talismã de Proteção dos Oito Trigramas Supremos. Pisou com força, e das trevas jorrou uma estrada de pedra azul, estendendo-se sob seus pés — as montanhas ao redor mudaram, e parecia que ela tentava arrastar o Demônio-Bodisatva para o Submundo.

“Venha comigo! Vamos juntos causar caos no submundo!”

A estrada alcançou os pés do Demônio-Bodisatva. A velha reuniu todo o seu poder, o rosto distorcido, sangue escorrendo pelos cantos dos olhos e da boca.

“Desça ao inferno comigo!”

Com um grito feroz, metade do corpo do Demônio-Bodisatva já estava afundado no submundo.

Aquele mundo era aterrorizante — das sombras ao redor surgiam mãos esqueléticas tentando arrastá-los. Nada lembrava a travessia pacífica do Rio Wangchuan de outrora.

Mesmo o Demônio-Bodisatva sentiu medo. Pisou com força, e a estrada azul estourou sob seu poder divino. A Avó Sha cuspiu sangue e caiu de joelhos, exaurida.

“Chi!”

Um lampejo frio atravessou o peito do Demônio-Bodisatva e retornou, mirando entre suas sobrancelhas — era a Espada Bóluó.

“Bóluó”, o pássaro carniceiro que empala outras aves e lhes devora o cérebro — foi daí que Xiao Wangsun tirou o nome da espada.

Essa lâmina era feita para perfurar corações e crânios. Nem mesmo monges com corpos de diamante escaparam de seu fio.

Mas, quando a espada estava prestes a atingir o ponto vital do inimigo, parou — suspensa, como se uma força invisível a segurasse.

Uma das faces do Demônio-Bodisatva fixou o olhar na espada; o corpo da lâmina começou a tremer, entortar, deformar-se.

“Você fundiu sua alma a essa espada? Homem e lâmina como um só?”

Outra face do demônio encarou Xiao Wangsun. O corpo do homem começou a se distorcer junto à espada, contorcendo-se como se uma força invisível o prendesse, obrigando-o a imitar os movimentos da lâmina!

“Não é à toa que conseguiu perfurar meu coração. Mas, ao colocar sua alma nela, me deu a chance de matá-lo.”

O peito do demônio pulsava — músculos se entrelaçavam como minhocas e sanguessugas, regenerando o coração ferido.

Com um estalo grotesco, torceu a Espada Bóluó — e o corpo de Xiao Wangsun se retorceu junto. Ossos quebraram, o sangue subiu à cabeça, e seu rosto ficou rubro, quase gotejando sangue.

“Zheng! Zheng! Zheng!”

Os seis discos de jade Yin vieram girando. Li Jindou, esgotando todas as forças, os lançou para cortar o Demônio-Bodisatva. Mas o demônio ergueu seis braços, abrindo as palmas. Os discos pararam no ar e começaram a encolher sob sua pressão divina.

Com uma sequência de explosões, os seis discos se despedaçaram.

“Quantos consegue deter?!”

Li Jindou gritou, enlouquecido, e incontáveis novos discos surgiram em torno dele. A quantidade era tamanha que até o Demônio-Bodisatva franziu o cenho. Com um olhar, no entanto, petrificou-o. O corpo de Li Jindou, sem pernas, virou porcelana e despencou do ar.

Usara todo o seu poder para criar os discos — e assim perdera a resistência à força do demônio. A petrificação se espalhou rapidamente.

Quando estava prestes a se espatifar nas pedras, Jin Hongying surgiu, transformando-se em um redemoinho escarlate que o envolveu.

Ela pousou com o peso, transformando-se novamente em mulher, mas antes que pudesse se erguer, o olhar do Demônio-Bodisatva a atingiu. “Droga”, pensou — tentou voltar à forma de manto vermelho e fugir, mas, no instante em que o tecido flutuou revelando seu ombro, congelou-se como porcelana, imóvel.

A Avó Sha, apoiada no lampião, tentou se levantar, mas também foi petrificada — uma pequena estátua segurando uma lanterna de chifres de bode.

“Agora... só resta você.”

O demônio olhou para Xiao Wangsun. Não o petrificou, apenas girou a Espada Bóluó, vendo o corpo do homem se contorcer junto. Aquilo o deleitava.

Adorava a sensação de torturar seres vivos.

De repente, sentiu um perigo imenso se aproximando — tão intenso que o fez recordar o dia em que fora capturado por “aquele homem”, quando era fraco e impotente.

Olhou ao redor — uma luz dourada cegava metade de sua visão. Dentro dela, figuras de deuses e imortais pairavam no ar. Para qualquer outro, seria uma visão divina; para ele, um suplício. De seus inúmeros olhos escorria sangue negro e viscoso.

“É uma magia...?”

Percebeu, então, a figura que caminhava sob a luz dourada. Rugiu, tentando torcer Xiao Wangsun e atacá-lo, mas sentiu uma energia estranha fluindo ao redor — não podia vê-la, apenas sentir.

Ela o cercava completamente.

Poderia romper a maioria das magias do mundo com pura força, mas como quebrar algo de dentro para fora, quando já se está preso dentro do feitiço?

Abandonou Xiao Wangsun e começou a golpear o ar. O poder emanado podia derrubar montanhas, mas o círculo mágico se reformava a cada destruição — primeiro com símbolos de fogo e água, depois com as Montanhas dos Cinco Elementos, o Forno dos Oito Trigramas, o Palácio dos Nove, os Doze Astros, as Vinte e Oito Constelações, os Trinta e Seis Céus, os Setenta e Dois Demônios...

A luz dourada cresceu. Mil e duzentas sombras de deuses desceram, esmagando-o repetidas vezes, destruindo seu corpo, moendo sua carne!

O demônio virou um amontoado de fumaça negra, carne pulsante e pele de porcelana azulada que se regenerava sem parar — um ciclo de destruição e renascimento interminável.

Xiao Wangsun recuperou a espada e fitou a cena — parecia um Grande Ritual Celestial de Luo Tian: mil e duzentos deuses e imortais do antigo império, formados por símbolos e escrituras sagradas.

Os talismãs eram magias em forma de símbolos; os selos, nomes de deuses e demônios; e as inscrições, a própria linguagem divina.

Os três — talismã, selo e inscrição — haviam se unido, criando o ritual que refinava o demônio diante de seus olhos.

“Poder Supremo...”

Xiao Wangsun limpou o sangue do canto da boca. “A última vez que vi algo assim... foi em Xijing.”

O Demônio-Bodisatva não podia contra-atacar.

Não era que não quisesse — era que não conseguia. Nenhum poder no mundo podia confrontar aquele ritual celestial.

Ele percebeu, então, que iria morrer — seria apagado, aniquilado. E sentiu medo, pavor, exatamente como as vítimas que ele mesmo havia destruído.

'Então é isso... eu também sou uma formiga.'

Riu alto, subitamente. “Chen Yindu! Então você também é um demônio! Também está morto! Você e eu somos iguais! Você teme a luz da lua porque ela consome sua mente... você luta contra o que é! HAHA! É fraco, Chen Yindu! Sua alma já se corrompeu!”

Preso dentro do ritual, mesmo sendo reduzido a pedaços, gargalhava. “Você reprime seus desejos, luta contra sua natureza! Está errado! Você já morreu, Chen Yindu! É um cadáver que respira — um espírito maligno! Deixe-me ajudá-lo a se libertar!”

De repente, as mil e duzentas divindades douradas começaram a se distorcer — seus rostos tornaram-se grotescos, seus corpos se alongaram como tentáculos, tornando-se monstruosos.

“Chen-shi foi afetado!” — pensou Xiao Wangsun, alarmado.

“Sim! É isso!” — o demônio gritava, em êxtase. “Liberte seus desejos! Não se contenha! Não reprima nada! Solte-se, e será como eu!”

As divindades do ritual se tornaram sombrias, corrompidas. A energia negativa as transformou em horrores ainda mais insanos que o próprio demônio.

Um trovão explodiu.

Do alto da cabeça de Chen Yindu, uma luz dourada disparou aos céus, chocando-se com o domínio demoníaco.

A luz começou a escurecer — tornou-se negra, espalhando-se pelo firmamento, expandindo o território da magia.

As bandeiras do Grande Selo dos Dragões Celestiais tremiam; os dragões dourados que o sustentavam começaram a perder força e se dissipar em faíscas de ouro.

O selo sagrado se rompeu.

Os soldados guardiões ficaram aterrorizados e galoparam para avisar o governador Zhao Tianbao.

Quando Zhao chegou, o domínio demoníaco já havia se expandido por quilômetros.

“Como... como isso é possível?!”

O governador ficou pálido, sem saber o que fazer.

“Sim! É isso mesmo!” — o demônio ria. “Não use moral ou rituais para se prender! O homem nasce sem leis, sem virtude — é o desejo que nos move!”

O ritual se dissipou. O Demônio-Bodisatva, reduzido a um punho de carne viva, ainda ria. “Cultivar o Dao é retornar ao estado primordial! O recém-nascido não conhece lei, moral ou compaixão! Liberte-se dessas correntes e conhecerá um novo mundo! Chen Yindu, você e eu somos iguais — somos reais, os ‘demônios’ que eles tanto temem!”

A voz de Chen Yindu saiu rouca, quase um delírio: “Está certo... buscamos o coração puro de um bebê... buscamos a liberdade absoluta... não deveríamos ser presos pela moralidade...”

O ritual se dissipou completamente.

O Demônio-Bodisatva, reduzido a fragmentos, renasceu — pequeno, do tamanho da palma de uma mão, mas ainda com quatro rostos e oito braços.

Riu junto de Chen Yindu — um alto, outro minúsculo, uma visão bizarra.

O coração de Xiao Wangsun afundou.

O demônio abriu quatro braços na cintura e proclamou: “A humanidade está corrompida e se tornou demoníaca — nós é que somos reais! Chen Yindu, abandone tudo, e será um ser supremo! Comece matando seu próprio neto—”

Antes que terminasse, o olhar do velho mudou.

“Matar meu neto?”

O demônio empalideceu. Uma sombra gigante elevou-se sobre ele — um pé negro, como uma montanha, caiu do céu.

“Matar meu neto?!”

Com um rugido, o velho esmagou o demônio até que virasse lama. Mesmo assim, ele tentou se recompor — e o pé desceu outra vez, empurrando-o para o submundo.

“Boom!”

O inferno inteiro tremeu. Um pé colossal esmagou o Demônio-Bodisatva, destruindo-lhe corpo e alma.

“Matar meu neto... vai pro inferno!”

A aura demoníaca de Chen Yindu explodiu, rasgando o domínio carmesim do inimigo, restando apenas um vazio escuro que continuava a se expandir.

Sua fúria crescia — dentes se alongavam, o desejo de devorar o consumia. Ele voltou o olhar para Xiao Wangsun.

“Chen-shi...”

Xiao Wangsun tremeu. O domínio negro já alcançava mais de cem quilômetros, chegando até Zhao Tianbao e seus exércitos.

Os cultivadores reunidos tentaram conter a expansão, mas foram empurrados para trás pela força absurda.

Desespero tomou conta de todos — aquele novo domínio era imbatível.

Então, de repente, ele parou de crescer.

“Ah... é você, Xiao Wangsun. Pensei que fosse um inimigo.”

A clareza voltou aos olhos de Chen Yindu. Ele sorriu.

Xiao Wangsun mal pôde respirar de alívio — e então viu, ao longe, um jovem de preto segurando um guarda-chuva de papel de óleo sobre uma rocha. Era o espírito da Grande Serpente Xuanshan. Junto com o guarda-chuva, contivera a loucura do velho.

“Douwa, você não pode mais permanecer entre os vivos”, disse Xuanshan.

“Xuanshan... me dê um pouco mais de tempo. Só alguns dias. Quero me despedir.”

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