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Chapter 52 - Capítulo 52 – Nós Não Somos Gado!

O Caldeirão Preto veio correndo, abanando o rabo. Durante o caos de antes, Chen Shi havia gritado para todos não se moverem, mas ninguém o ouviu — apenas o Caldeirão Preto ficou parado, imóvel.

Todos foram pegos pela criatura das linhas, exceto o Caldeirão Preto, que saiu completamente ileso.

Até mesmo a caixa de livros de Chen Shi ainda estava ao lado dele — não se perdeu no tumulto.

Chen Shi pegou pincel, tinta, papel e pedra de tinta, e pediu a Li Tianqing que desenhasse os símbolos que vira no corpo da criatura. Enquanto isso, ele misturava sangue de cachorro preto com cinábrio moído.

Ele observou atentamente o desenho de Li Tianqing, canalizou sua energia interior para a ponta do pincel e começou a traçar os símbolos no papel amarelo. O pincel se movia firme e fluido — logo, os padrões do corpo da criatura estavam reproduzidos.

Chen Shi segurou o talismã entre o dedo indicador e o médio e o sacudiu levemente. A energia espiritual dentro do papel, em contato com o cinábrio, produziu calor e o talismã começou a queimar.

Ele e Li Tianqing recuaram um passo. Ambos sentiram uma força misteriosa começando a agir.

De repente, do meio das chamas do talismã queimando, surgiu um som agudo e estranho — e uma pequena criatura das linhas rastejou para fora das cinzas!

Os dois ficaram paralisados. A criatura caiu no chão e, ao abrir a boca, lançou um fio pegajoso que grudou no Caldeirão Preto — e começou a puxá-lo para dentro da boca!

Ela era dezenas de vezes menor que o cachorro, mas ainda assim tentava engolir aquele enorme corpo.

O Caldeirão Preto deu um passo à frente e, com uma única mordida, esmagou a pequena criatura, que se dissolveu em cinábrio e sangue de cachorro preto.

Ele correu até o riacho e começou a lamber o próprio corpo, limpando o sangue e as manchas. Chen Shi e Li Tianqing permaneceram em choque, sem conseguir reagir por um longo tempo.

Os comerciantes, que haviam escapado por pouco, agradeceram de joelhos aos dois, repetindo palavras de gratidão sem parar.

Chen Shi balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos confusos, e disse:

"Antes mesmo de escurecer já há aparições de demônios… a montanha ficou extremamente perigosa. Vocês devem descer o mais rápido possível e procurar abrigo com a velha do vilarejo."

Li Tianqing também balançou a cabeça — tudo aquilo era absurdo demais.

Enquanto os comerciantes se preparavam para partir, ele cochichou:

"Xiao Shi… aquela criatura das linhas… talvez tenha sido criada."

Ele mesmo achou a ideia absurda, mas ainda assim a disse.

Chen Shi assentiu.

"Também me parece algo criado. Mas… é possível que alguém crie um demônio?"

Li Tianqing continuou:

"Se alguém pode criar essa criatura, então… não poderia também criar um 'Cem Bebês'? Ou um 'Crânio Errante'?"

Chen Shi respondeu, com o olhar sério:

"E se podem criar isso… poderiam também criar uma entidade demoníaca? Um espírito maligno?"

Os dois se entreolharam, com o coração acelerado.

Nesse momento, do lado da olaria, um feixe de luz vermelha irrompeu para o céu. A luz se espalhou, formando uma cortina carmesim que cobriu toda a Montanha Qianyang.

O céu tremeu violentamente — estava instável.

"Algo terrível aconteceu na olaria. Tianqing, paremos de especular e vamos logo para o vilarejo!"

Chen Shi chamou o Caldeirão Preto.

"Demônios aparecendo em plena luz do dia — isso nunca é bom sinal! Ficar lá fora agora é pedir pra morrer!"

Nesse instante, um dos comerciantes começou a chorar desesperado ao lado de sua carroça, recusando-se a partir.

Chen Shi se aproximou, e alguém explicou:

"Ele comprou um carregamento de grãos… mas todos viraram porcelana. Perdeu tudo, por isso está desesperado."

Chen Shi pegou um punhado de arroz. Era pesado — todo feito de porcelana.

Ele ergueu os olhos e olhou para as árvores da encosta. Pulou, arrancou algumas folhas e bateu uma contra a outra. Elas tilintaram como sinos.

As folhas também haviam virado porcelana.

O vento soprou, e o som metálico de milhares de folhas ecoou por toda a montanha — bonito, mas assustador.

As árvores viraram cerâmica. Os grãos também.

O que comeriam?

Li Tianqing percebeu o mesmo. Os dois, junto com o Caldeirão Preto, seguiram sombrios, acompanhando os comerciantes rumo à saída da montanha.

Ao sair da Montanha Qianyang, viram camponeses conduzindo bois e carroças — nas quais estavam idosos e crianças. As mulheres andavam ao lado, com medo estampado no rosto.

Eram moradores do vilarejo de Gangzi, conhecidos de Chen Shi.

"Tio Shuan, pra onde estão indo?" — perguntou Chen Shi.

"Estamos saindo… tentando atravessar a cortina vermelha." — respondeu o agricultor.

Chen Shi olhou adiante. Centenas de aldeões, com suas famílias, seguiam a mesma direção — todos tentando chegar à borda da cortina vermelha.

De repente, Li Tianqing ficou pálido.

"Essa cena… me lembra algo que li sobre uma catástrofe demoníaca! Sim… isso é uma Catástrofe de Nível Demoníaco! Estamos dentro de um domínio mágico! Parem! Todos, parem agora!"

Ele gritou o mais alto que pôde:

"Não adianta fugir! Nas bordas do domínio existe o Corredor do Retorno! Quando chegarem lá, serão jogados de volta — e se caírem do alto, vão morrer!"

Alguns hesitaram, mas outros continuaram andando, olhando para os que seguiam à frente.

Chen Shi também gritou:

"Está quase escurecendo! Quando a noite cair, os demônios sairão para devorá-los! Voltem para a vila! Amanhã pensaremos em uma saída!"

O medo funcionou — muitos pararam e começaram a discutir entre si.

Chen Shi suspirou de alívio.

"Tianqing, você entende dessas coisas… como saímos desse domínio?"

Li Tianqing empalideceu.

"Não há como sair. Todos morrerão, a menos que o demônio morra. Caso contrário, ninguém escapa. Pelo ritmo dessa ceramificação, a velha do vilarejo pode proteger os comuns por no máximo cinco ou seis dias. Depois disso, todos se transformarão em porcelana. Fora da vila, levará apenas dois dias… em quatro, nenhum humano comum restará."

Ele fez uma pausa.

"Hoje é o primeiro dia."

"E quanto tempo dura uma catástrofe demoníaca?" — perguntou Chen Shi.

"Enquanto o demônio viver, continuará se fortalecendo. A transformação nunca para."

Li Tianqing se agachou e desenhou um círculo ao redor de uma pequena erva já ceramificada, depois outro círculo maior em volta.

"O demônio se fortalece. Quando atingir o auge, o domínio se expandirá, engolindo mais terras."

Ele desenhou um círculo ainda maior.

"Assim… continuará crescendo. Quando alcançar mil li de raio, deixará de ser um domínio e se tornará uma Calamidade."

Demônio, Espírito, Maldição, Calamidade, Desastre.

O "demônio" é o terceiro nível.

Quando evolui para calamidade, torna-se um desastre natural — mil li de desolação, sem vida.

"Mas… nenhuma catástrofe demoníaca na história durou cem dias."

Li Tianqing se levantou.

"Há registros dizendo que, antes de cem dias, os Deuses Verdadeiros intervêm."

Chen Shi respirou aliviado.

"Então só precisamos sobreviver cem dias."

Li Tianqing balançou a cabeça.

"Quando um Deus Verdadeiro destrói um demônio, sua visão divina incendeia tudo em um raio de cem li — transformando tudo em lava. Nada sobrevive."

"Há apenas um jeito de viver."

"Antes de cem dias, devemos matar o demônio e impedir a transformação."

——

Catástrofe Demoníaca, Dia 1.

Chen Shi e Li Tianqing voltaram ao vilarejo de Huangpo. Os avôs de ambos ainda não haviam retornado.

Quando Chen Shi tentou cozinhar, percebeu que o arroz e a farinha também haviam virado porcelana.

"Parece que só restam aves e animais para comer."

Chen Shi disse:

"Vou até a casa da vovó Yuzhu pegar um pato emprestado. Amanhã caçamos e devolvemos."

Li Tianqing assentiu.

Momentos depois, ouviram gritos e barulho do lado de fora. A vovó Yuzhu, com uma faca na mão, corria atrás de um ladrão de patos — Chen Shi, que fugiu apressado e se trancou dentro de casa com o pato nos braços.

Li Tianqing ficou envergonhado ao ouvir os xingamentos poderosos da velha lá fora.

"Nunca fiz nada tão vergonhoso…"

"Vamos caçar amanhã e devolver — pronto." — disse Chen Shi, despreocupado. — "Tianqing, esquente a água pra depenar o bicho."

Li Tianqing suspirou e foi acender o fogo.

O Caldeirão Preto latiu duas vezes.

"Já é tarde da noite." — murmurou Chen Shi.

Aquela noite passou em relativa paz, exceto pelos sons de choro e discussão vindos de outras casas — alguns queriam fugir com as famílias, outros se recusavam.

Chen Shi não se intrometeu. Dormiram.

Ele não sabia quanto tempo havia passado quando, de repente, sentiu uma dor aguda no coração. Seu corpo começou a tremer violentamente.

Ele acordou e imediatamente ativou a técnica das Sete Refinas do Norte. O ataque foi leve desta vez, e ele conseguiu suprimir os espasmos.

Suspirou, voltou a deitar, mas não conseguiu dormir.

Vestiu um casaco e foi até o quintal. O céu estava todo vermelho — já não dava pra saber se era dia ou noite.

Antes, o sol e a lua marcavam o tempo, mas agora, com o céu coberto pela cortina carmesim, era como viver sob um enorme caldeirão avermelhado.

O Caldeirão Preto latiu novamente.

"Deve estar amanhecendo." — pensou Chen Shi.

Mas o mundo continuava vermelho.

——

Catástrofe Demoníaca, Dia 2.

Os avôs ainda não haviam voltado.

Do lado da olaria vinham sons de trovões retumbantes.

Chen Shi e Li Tianqing saíram para caçar. No caminho, encontraram um caçador do vilarejo, Liu Tianzhu — um homem forte, acostumado às montanhas.

Agora, porém, seus movimentos eram lentos. Quando tentou cumprimentar Chen Shi, sua voz soou estranha, misturada a um som agudo — como o canto de um pássaro.

Sua laringe havia se transformado em porcelana.

"Tianzhu, está perigoso demais lá fora. Volte pra vila. Eu caço e trago carne pra você." — disse Chen Shi.

Liu Tianzhu agradeceu, ciente de que algo estava errado com seu corpo. Virou-se e foi embora — lentamente.

Pelo caminho, viram muitos outros como ele, andando devagar, com movimentos travados.

Ao meio-dia, Chen Shi e Li Tianqing retornaram com três javalis, quatro ratos espirituais de Xinxiang, alguns coelhos e até uma lhama.

Graças à força de Chen Shi, arrastar tudo isso não foi problema.

Perto do vilarejo, encontraram pessoas na estrada — todas já transformadas em porcelana.

Ficar na vila retardava a ceramificação, mas sair para caçar acelerava o processo.

No portão, viram Liu Tianzhu. Ele ainda sorria, em pose de caminhada — mas já era completamente cerâmico.

"Tianqing… se matarmos aquele falso Buda demoníaco… eles voltam ao normal?" — perguntou Chen Shi.

"Devem voltar…" — respondeu Li Tianqing, hesitante. — "Os livros falam sobre as catástrofes demoníacas, mas nunca dizem como os civis sobrevivem nelas. Eu não sei se é possível."

Ele continuou:

"É sempre assim nas crônicas. Falam dos reis, dos nobres… mas quase nunca das pessoas comuns. Para eles, o povo é como gado — sem importância para ser registrado."

Chen Shi ficou em silêncio, depois largou as presas no chão e caminhou de volta.

"Mas nós não somos gado!"

Ele ergueu Liu Tianzhu nos braços e o levou de volta à sua casa.

Depois, saiu de novo — carregando, um a um, todos os aldeões que haviam virado porcelana, colocando-os cuidadosamente nas casas.

"Somos pessoas. Nunca fomos gado." — disse, irritado.

Li Tianqing, tocado, foi ajudá-lo. Passaram metade do dia recolhendo os corpos cerâmicos.

Depois, esfolaram e dividiram as presas, levando carne para cada casa. Na de vovó Yuzhu, Chen Shi deixou duas lebres a mais.

Os ratos espirituais, apesar de pragas, eram feras dotadas de energia espiritual — sua carne ajudava a retardar a ceramificação. Chen Shi distribuiu um pouco para cada família.

A vovó Yuzhu, segurando a carne e as lebres, lembrou-se das broncas da manhã e sentiu vergonha.

Em casa, disse à neta:

"De agora em diante, não chame mais Chen Shi de 'moleque inútil'."

"Mas… não foi a senhora que mandou eu chamá-lo assim?" — perguntou a menina, confusa.

A velha suspirou, envergonhada:

"Se eu disser isso de novo, pode me bater com o chinelo na boca."

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