Era tarde da noite. O silêncio dominava o apartamento de luxo, quebrado apenas pelo som distante da cidade adormecida lá fora. A luz da varanda estava acesa, iluminando suavemente a silhueta de Kang Jihan, que fumava em silêncio, encostado na grade. Seus olhos estavam baixos, os pensamentos dispersos.
Ele pegou o celular, desbloqueou com o rosto e abriu o aplicativo de segurança. No visor, a câmera do quarto dos gêmeos mostrava uma cena inesperada.
Aerin, com um pijama simples e um sorriso doce, estava sentado ao lado do berço. Ele segurava um livrinho infantil, lendo uma história para os meninos. A voz era calma, suave, e mesmo não sendo captada pelo vídeo, o carinho transparecia em cada gesto.
Os gêmeos estavam animados, mesmo com os olhinhos pesados de sono. Um deles balançava as mãozinhas com dificuldade nas palavras:
— I-isso... p-inguim!
O outro abraçava o travesseiro enquanto repetia:
— Hihi... Appa lê!
Kang Jihan tragou o cigarro, mas os olhos não saíam da tela. Algo nele se mexeu por dentro, algo que ele tentou enterrar por anos: calor humano.
Meia hora depois, a imagem mostrou os dois meninos deitados. Mas a câmera do quarto de Aerin revelou algo que fez Kang Jihan arregalar os olhos.
Era quase 3 da manhã quando os gêmeos, com passinhos pequenos e cambaleantes, saíram sorrateiramente do quarto. Um segurava a chupeta e o outro carregava o urso que ganhou no parque. Eles foram direto para o quarto de Aerin, abriram a porta devagar e entraram.
Sem acordá-lo, os dois subiram na cama e se aconchegaram de cada lado. Um deles deitou o rostinho no peito do Aerin, e o outro segurou firme a barra da camisa dele, como se fosse um porto seguro. A chupeta se mexia devagar enquanto ele soltava um leve suspiro.
Kang Jihan soltou o cigarro no cinzeiro e sussurrou pra si mesmo:
— Eles nunca fizeram isso... nem com babás, nem com a avó... Só com ele.
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🌅 Manhã seguinte
O sol entrou devagar pelas janelas. Aerin, ainda sonolento, se mexeu e... sentiu um peso em cima do braço.
— O quê...?
Ele abriu os olhos e viu dois rostinhos angelicais dormindo ao seu lado, um agarrado à camisa e o outro com a chupeta pendurada na boca.
— E-ei... o que vocês tão fazendo aqui? — ele sussurrou, em choque, com o coração derretendo.
Um dos gêmeos abriu os olhos lentamente e sorriu.
— M-Monstro ruim no q-quarto... A-Appa Aerin... f-fica...
O outro deu um beijo babado na bochecha do Aerin e murmurou com dificuldade:
— Aerin... b-brinca... nós... dormir...
Aerin engoliu seco. Era impossível não sorrir.
— Vocês... só me avisem da próxima vez, tá? — disse, acariciando os cabelos deles. — Vamos levantar. Vou fazer café da manhã. Banana e maçã, certo?
Os dois bateram palminhas deitados ainda, felizes com o plano. Aerin os pegou com cuidado no colo, um de cada lado, e foi levando até a cozinha.
No corredor, Kang Jihan apareceu. De braços cruzados, o olhar fixo nos três.
— Eles foram pro seu quarto de novo?
Aerin assentiu, sem jeito.
— Eles... apareceram do nada. Dormiram comigo. Eu juro que não fui eu que chamei...
Kang Jihan suspirou.
— Eu vi tudo pelas câmeras. — Ele olhou para os filhos, depois para Aerin. — Eles só fazem isso com quem eles confiam.
O silêncio ficou no ar por alguns segundos. Até que um dos gêmeos gritou animado:
— M-Maçã!! F-faz s-suquinho!
Kang Jihan deu um leve sorriso de lado.
— Vai lá, Appa Aerin... faz o suquinho.
Aerin ficou em choque com o apelido, mas os gêmeos riram, e naquele momento, ninguém mais queria fugir daquele lar improvisado.