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Feiticeiro do Norte

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Synopsis
Ele não sabia como sabia o nome daquele lugar, mas ele se fixou como uma lembrança enterrada: White Harbor, a joia cinzenta do Norte, última rota antes da gélida muralha. E com isso veio uma onda de espanto — porque aquele nome, e aquele cenário, pertenciam a páginas de um livro. Um livro que ele conhecia melhor que a palma da própria mão. As Crônicas de Gelo e Fogo.
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Chapter 1 - Capitulo 1- Karma Slytherin

Desconhecido POV

A dor não foi como um trovão. Foi um silêncio. Um vazio repentino. E então, a escuridão.

Quando os olhos se abriram novamente, o mundo havia mudado.

O teto não era de gesso nem de lâmpadas fluorescentes — era de madeira velha, escurecida pela fumaça de lareiras e pelo tempo. Havia o cheiro acre de urina humana, feno molhado e maresia. O ar estava gelado. As cobertas sobre seu corpo eram ásperas, manchadas, feitas de lã rústica. E sua pele... sua pele estava pequena demais. Braços finos, dedos curtos, pés desproporcionais.

Ele tentou gritar, mas apenas um som infantil saiu de sua garganta. A mente era a de um homem adulto — um bibliotecário morto entre estantes —, mas o corpo era o de uma criança.

Levantou-se cambaleante, sentindo o frio da pedra sob os pés nus. As janelas estavam cobertas por neblina, e lá fora, uma cidade costeira respirava ao som das gaivotas e do ranger dos portos.

Porto Branco.

Ele não sabia como sabia o nome daquele lugar, mas ele se fixou como uma lembrança enterrada: White Harbor, a joia cinzenta do Norte, última rota antes da gélida muralha. E com isso veio uma onda de espanto — porque aquele nome, e aquele cenário, pertenciam a páginas de um livro. Um livro que ele conhecia melhor que a palma da própria mão.

As Crônicas de Gelo e Fogo.

Jon Snow. Eddard Stark. Daenerys Targaryen. O Trono de Ferro. Os Sete Reinos.

Ele estava ali. Dentro da história.

— Isso é impossível... — murmurou com a voz rouca e juvenil.

E então, notou o bilhete.

Estava amassado em sua mão direita, papel grosso, letras negras como tinta fresca:

"Você recebeu um presente. Use-o bem.

Annihilation Maker — a força que gera monstros da sua imaginação."

O nome estalou em sua mente como um sino de bronze. Sacred Gear. Highschool DxD.

Uma série de fantasia japonesa, com artefatos sobrenaturais. Annihilation Maker era uma das mais perigosas — uma habilidade que permitia criar seres monstruosos com base em sua imaginação e força de vontade.

Ele caiu de joelhos. Seu coração disparava. Isso era loucura, sim... mas real demais para ser sonho. Real demais para negar.

Seus olhos buscaram um balde com água encostado na parede. Um rosto infantil o encarava de volta — pálido como leite, cabelos negros bagunçados e olhos violeta intensos, como ametistas brilhando sob o luar. Olhos que não pertenciam a nenhum nortenho comum.

Havia beleza ali, mas estranha. Quase mágica.

E havia mais: ele não lembrava seu nome. O nome que tivera antes.

Seu passado estava enevoado. A morte na biblioteca era clara — uma queda entre corredores apertados, livros despencando como cascatas. Mas seu nome? Seu rosto? Escapavam como fumaça.

Talvez aquele corpo fosse de outro. Talvez aquela criança tivesse uma história antes que sua alma a habitasse.

Com um suspiro lento, sentou-se no chão e falou consigo mesmo em voz baixa:

— Que nome você usaria, então?

O silêncio respondeu, até que uma lembrança antiga sussurrou em seu ouvido — algo de um universo mágico que também amava: Harry Potter.

Slytherin. O nome da casa dos ambiciosos, dos serpentes, dos desprezados.

E "Karma"... o eco daquilo que se devolve ao mundo, seja justiça ou punição.

— Karma Slytherin... — repetiu, e o nome assentou como um manto.

Era um órfão, sem lar, sem status, mas com um poder adormecido e olhos que brilhavam como pedras preciosas sob o luar nortenho.

Porto Branco não era lugar para fraqueza. Os lordes de Stark dominavam o Norte, mas mesmo os nobres estavam sujeitos aos ventos cortantes e à fome dos invernos longos.

Ele precisava sobreviver. Precisava entender aquele mundo. Precisava aprender o que Annihilation Maker podia fazer ali — em Westeros.

A primeira coisa que fez foi sair da cama e abrir a janela. O vento o golpeou como uma bofetada, mas também trouxe consigo o som do porto: trabalhadores gritando ordens, navios rangendo, cordas sendo puxadas, sinos soando.

Ali, na névoa, o mundo acontecia. Vidas continuavam. E ninguém notava o menino de olhos violetas que renascia naquele momento.

Do lado de fora, o nome de um estalajadeiro era gritado: "Rickett! Rickett, traga o salmão antes que o gelo o leve!"

Era tempo de inverno breve, o outono agonizava.

Karma sentia o calor subir por sua espinha. Não era medo. Era empolgação. O tipo de empolgação que antecede o caos.

Ele fechou os olhos. E pela primeira vez, tentou.

"Annihilation Maker."

Nada aconteceu. Mas ele sabia que não seria assim para sempre.

A criação exige conhecimento, intenção e imaginação. E se havia algo que um velho bibliotecário trazia consigo, era isso. Ele conhecia monstros. Criaturas de lendas, bestas de livros, horrores de eras esquecidas.

E Westeros... Westeros era um lugar que ainda não conhecia todas as suas sombras.

Mas logo conheceria.

3 Dias Depois Karma POV

O dia amanheceu cinzento, como todos os outros no Norte. O céu de Porto Branco era uma tapeçaria de nuvens, e o ar trazia o cheiro de peixe, sal e fumaça de lenha úmida. Karma saiu do orfanato improvisado com passos curtos, pés descalços enfiados em sapatos mal amarrados. Usava roupas grosseiras, herdadas de alguém maior, e sentia o frio cortar por dentro da gola puída.

Mas os olhos... os olhos não pertenciam a uma criança de sete anos.

Eles observavam tudo.

As barracas de peixes eram cobertas por panos grossos, protegendo o que podiam das moscas e do vento. Homens grandes, de barbas sujas e vozes roucas, gritavam seus preços como se a cidade fosse surda. Mulheres magras, de faces cavadas e mãos vermelhas, disputavam pedaços de bacalhau e enguias como se valessem ouro. Crianças mais sujas do que ele corriam entre as pernas dos adultos, rindo ou furtando.

Mais adiante, os navios.

Barcos de todos os tamanhos dançavam nas ondas do porto, com mastros altos como torres e velas dobradas como asas de morcegos adormecidos. Marinheiros cantavam, bebiam, descarregavam barris ou subiam cordas como aranhas. Alguns usavam espadas, outros tinham marcas em forma de âncoras ou cruzes no rosto. Havia cheiro de especiarias, rum, sangue e sal.

E havia os guardas. Sempre os guardas.

Homens com cota de malha e capas com o brasão da Casa Manderly — um tritão branco segurando um tridente sobre um campo azul-esverdeado. Patrulhavam em duplas, olhos atentos a tudo. A maioria ignorava Karma, mas um ou outro franzia a testa ao vê-lo sozinho, tão sujo quanto os cães de rua.

Ele caminhava com calma. Absorvendo tudo. Observando. Pensando.

*Essa vida não é para mim*, ele refletiu.

Ser um plebeu significava fome, frio, submissão. Viver à sombra de lordes, dependendo do aço de outros, morrendo jovem em guerras que não são suas.

Mas ser um lorde... ou um rei? Isso também não o atraía.

Karma lembrava dos livros. Reis se afogam em obrigações, cercados de bajuladores e inimigos. Lordes vivem presos às suas terras, acorrentados pela tradição, política e medo de perder o poder.

Não.

Havia algo mais.

*Esse é um mundo de mistérios, lendas, ruínas esquecidas, florestas encantadas, magias antigas e segredos no gelo. Não fui feito para me curvar. Fui feito para explorar. *

Quando o sol já ameaçava descer no horizonte, ele deixou Porto Branco pelos portões norte, onde poucos viajantes passavam. Um velho camponês o viu sair com nada além de uma bolsa vazia nas costas e sorriu, pensando que o pequeno logo voltaria chorando.

Mas Karma foi para além das muralhas. Caminhou por trilhas de barro e pedras, sentindo o mundo se abrir ao seu redor.

Então, parou.

Ali, entre arbustos secos e um céu acinzentado, ele se concentrou.

— Annihilation Maker... — sussurrou.

A energia veio como uma onda silenciosa, uma vibração que começou na espinha e se espalhou pelos braços e pelos dedos. Ele fechou os olhos, e em sua mente, desenhou a forma com detalhes: grande, forte, veloz. Um cavalo. Um corcel negro como a noite, com olhos vermelhos como brasas, cascos duros como ferro e uma sela de couro escuro com fivelas prateadas.

E então, ele abriu os olhos.

A criatura estava ali.

Real.

O cavalo negro relinchava baixo, o vapor saindo das narinas como fumaça de dragão. Era uma besta linda, selvagem, impossível. O chão sob seus cascos se partia levemente, como se não fosse feito para pisar no mundo dos homens.

Karma se aproximou, estendeu a mão e tocou seu flanco.

Quente. Vivo.

Montou com cuidado. A sela se ajustava perfeitamente. O cavalo não resistiu — era parte dele, criado por sua vontade.

O menino-homem, o viajante do impossível, respirou fundo.

— Vamos conhecer o Norte — disse.

E cavalgou. Para as florestas. Para os castelos. Para os perigos e as maravilhas. Longe de Porto Branco. Longe das correntes invisíveis que prendem os homens comuns.

Ele não era comum.

Ele era Karma Slytherin.

E sua jornada apenas começara.