A sensação foi de queda. Não uma queda simples, mas uma descompressão violenta, como se seu corpo estivesse sendo esticado e torcido através de um funil cósmico. Cores nunca antes vistas dançavam diante de seus olhos fechados: azuis que eram também verdes, vermelhos que sangravam para o roxo, e um brilho dourado que parecia cantar. O som, se é que se podia chamar assim, era um zumbido primordial, o sussurro de um universo nascendo e morrendo em simultâneo. Por um instante, Naruto sentiu-se nada, diluído no tecido do espaço-tempo. Era como ser o "vazio" que todos em Konoha o acusavam de ser, mas em uma escala que esmagava qualquer dor anterior.
Então, a queda parou. A vertigem cessou, e um silêncio diferente, um silêncio pleno, se instalou. Naruto piscou, sentindo a leveza de seu corpo, como se flutuasse. Ao abrir os olhos, o que viu o deixou sem fôlego.
Ele não estava em Konoha. Não estava em qualquer floresta, nem mesmo em qualquer planeta. Estava flutuando em um vazio imenso, adornado por um turbilhão de estrelas, nebulosas em tons de safira e esmeralda, e galáxias que se estendiam como braços luminosos em espiral. O brilho da Via Láctea que ele mal via em seu próprio céu era agora um mar de luz sob seus pés.
Mas havia algo mais. Seus olhos. Eles não eram mais os azuis pálidos de antes. Ao desviar o olhar para suas próprias mãos, viu um brilho dourado emanando delas. Ao tocar seu rosto, sentiu o liso de uma pele que parecia irradiar uma luz suave. E seu cabelo... ele estendeu a mão e um feixe de cabelo azul claro e etéreo deslizou entre seus dedos, vibrando com uma energia sutil que ele nunca havia sentido. Era como se ele tivesse sido refeito, purificado e preenchido por algo além da compreensão.
E suas roupas...
As velhas roupas laranja e pretas, desgastadas pelos treinos e pelas humilhações, não existiam mais. Em seu lugar, ele vestia uma túnica longa e fluida, de um branco imaculado que parecia absorver e refletir a luz das galáxias. Por baixo, uma roupa preta simples. Sobre a túnica, um manto pesado e majestoso em um tom profundo de azul, adornado com intrincados desenhos dourados que corriam pelas bordas e pelos ombros. Cada detalhe dourado cintilava, como se contivesse a luz de mil estrelas. Nos pés, botas brancas com detalhes dourados. Ele estava... diferente. Mais alto, mais magro, com uma presença que beirava o irreal.
"O que... o que aconteceu comigo?", ele sussurrou, e sua voz não era mais a de um garoto comum. Ela ecoou, não audivelmente, mas como uma vibração em todo o cosmos, um som que parecia se espalhar pelas estrelas.
Nenhuma resposta veio, mas uma sensação inquestionável inundou sua mente, uma compreensão que não precisava de palavras. Era um conhecimento primordial, implantado diretamente em sua essência.
Ele era o Deus da Criatividade.
A falta de chakra em seu universo natal não era uma maldição, mas uma tela em branco. Seu corpo não estava adaptado a um sistema de energia limitado, tornando-o o recipiente perfeito para algo muito maior, algo que transcendia as leis de um único universo. O vazio que ele carregava era, na verdade, a capacidade de gerar tudo a partir do nada.
E com essa compreensão, veio a verdadeira natureza de seu poder: A Criação através da Destruição, e a Destruição em prol da Criação.
Ele compreendeu que não podia simplesmente "fazer" algo surgir. Primeiro, ele tinha que imaginar o que queria. Esse ato de imaginação perfeita era o primeiro passo para a destruição do "não-existente" para dar lugar ao "existente". Se ele quisesse uma estrela, ele precisava conceber a estrela em sua forma mais pura, e essa concepção destruía o vazio onde ela deveria estar, permitindo que a estrela se materializasse. A destruição não era um ato de malícia, mas de remoção da não-realidade para dar espaço à nova realidade.
Da mesma forma, para destruir algo que já existia, ele precisava imaginar o vazio, ou o que viria depois da destruição. Destruir uma montanha não era apenas pulverizá-la; era visualizar a planície que a substituiria, ou o oceano, e essa visão apagava a montanha, substituindo-a com a nova forma. Cada ato era um ciclo interligado, uma dança infinita entre o que se foi e o que será.
Era um poder que operava na própria tapeçaria da existência. Naruto não sentia chakra; ele sentia a própria possibilidade.
Seu olhar pousou em um ponto distante no vazio cósmico. Ele pensou em Konoha, em sua família, naqueles que o julgavam. Uma dor momentânea de perda o atingiu, mas foi rapidamente substituída por uma estranha sensação de liberdade. Ali, no meio das estrelas, ele não era o Naruto sem chakra. Ele era... ele era o que quisesse ser.
Com essa nova percepção, uma vontade sutil se formou em sua mente. Ele pensou em um pequeno ponto, um corpo celeste. Não apenas pensou, mas visualizou cada molécula, cada grama de rocha e metal, a gravidade que o manteria unido, a cor da superfície. A imaginação foi tão intensa que as estrelas ao redor dele pareceram ondular.
No ponto para onde ele olhava, o vazio cósmico tremeu. As luzes distantes se reuniram, condensando-se. E então, com um suave e quase inaudível ping, uma pequena esfera rochosa e cinzenta se materializou, flutuando à sua frente. Era apenas um asteroide, mas era sua criação.
Naruto estendeu a mão, e o asteroide flutuou até sua palma. Ele observou a superfície irregular, a cor morta. Era um começo.
Então, ele imaginou outra coisa. Pensou em vida. Em um mundo vibrante e azul, pulsando com oceanos e continentes verdes, envolto em nuvens brancas e habitado por criaturas diversas. Ele não pensou em "chakra"; ele pensou em "existência". Ele pensou na luz do sol que alimentaria as plantas, na água que daria vida, no ar que seria respirado. Sua imaginação era vasta, ilimitada.
Enquanto ele imaginava, a pequena esfera em sua mão começou a tremer. A rocha cinzenta se fragmentou, não em pó, mas em energia que se reorganizava. De repente, uma luz ofuscante explodiu de sua palma, envolvendo-o.
Quando a luz diminuiu, o pequeno asteroide não estava mais lá. Em seu lugar, flutuando delicadamente sobre sua palma estendida, estava um globo azul e verde vibrante, um pequeno planeta, perfeito em sua forma e exalando uma aura de vida. Ele podia sentir a dança dos ventos na superfície, o murmulio dos oceanos, o pulsar das florestas. Era um mundo. Seu mundo.
Naruto olhou para o pequeno planeta em sua mão, seus olhos dourados agora brilhando com uma intensidade que rivalizava com as estrelas. Ele havia destruído o vazio da não-existência e criado um mundo. A partir do nada. A partir da sua imaginação.
Um sorriso lento e verdadeiro se espalhou por seus lábios, um sorriso que ele nunca havia mostrado em Konoha. Um sorriso de pura, incontestável satisfação e poder.
O vazio em Konoha o havia limitado. Mas o Vazio Cósmico... o Vazio Cósmico era a sua tela.