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Game of Thrones: Filho de Roma

Daoist983212
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Chapter 1 - Capítulo 1

Capítulo 1: Sob um Novo Céu

O crepitar das fogueiras era o único som que rompia o silêncio da noite. O vento frio assoviava pelas encostas da colina, ondulando as flâmulas vermelhas que carregavam o emblema da Águia de Roma. O luar, embora estranho e levemente arroxeado, banhava a terra com uma luz serena e prateada. A brisa carregava consigo o cheiro do couro das tendas, do ferro das armas, e da poeira quente de um dia longo.

Sobre uma elevação rochosa, um homem solitário contemplava o céu. Os olhos azuis fixos na imensidão noturna brilhavam com um misto de confusão e serenidade. Havia algo de errado ali, algo que nem mesmo sua mente treinada conseguia explicar.

— Estou sendo um tolo...— murmurou para si, com uma voz que ainda lhe era estranha. Profunda, firme, marcada pela autoridade que vinha com anos de comando.

Três dias haviam se passado desde que Alexandre, historiador e estudioso da Roma Antiga, morrera no conforto de sua casa, diante do jogo "Filho de Roma". Três dias desde que despertara sob um novo sol, com o corpo e a memória de Severus Secundo, seu avatar virtual, um comandante romano em pleno apogeu imperial.

O mais inquietante, porém, não era estar vivo, mas sim estar em um mundo cujas estrelas lhe eram completamente desconhecidas.

Isto não é a Terra. E também não é o jogo... As constelações são estranhas. Nenhuma corresponde ao que conheço.

Passara as duas primeiras noites observando o firmamento, buscando desesperadamente a Ursa Maior, a Andrômeda, a Cruz do Sul... mas nada. Tudo parecia novo, inexplorado, como um mapa sem nomes.

Tenho que olhar para frente.

Ajustou a capa sobre os ombros largos, sentindo o peso da armadura segmentada sobre o corpo. Cada movimento lhe parecia natural, como se tivesse nascido na pele de Severus. Olhou para baixo, em direção ao acampamento.

A Terceira Legião Taurus repousava em organização impecável sobre a encosta. As tendas dispostas em fileiras simétricas, as vias entre elas limpas, os guardas noturnos marchando em patrulha com tochas em mão. Aquela eficiência era fruto de disciplina militar romana em seu auge.

Cinco mil legionários, endurecidos pelo treinamento, divididos em dez coortes de quinhentos homens, cada uma subdividida em centúrias comandadas por seus centuriões. Quinhentos cavaleiros flanqueavam a estrutura da legião, representando a elite móvel. Havia ferreiros, médicos, escribas e engenheiros. Uma cidade itinerante de seis mil almas, todas sob o comando de um só homem: Severus Secundo.

Sou Severus Secundo agora. A Águia da Síria. Legatus Legionis da gloriosa Terceira Legião Taurus.

Respirou fundo. O ar era mais limpo, mais leve. E, ao mesmo tempo, mais selvagem. Como se aquela terra ainda pertencesse aos deuses antigos e indomados.

Apagou a fogueira com um chute firme, levantando uma nuvem de poeira que dançou na luz do luar. O silêncio se fez absoluto, exceto pelo ranger do couro de sua armadura quando caminhou até onde seu cavalo estava amarrado.

Era um garanhão preto, imponente, de olhos vivos. Um presente que havia recebido, no jogo, ao tornar-se Legatus. Um animal de guerra treinado, acostumado às linhas de frente.

Soltou a corda do tronco, montou com destreza, e puxou as rédeas com um leve estalo. O cavalo relinchou suavemente e começou a trotar colina abaixo.

A cada passo, a visão do acampamento crescia. Viu os estandartes com o emblema do touro dourado sobre fundo carmesim tremulando. Tochas marcavam a entrada principal do castrum, onde dois guardas ergueram os punhos em saudação ao reconhecê-lo.

— Ave, Legatus!— disseram em uníssono, com os punhos sobre o peito.

Severus respondeu com um breve aceno de cabeça. Os homens abriram passagem.

Cruzou as fileiras do acampamento, ouvindo o som das marteladas nas tendas mais distantes, o murmúrio de alguns soldados jogando dados nas sombras, o estalo de uma espada sendo afiada. O acampamento jamais dormia completamente.

Dirigiu-se à tenda principal, que servia como seu quartel e centro de comando. Era ampla, decorada com mapas, pergaminhos e um busto de Mársio, deus da guerra, no centro. Sobre a mesa, um plano topográfico esboçado da região onde haviam surgido.

Ainda não havia explorado nada além de uma ligação de rios e colinas. Mandara batedores pela região, mas nenhum retornara ainda.

Tenho que entender onde estamos. Esta terra... ela é virgem de Roma. Ainda não conhece a Ordem. Ainda não ouviu os passos das legiões.

Sentou-se, tirando o elmo e apoiando-o sobre o peitoral da armadura. Passou a mão pelo rosto. Estava barbeado, limpo, com a pele quente do vento da noite. Seus olhos fitaram a chama da lamparina próxima, e o brilho dançante refletia sua nova identidade.

Ali, naquela terra selvagem, sob um céu desconhecido, Severus Secundo não era mais apenas um personagem. Era um general de carne e osso, com seis mil homens sob seu comando e um mundo inexplorado a seus pés.

O destino da Terceira Legião Taurus estava em suas mãos.

E ele iria marchar.