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Chapter 3 - "As Crônicas de Everia: O Fio da Tecelã"Parte 3: Encontro com o Inimigo

Às vezes, você sente a encrenca antes de vê-la.Outras vezes, ela simplesmente pula na sua frente e começa a falar como se fosse um velho conhecido.O homem que saiu das sombras usava um manto escuro, de corte refinado, mas tão empoeirado quanto um livro esquecido. Seu sorriso era torto, meio preguiçoso, e os olhos — oh, aqueles olhos — brilhavam com malícia pura. Reconheci aquele brilho.Era o brilho dos que acham que sabem mais que você. E, pior ainda, dos que podem provar isso.⦁ Sethram. — O nome escapou dos meus lábios antes que eu pudesse me conter. Sethram, o Exilado.Antigo aprendiz da Academia de Everston, atualmente no topo da lista de "pessoas que Aethera gostaria de transformar em sapo, se a ética mágica permitisse".⦁ Eu sabia que mandariam você. — Ele deu um passo à frente, as botas sujando ainda mais as pedras da praça. — A famigerada Tecelã de Essências. Dizem que você consegue remendar até as rasgaduras do Véu...Sorri com a mesma doçura que reservo para traidores e sobremesas amargas.⦁ Você sempre gostou de ouvir boatos, Sethram. O que não mudou é seu talento para estar no lugar errado, na hora errada.Ele riu, como se eu tivesse contado uma piada particularmente boa.⦁ Ah, querida Aethera... — fez uma mesura exagerada — desta vez, eu sou o lugar errado.Antes que eu pudesse responder com algo espirituoso (ou mortal, dependendo do humor), Sethram ergueu uma mão e desencadeou uma torrente de energia sombria.Senti o ar rachar ao meu redor. Reflexo rápido: desenhei um escudo de essência — uma fina camada de pura realidade tecida — e desviei a maior parte do impacto. Ainda assim, fui lançada alguns passos para trás, o coração batendo como um tambor enlouquecido.Ele estava mais forte. Muito mais forte do que na época em que roubava ingredientes do laboratório de poções e culpava os estagiários.Eu precisava pensar rápido. Tecelar Essência era poderoso, mas também lento se eu quisesse fazer algo grande. E Sethram parecia disposto a acabar comigo antes do almoço.Então apostei na velocidade.Murmurei um feitiço menor, costurando as linhas de vida do ambiente: a umidade no ar, o calor nos paralelepípedos, a leve vibração mágica ainda remanescente do portal.Com um gesto rápido, transformei tudo isso em fios invisíveis, que se entrelaçaram em torno de Sethram como uma rede de seda encantada.Ele tentou rir de novo — e engasgou quando os fios apertaram.⦁ Você ainda usa truques de costureira? — ele rosnou.⦁ Chame como quiser. — Sorri de canto. — No final, é você quem vai ficar preso no tapete.Com um puxão da minha mão esquerda, os fios se fecharam como garras, paralisando-o por um instante. Instante suficiente para eu preparar algo bem menos educado.⦁ Sethram — murmurei, invocando uma esfera de pura essência concentrada —, da última vez, deixei você escapar.Hoje, estou com menos paciência.Mas claro que ele não seria derrotado tão fácil.Com um grito gutural, Sethram liberou uma explosão de magia negra, rasgando minha rede e recuando para a borda da praça.Ofegando, ele lançou um último olhar para mim, e naquele olhar havia algo mais do que arrogância. Havia medo.⦁ Você não sabe o que está vindo, Aethera. — Sua voz era um sussurro, mas ecoou na minha mente como um trovão distante. — Brookside é só o começo.Então ele desapareceu, envolvido em fumaça púrpura, deixando para trás o cheiro acre de magia corrompida.Fiquei ali, sozinha, ouvindo apenas meu próprio coração martelando no peito.Se Sethram estava certo — e isso me gelava a alma — algo muito maior do que um portal instável ameaçava Everia.E eu, a gloriosa Tecelã de Essências, acabava de ser oficialmente jogada no meio disso.

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