A fumaça se espalhava pelas ruas de Vallon, carregada com o cheiro metálico do sangue e o calor amargo das chamas conjuradas. O combate seguia brutal, violento, em um compasso impiedoso onde cada erro podia significar a morte. O estrondo das armas ecoava como trovões pelas paredes das casas, enquanto gritos de dor e choque preenchiam os vãos entre os telhados.
Alastor, com a Umbraeternal em punho, respirava com dificuldade. O bloqueio anterior contra o bandido do machado havia deixado seu braço latejando de dor. A Barreira das Sombras absorvera boa parte do impacto, mas não o suficiente para evitar os danos físicos. Ao seu lado, Erina aparava os golpes de um inimigo que se movia com uma leveza animalesca. E Sorya, concentrada, canalizava energia sombria para manter os inimigos ao redor sob pressão. Já Azriel, mesmo no nível 2, tentava ao máximo se manter ativo, disparando relâmpagos que, ainda fracos, ofereciam oportunidades valiosas para os ataques do grupo.
Mas algo mudou no ar.
Talvez fosse o orgulho ferido dos inimigos. Ou apenas um desejo cruel de mostrar superioridade.
Foi então que, no auge do caos, os quatro generais, como se tivessem chegado a um acordo silencioso, decidiram se apresentar. Como se a batalha não fosse apenas uma luta por território, mas uma exibição de domínio e ego.
O homem de adagas curvas, que até então se limitava a rir enquanto duelava com Erina, girou as lâminas com um floreio e se afastou um pouco. Ele sorriu de lado, como se estivesse prestes a contar uma piada suja.
— Callius. É como me chamam… — sua voz era rouca, como se as cordas vocais estivessem levemente danificadas. — Dizem que sou rápido demais pra ser lembrado, mas generoso o bastante pra deixar os últimos verem meu rosto.
Ele estalou o pescoço e lambeu a lâmina esquerda, deixando um traço de sangue fresco nela.
— Você, Elfa… está entre os poucos que conseguiram me ferir. Isso me anima. Quer dançar mais um pouco?
Erina, de olhos semicerrados, apenas reposicionou as adagas e respondeu com um tom frio:
— Já matei homens com nomes mais longos que suas chances de vitória.
Do lado oposto, o mago de fogo, Amir, manteve seu tom arrogante e teatral. Após desviar com um movimento elegante de um dos relâmpagos de Azriel, ergueu seu bastão para o céu e um pilar de fogo subiu em espiral, iluminando os arredores com uma luz intensa.
— Que plateia desagradável… sem cultura, sem reverência. Vocês sabiam que sou conhecido como Amir das Chamas Eternas no sul? Chamado de “O Último Pacto de Zin-Kael” em quatro reinos?
Ele caminhou lentamente, a cada passo pequenas brasas estalavam sob seus pés.
— Mas podem me chamar só de Amir. Afinal, vocês não viverão para usar meu nome mais de uma vez.
— Você fala demais. — respondeu Sorya, seus olhos verdes cintilando com desdém. — Como todo covarde que esconde o medo atrás de títulos.
Já o brutamontes do machado, que gargalhava a cada golpe e não parecia demonstrar sinais de cansaço, girou sua arma e bateu com força no chão, rachando as pedras sob seus pés.
— Hehehe! EU gosto disso! Fogo, faíscas, gritos! É como um festival!
Com um sorriso largo, ele ergueu o punho e o bateu contra o peito, fazendo a armadura retinir.
— Me chamo Grorun! O Machado Vermelho de Darhk-Stahl! Matei gigantes com este machado e derrotei um Ogro Cinzento com as próprias mãos! Não há paredes que me prendam, nem escudos que me parem!
Ele apontou para Alastor, olhos arregalados de empolgação.
— Mas você… você me bloqueou. Com aquela espada sombria. GOSTEI! Me faz querer ver como você grita quando eu acertar de novo!
Alastor manteve-se calado, o olhar endurecido pela dor e determinação.
O último, o homem da espada dentada, não sorriu, nem ergueu a voz. Era o mais quieto entre eles, com uma postura firme e olhos que pareciam entalhados em gelo.
Ele não parou de caminhar nem quando seus companheiros falaram.
Mas quando ficou frente a frente com Sorya, que mantinha uma distância calculada, ele finalmente falou, sua voz como um trovão abafado:
— Sou Beren.
A única palavra.
Sorya inclinou levemente a cabeça.
— Beren... não tenho dúvida de que é você quem mais nos dará trabalho.
Ele ergueu a espada, e um som de ranger metálico ecoou. Sem provocação. Sem glória. Apenas um silêncio carregado de ameaça.
O clima havia mudado. Não era apenas uma luta pela vila. Agora, era algo mais pessoal. Os nomes trocados haviam dado forma a uma rivalidade. Os generais estavam empenhados em esmagar o grupo de Alastor — e provar que eram superiores.
Erina trocava golpes velozes com Callius, tentando antecipar os movimentos imprevisíveis do assassino. Cada estocada dela era respondida por uma curva das lâminas dele, que dançavam como serpentes venenosas.
Sorya enfrentava Beren em um duelo de força e magia. Ele parecia imune a qualquer tipo de hesitação. Mesmo quando vinhas explosivas o imobilizavam por segundos, ele quebrava os feitiços com brutalidade e continuava a pressionar.
Azriel, mesmo com sua pouca experiência, tentava manter Amir sob vigilância. A cada vez que o mago conjurava um feitiço, Azriel criava janelas de contra-ataque com Lanças Estáticas e Campo Repulsivo, embora fracas, eram suficientes para atrapalhar a conjuração.
Alastor, por sua vez, agora enfrentava Grorun de forma direta. Seus ataques não conseguiam ferir profundamente o guerreiro insano, mas sua estratégia estava clara: evitar os golpes com esquivas laterais, usar as sombras a seu favor, e cansar o inimigo até que uma abertura surgisse.
A vila tremia com o confronto. As construções ao redor já estavam chamuscadas, e as poucas chamas ainda não extintas lançavam sombras dançantes nas paredes.
Os moradores, escondidos em porões e celeiros, aguardavam em silêncio, cientes de que uma guerra acontecia a poucos metros deles.
Alastor sentia a adrenalina queimar dentro do corpo. O cansaço começava a pesar, mas o olhar determinado de seus companheiros mantinha sua chama acesa.
— Vamos continuar! — gritou ele. — Por essa vila, por cada um de nós… eles não vencerão!