Cherreads

Chapter 36 - Poverty

Abri os olhos e me vi na escuridão. Inúmeros olhos sombrios me observaram.

Um arrepio percorreu meu corpo ao ouvir passos. Do vazio, uma criança emergiu — com as roupas curtas rasgadas, a pele ferida e sangue seco grudado nela. Ele me encarou com um olhar vazio.

Como se orquestrados, todos os olhos das sombras se aproximaram, revelando os rostos daqueles que eu havia matado.

"Par. Pare. Pare!"

Gritei, cambaleando para trás, desesperada para escapar da culpa, da tristeza. Mais olhos apareceram e, com eles, minha última esperança de permanecer sã se esvaiu.

Minha visão ficou turva. A observação na minha barriga ficou mais forte, roubando minha respiração — mesmo neste sonho.

A escuridão surgiu Catherine. Linda, como sempre. A mancha de sangue lavava suas roupas, a tristeza pesava em seu rosto. Ela era a única que não me olhava com ódio.

A culpa foi minha.

Então veio Aqua, ensanguentado, mas calma, com os olhos fixos em paz no vazio. Atrás dela apareceu Victor — com os dois braços decepados, os danos expostos, seu olhar ardendo de fúria ao cair sobre mim.

Desabei em prantos, ofegante, enquanto a observação me consumia. Minha mente não funcionava mais.

"ME DESCULPE! ME DESCULPE! NÃO SEI O QUE FAZER PARA VOCÊ ME PERDOAR! POR FAVOR, NÃO ME DEIXE SOZINHA, EU—"

Uma voz distante cortou o caos.

"FILHO! FILHO!"

Abra os olhos novamente. Dois ombros pequenos e tensos tremiam diante de mim. Olhei para o rosto de uma mãe — com lágrimas escorrendo enquanto ela me sacudia.

"Está tudo bem. Sua mãe está aqui."

Não consegui mais me conter. As lágrimas que eu havia enterrado por tanto tempo jorraram — tristeza, erros, todos os sentimentos que eu havia trancado. Ela chorou comigo, repetindo as mesmas palavras.

"Está tudo bem. Está tudo bem."

Então ouvi passos curtos. Um abraço gentil, me preocupado por trás e eu desabei.

Virei-me e vi uma garotinha, com os olhos arregalados, cheios de preocupação, e lágrimas ameaçando cair. Ela me abraçou com força e sussurrou em meu ouvido:

"Nós te amamos. Você nunca estará sozinho."

Depois de um longo tempo, a mãe se declarou, afagou minha cabeça e levou a menina para outro cômodo, como se quisesse me dar espaço para encarar meus sentimentos.

Meus olhos ficaram turvos novamente, mas rapidamente enxuguei as lágrimas.

Quantas pessoas têm que matar para me tornar rei?

Quantas famílias, vidas e almas terão que esmagar para chegar ao trono?

Deixando esses pensamentos de lado, levantei-me e caminhei para clarear a mente.

Parei em um beco estreito onde uma multidão estava reunida.

A visão diante de mim me encheu de nojo: um corpo despedaçado, as partes interessadas para formar palavras que eu não consegui entender.

"Saia da frente!"

De repente, uma multidão se dispersou da cena do crime. Soldados armados se aproximaram, suas espadas brilhando sob a luz fraca, formando um círculo ao redor do corpo mutilado. Uma mulher deu um passo à frente, com o olhar fixo na cena grotesca.

Ela franziu as sobrancelhas e abriu o cabo da arma com mais força.

"Revistem todos. O sangue ainda está fresco... ainda deve estar aqui."

Os soldados hesitaram, olhando para as pessoas frágeis e famintas diante deles.

"É uma ordem."

Ao ouvir suas palavras, eles avançaram, empurrando homens e mulheres contra as paredes, destruindo a multidão com eficiência implacável.

No outro extremo da rua, avistei minha irmã saindo de casa. Ela congelou, entendeu na hora e voltou para dentro antes que alguém percebesse. O interrompe-me invadiu por um breve segundo.

Um soldado me agarrou e me jogou contra a parede com força suficiente para fazer meus ossos tremerem.

"Diga-me o que você sabe, verme."

Seu punho atingiu meu plexo solar, tirando a ar dos meus pulmões. Inclinei-me para a frente, ofegante, mas meus olhos vagaram além dele.

Eu vi os outros — os pobres, os fracos, os famintos — pessoas que não estavam na melhor situação do que eu, catando lixo, sendo tratadas como menos que humanas.

"Por que você faz isso?", perguntou, com a voz trêmula, mais uma forma de liberar a angústia do que uma pergunta.

Qual é a diferença entre nós e os animais? Não... somos piores.

O soldado deu um sorriso irônico.

"Porque nós podemos. Vocês só vivem por nossa causa — nosso suor, nosso dinheiro."

Outro golpe me atingiu, mas não resisti. Queria entender sua crueldade.

"Vocês são nossos escravos."

Ele tirou minha cabeça pelos cabelos, forçando-me a testemunhar o caos. Soldados perseguiam idosos, crianças e mulheres. As pessoas eram espancadas, cúspides, descartadas como lixo. A raiva cresceu dentro de mim, meu punho cerrado com força.

Olhe, veja. Seus lábios se curvaram em um sorriso irônico enquanto sua mão deslizava para a bainha da espada, desafiando-me a desafiar sua "lei".

No momento em que o soco estava prestes a acertá-lo, alguém o atingiu, jogando-o para o lado. Pisquei em choque — era o mesmo homem que visitou minha casa dias antes.

Ele caiu de joelhos, curvando-se profundamente e com a testa pressionada no chão.

"Perdoe meu irmão. Ele sabe um pouco do mundo exterior."

Seus olhos se voltaram para mim, aprimorados de confiança.

"Nós o protegemos demais."

O guarda zombou, instruído o salto da bota contra a cabeça do homem, depois voltou seu olhar para mim com um sorriso torto.

"Eu o perdôo."

O homem extrai os olhos com um lampejo de esperança — apenas para que cuspe a atingisse o rosto.

"FIIIIIIIIII!"

Um assobio agudo cortou o ar. Ele se virou na direção do som e então se voltou contra mim com um último soco.

"Você teve sorte hoje. Mas eu vou te encontrar de novo."

Enquanto os guardas corriam de volta para o comandante, abaixei-me para ajudá-lo a se levantar do chão. Em vez disso, ele me agarrou pelo colarinho e me jogou contra a parede.

"Você é louco?", latiu ele, com os olhos vermelhos e a respiração ofegante. Ele me empurrou novamente, sua raiva transbordando.

"O que você acha que teria acontecido se você tivesse batido nele? Hein? ELES TERIAM IDO ATRÁS DE VOCÊ — E MATADO SUA FAMÍLIA INTEIRA, SEU IDIOTA!"

Sua voz falhou de fúria.

"Eu levei cuspe na cara para salvar sua pele inútil."

A vergonha de me invadir. Eu tinha agido como uma criança, cega ao perigo.

"Desculpe, eu..."

"Você me deve uma."

Ele me interrompeu, com um tom áspero, sem deixar espaço para discussão. Com um gesto curto, fez sinal para que eu o seguisse.

Nos afastamos, aprofundando-nos na floresta, até que as árvores se abriram para revelar um poço escondido entre os arbustos.

"É aqui que falamos de negócios", disse ele friamente. "Só aqui. Se você disser uma palavra sobre isso lá fora, nós matamos você — e qualquer outra pessoa que saiba."

Ele começou a descer os degraus de pedra, sua voz ecoando lá de baixo.

"Venha."

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